Com o que sonham as mulheres brasileiras? Pesquisa revela
Levantamento aponta desejos por viajar e consolidar carreira, além de indicar questões que impactam saúde mental feminina

Na véspera do Dia Internacional da Mulher, celebrado neste sábado, 8, uma pesquisa realizada pelo Movimento Sonhe Como Uma Garota e o Instituto Think Olga mapeou a relação das mulheres brasileiras com seus sonhos e os impactos das desigualdades de gênero para a realização de suas metas pessoais e profissionais. De acordo com o levantamento, que contou com 1.080 participantes com mais de 18 anos, 75% das mulheres já desistiram de algum sonho, das 70% abdicaram por falta de recursos financeiros.
Ao recobrar as memórias de infância, mulheres de todas as faixas etárias falaram que seu maior sonho era viajar pelo mundo, desejo que se manteve na atualidade entre 67% das jovens de 18 a 29 anos e 59% nos grupos de 30 a 49 anos e mais de 50 anos. Na sequência, aparecem ter estabilidade financeira e construir uma carreira profissional sólida. A margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos e o índice de confiança é de 95%.
“Todas as mulheres, independentemente da idade, raça, classe social ou região do Brasil, têm como sonho viajar, algo que vem da sede de conhecimento, de entrar em contato com pessoas diferentes e outras culturas”, explicou, em coletiva nesta sexta-feira, 7, Maíra Liguori, diretora do Think Olga. Mas não só isso. “Também é uma forma de escapismo da sobrecarga.”
Embora viajar pareça ser apenas uma forma de diversão em uma leitura mais superficial, esse sonho reflete o objetivo de ter liberdade diante do contexto de restrição imposto às mulheres.
Afinal, são elas que desempenham a tarefa de cuidado dos pais, filhos e da família como um todo. Inclusive a do parceiro, em algumas situações. Também cabe às mulheres, muitas vezes, fazer escolhas profissionais para assumir tantos papéis, sem contar as tantas oportunidades que são direcionadas a homens ou lhes são negadas apenas pelo gênero.
“As mulheres não têm liberdade. Temos as desigualdades de gênero e a sobrecarga de cuidado impede compatibilizar o trabalho remunerado com o não remunerado. Além disso, as mulheres sofrem com a violência. O Brasil tem a quinta maior taxa de feminicídio do mundo. Isso é escandaloso”, afirma.
Soma-se a isso o fato de que elas têm salários mais baixos. No Brasil, segundo o último Relatório de Transparência Salarial e Critérios Remuneratórios, apresentado pelos ministérios das Mulheres e do Trabalho e Emprego, as mulheres ganham 20,7% menos do que homens em 50.692 empresas com 100 ou mais empregados.
“A falta de dinheiro é uma das causas de problemas psíquicos das mulheres e isso tira os sonhos delas. A pessoa precisa ter o básico para poder sonhar mais”, diz Maíra.
E também há carência de suporte. Entre as mais jovens, 25% já deixaram um sonho de lado por falta de apoio da família. Entre todas as entrevistadas, o índice foi de 19%.
Impacto do machismo
O machismo é um fator que tolhe os desejos das mulheres e afeta a realização de sonhos. Essa forma de discriminação foi citada por 46% das entrevistadas, que também lembraram da segregação por questões financeiras.
“As mulheres não estão alheias ao que está afetando seus sonhos, tanto que 64% acreditam que as políticas públicas precisam melhorar para que elas possam ter trabalho e empreender, 59% defendem investimento em capacitação e educação, e 52% precisam de mais segurança e ações contra a violência contra mulher.”
São sonhos que podem mover o mundo para ser um lugar mais acolhedor, seguro, igual e com espaço para os desejos das futuras gerações. /COM INFORMAÇÕES DA AGÊNCIA BRASIL