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Como a vacina de Oxford deverá ser aplicada no Brasil

Com a confirmação final da eficácia, a previsão é de que 30,4 milhões de doses já possam ser aplicadas a partir de janeiro no país

Por Da redação
Atualizado em 20 jul 2020, 20h17 - Publicado em 20 jul 2020, 18h55
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  • Nesta segunda-feira, 20, o Brasil chegou a 2.118.646 casos confirmados de coronavírus e 80.120 mortes. A média móvel de casos registrados nas últimas 24 horas foi de 33.382,7 e 1041 óbitos. Os números estão estabilizados, mas ainda altos – fenômeno visto em outras cidades e países do mundo.

    A chegada de uma vacina é o único modo de respirarmos aliviados — e há motivos para otimismo. A notícia dos resultados positivos do primeiro teste do imunizante da Universidade de Oxford contra a Covid-19 em humanos foi recebida com grande entusiasmo pelos médicos. Segundo artigo publicado na revista científica The Lancet, ele induziu a produção células T e de anticorpos, mecanismos importantes e complementares que atuam no sistema de defesa do organismo. Se tudo der certo nas próximas etapas previstas, o medicamento estará liberado em setembro.

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    O Brasil encontra-se em uma posição privilegiada para o acesso a essa vacina, mas a chegada do medicamento deve demorar alguns meses. Além de participar dos estudos, o país fechou um acordo com a farmacêutica britânica Astrazeneca, responsável pela produção e distribuição da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford, para garantir a fabricação e a compra de 30,4 milhões de doses. Dessas, metade está prevista para chegar ainda este ano, em dezembro e a outra metade, em janeiro de 2021, já prontas para serem aplicadas. Se a vacina tiver resultados positivos e obtiver o registro no Brasil, serão recebidas mais de 70 milhões de doses, todas distribuídas pelo SUS.

    Em quem será aplicada

    De acordo com o Ministério da Saúde, assim que a vacina contra o coronavírus estiver aprovada e chegar ao país, as doses iniciais serão destinadas a “públicos mais vulneráveis” como idosos, pessoas com comorbidades, profissionais de saúde, professores, profissionais de segurança, indígenas, motoristas de transporte público e pessoas privadas de liberdade. A definição exata de quem poderá receber a vacina, porém, depende dos critérios aprovados pela Anvisa, que são baseados nos ensaios clínicos.

    Mas o produto deverá ser ampliado com o tempo. A fim de ganhar tempo, Oxford já está testando a vacina em todas as faixas etárias, incluindo crianças. Enquanto que no Brasil o estudo dela é restrita a adultos com idade entre 18 e 55 anos, saudáveis e que estejam em alto risco de contaminação pelo vírus, na África do Sul, o trabalho com o mesmo imunizante busca avaliar sua eficácia e segurança em pacientes com HIV positivo, por exemplo. Já no Reino Unido, a fase 2 avalia a resposta imune à vacina em pessoas de 56 a 69 anos, com mais de 70 anos e em crianças com idade entre 5 e 12 anos.

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    Essa avaliação em grupos separados é importante e necessária porque a resposta imunológica de crianças, idosos e pessoas imunodeprimidas pode ser diferente daquela gerada por adultos saudáveis. Por isso, a aprovação da indicação da vacina depende de testes feitos em todos os grupos.

    Será o controle da doença?

    Para ser considerada eficaz, uma vacina contra o SARS-CoV-2, nome oficial do novo coronavírus, deve ser capaz de oferecer proteção por um período mínimo de seis meses após a aplicação de uma ou duas doses. Além disso, é fundamental que ela seja capaz de reduzir a transmissão do vírus e funcione em populações-alvo, incluindo idosos e pessoas com outras condições de saúde.

    Pesquisadores envolvidos no estudo acreditam que a vacina de Oxford tem 80% de probabilidade de ser eficaz em impedir que pessoas expostas ao novo coronavírus desenvolvam a doença. O cenário ideal seria obter mais de 90% de imunidade, com apenas uma dose, e para a vida toda. Entretanto, pouquíssimos imunizantes já disponíveis preenchem esse critério. Um exemplo disso é a vacina contra a febre amarela. Mas em tempos de pandemia, a Organização Mundial da Saúde  definiu como mínimo aceitável para aprovação da vacina uma eficácia de 50%.

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    “Uma eficácia acima de 55%, por exemplo, ajudaria a controlar a doença, mas não exterminar. É o caso da vacina de malária.”, diz o infectologista e epidemiologista Bruno Scarpellini, da PUC do Rio de Janeiro.

    Além da eficácia da vacina em si, a cobertura vacinal e o esquema de vacinação tem impacto direto para o controle da doença. “Para alcançar a imunidade de rebanho de uma vacina com no mínimo 70% de eficácia, é preciso de 70% da população esteja imunizada. Mas o ideal é manter a cobertura vacinal acima dos 80%. Quanto maior a nossa capacidade mantida de vacinação, maior a capacidade de erradicação da doença.”, explica Scarpellini.

    Uma vacina dose única tem múltiplas vantagens, além de aumentar a quantidade de pessoas que podem ser vacinadas, a dose única aumenta a adesão da população à vacina. “Conforme aumenta o número de doses, cai a adesão”, afirma o infectologista. No entanto, parece que as opções disponíveis atualmente estão caminhando para a necessidade da aplicação de duas doses.

    Resultados preliminares da vacina de Oxford indicam uma resposta imune mais robusta após duas doses. Por isso, segundo a Astrazeneca, estudos futuros deverão testar um esquema de vacinação de duas doses. Até o momento, o estudo brasileiro avalia a eficácia após uma única dose do imunizante.

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    Imunizar 70% da população brasileira equivale a 146,6 milhões de pessoas. O acordo de transferência de tecnologia firmado com a Astrazeneca prevê a produção da vacina pela Fiocruz, que está se preparando para produzir mensalmente até 40 milhões de doses contra a Covid-19. Isso significa que em pouquíssimo tempo, pouco mais de cinco meses após o início da produção, toda a população brasileira poderá estar imunizada.

    Outras vacinas

    O ideal é que exista pelo menos mais de uma opção de vacina. Não para uma pessoa receber duas vacinas, mas para que o maior número possível de pessoas sejam imunizadas o quanto antes. Além disso, sempre há a possibilidade de determinada vacina funcionar melhor em algum grupo específico. “Em uma pandemia não basta uma molécula dar certo para que seja possível imunizar o mundo inteiro.”, diz Scarpellini. Até lá, cuidados como uso de máscara, distanciamento social, higiene constante das mãos e etiqueta da tosse precisarão ser mantidos.

    Por meio do governo do estado de São Paulo, o país também já fechou acordo para transferência de tecnologia da vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech.

    De acordo com o governo estadual, o Instituto Butantan está adaptando uma fábrica para a produção da vacina, com capacidade para até 100 milhões de doses. Além disso, o acordo prevê que o Brasil receberá 60 milhões de doses fabricada na China, onde a produção já começou. Também está em negociação a compra de doses do imunizante desenvolvido pela farmacêutica americana Pfizer, em parceria com a empresa alemã BioNTech. Resultados divulgados nesta segunda-feira, 20, mostraram que o imunizante gera resposta imune forte, em velocidade anterior ao prazo estimado.

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