A britânica Judith Donald tinha 23 anos quando acordou certo dia com espinhas por todo o rosto. A princípio, ela achava que seria uma reação alérgica a algum cosmético, mas com o tempo a situação se agravou para a acne severa. A jovem passou a evitar sair de casa por vergonha de aparência. “Acordei com protuberâncias no queixo e na testa. Elas foram ficando piores e nem uma grande quantidade de maquiagem era capaz de cobri-las”, contou à BBC.
A acne se espalhou pelo ombro, peito e pelas costas, causando até mesmo problemas para dormir. Judith conta que seus colegas de trabalho lhe perguntavam se estava com catapora, pois havia manchas vermelhas por todo o corpo. “Elas se transformaram em acne cística, que pode ser muito dolorida e demora demais para sumir”, explicou.
Tratamento
O problema, segundo os especialistas, era genético. “Meus irmãos tiveram acne na puberdade, mas nada se compara ao que eu tive”, disse Judith. Devido a gravidade da situação, a jovem começou a tomar um medicamento à base de isotretinoína, conhecida comercialmente como Roacutan, que pode ter efeitos colaterais como enxaqueca, fadiga crônica e depressão.
Em julho do ano passado, a dermatologista de Judith recomendou que iniciasse o tratamento com a isotretinoína, indicada para casos graves de acne rosácea e severa, em que as marcas podem se tornar cicatrizes permanentes, que não desapareceram com tratamentos convencionais. No entanto, o medicamento possui contra-indicações. A jovem esperou até novembro para usá-lo, por causa dos efeitos colaterais.
Nos primeiros dois meses do uso, Judith teve enxaqueca, sangramento da mucosa nasal, eczema nas mãos, além de olhos e lábios secos. “Não acho que tive muitos problemas com o medicamento. Todos os efeitos colaterais valem pelo jeito como me sentia com minha acne”, confessou. No entanto, o cansaço era extremo. Ela tinha que dormir duas horas depois do trabalho para conseguir jantar. Precisava dormir de dez a 11 horas por dia.
No Brasil, o medicamento é autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde 1998, sob controle especial. Ele só pode ser utilizado com prescrição médica e exames prévios. O uso indiscriminado do produto gerou controvérsias entre a comunidade médica. Segundo John Hawk, especialista em dermatologia, em entrevista à BBC, grande parte dos pacientes é adolescente e corre risco de sofrer com depressão por circunstâncias sociais relacionadas a própria acne. “Há forte evidência de que o medicamento não causa depressão por causa das porcentagens similares entre os com depressão que usam e que não usam o remédio“, explicou.
No entanto, nem todos os casos precisam ser tratados com o medicamento. Em pacientes com acne leve, soluções mais leves ou antibióticos, em casos de manchas incômodas não diagnosticadas como cistos, podem resolver. “Isotretinoína é para acne severa“, frisou o dermatologista.
Acne severa
Para os especialistas, a genética é grande responsável pelo desenvolvimento da acne. Ela ocorre quando os poros da pele são bloqueados pela produção excessiva das glândulas sebáceas. Para Hawk, apesar da tendência no histórico familiar, prever a gravidade da doença é difícil, como foi o caso de Judith. “Obviamente, Judith tinha problemas menores antes, quando adolescente. Ela tinha uma tendência e a tendência é genética. Esse é o problema básico. Não tinha nada a ver com dieta ou lavar o rosto”, explicou.
O professor explicou ainda que a complicação pode causar danos psicológicos até mesmo nos casos menos graves. No entanto, existe tratamento em 99% dos casos. Judith ainda tem mais dois meses de tratamento, mas já observa grandes resultados. “Estou muito mais confiante. Já fez uma diferença fenomenal. Mudou completamente minha vida.”