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Coronavírus pode ser transmitido pelo ar: saiba como se proteger

Após polêmica e controvérsia, a OMS confirmou que o coronavírus pode permanecer no ar em espaços fechados e se espalhar de uma pessoa para outra

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 9 jul 2020, 21h52 - Publicado em 9 jul 2020, 21h45

Nesta quinta-feira, 9, a Organização Mundial da Saúde (OMS) finalmente admitiu que o coronavírus pode permanecer no ar em espaços fechados e se espalhar de uma pessoa para outra, mesmo se elas estiverem a um metro e meio de distância. “Houve relatos de surtos de Covid-19 em alguns locais fechados, como restaurantes, boates, locais de culto ou locais de trabalho onde as pessoas podem estar gritando, conversando ou cantando. Nestes surtos, a transmissão de aerossóis, particularmente nesses locais fechados, onde há espaços lotados e inadequadamente ventilados, onde as pessoas infectadas passam longos períodos com outras pessoas, não pode ser descartada”, disse a OMS.

O reconhecimento dessa forma de transmissão é considerado fundamental por especialistas para conter o avanço da doença. Isso porque a descoberta exige que as pessoas tomem cuidados adicionais às recomendações feitas até agora, que incluem usar máscara mesmo se houve a distância mínima recomendada entre você e outras pessoas e manter os ambientes o mais arejados possível.

“Alertar sobre essa forma de transmissão é extremamente importante, principalmente em lugares em que ainda há grande circulação do vírus e a economia começa a abrir. É preciso orientar as pessoas sobre quais são as medidas eficazes de prevenção. Por exemplo, dentro de uma loja, manter o ambiente arejado, garantir que todos estejam de máscara e instalar um sistema de exaustores é muito mais importante e mais barato do que colocar algum tipo de borrifador na porta do local. Em um restaurante, em que as pessoas ficam sem máscara para comer, também é muito importante garantir a renovação do ar.”, disse à VEJA o patologista Paulo Saldiva, professor da Universidade de Medicina da USP e único brasileiro a assinar uma carta aberta à OMS pedindo que a organização reconsiderasse sua posição sobre esse tipo de transmissão.

Até agora, a OMS sustentava que a principal forma de transmissão é por meio do contato com gotículas contaminadas. Essas gotas são partículas grandes e pesadas – ao menos em comparação com os aerossóis, que são tão leves e pequenos que permanecem no ar por um período maior – que geralmente caem no chão ou nas superfícies próximas logo após saírem da boca ou nariz de uma pessoa doente.

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Segundo a OMS, a propagação no ar era uma preocupação apenas no ambiente hospitalar, pois alguns procedimentos médicos podem produzir aerossóis. Daí a necessidade de usar a máscara N95, que filtra essas gotículas, e o escudo de proteção. Mas, fora do ambiente hospitalar, não havia esse risco. Assim, estaríamos relativamente seguros ao manter alguns metros de distância dos outros.

A organização insistiu em minimizar o fato mesmo diante de um crescente corpo de evidências e relatos de caso sugerirem que, em espaços internos lotados, o vírus pode permanecer no ar por horas e infectar outras pessoas. Em abril, um estudo feito na China mostrou que apenas uma pessoa infectada dentro de um restaurante completamente fechado foi o suficiente para contaminar outras nove pessoas.

Outro estudo, publicado no mesmo mês, mostrou que a distância mínima estipulada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para prevenir uma pessoa de ser atingida pelas gotículas de saliva de outra, não é suficiente para evitar que pequenas partículas a alcancem. A pesquisa, feita pelo Instituto de Tecnologia de Massachusetts, nos Estados Unidos, explica que as moléculas menores  – conhecidas como aerossóis – podem viajar por maiores distâncias e demoram mais para se dissipar ou evaporar, dependendo das condições de temperatura e umidade do ambiente.

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LEIA TAMBÉM: A transmissão do coronavírus por pessoas assintomáticas e pré-sintomáticas 

A mudança de postura aconteceu após a publicação da carta aberta, assinada por 239 cientistas do mundo todo. No documento, direcionada à organização, os pesquisadores elencaram todas as evidências existentes sobre essa forma de transmissão e solicitaram que a OMS reconsiderasse suas orientações sobre prevenção contra o novo coronavírus.

“Não é só ao tossir ou espirrar que exalamos partículas. Isso também acontece quando falamos ou respiramos e uma pessoa infectada irá liberar vírus nestas partículas. Em um ambiente aberto elas se diluem no ar, o que reduz o risco de contaminação. Já em um ambiente fechado, sem renovação do ar, a partícula [e o vírus] fica em suspensão por bastante tempo, aumentando o risco de transmissão.”, explica Saldiva.

Para prevenir a transmissão do coronavírus, a OMS recomenda, além de evitar contato próximo com pessoas infectadas e higienizar as mãos com frequência, “evitar locais lotados, locais de contato próximo e espaços confinados e fechados com pouca ventilação”. É importante que uma boa ventilação seja mantida também dentro de casa e nos escritórios.

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Na nova diretriz, a agência também ressaltou o papel dos assintomáticos na transmissão do vírus, fato que anteriormente a OMS também relutava em admitir. “As pessoas infectadas podem transmitir o vírus quando apresentam e quando não apresentam sintomas “, disse a agência. Mais um motivo para não dispensar a máscara em nenhum momento.

“Ao chegar em casa, é importante abrir as janelas e não ficar em um ambiente completamente fechado. Isso reduz o risco de transmissão entre pessoas que moram no mesmo local. Outras formas de prevenção, principalmente se houver alguém do grupo de risco, é não compartilhar pratos, talheres, copos e outros objetos de uso pessoal e usar máscara até mesmo dentro de casa, principalmente se você for uma pessoa com alto risco de exposição ao vírus”, orienta o patologista.

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