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Infecção leve de Covid-19 pode diminuir o tamanho do cérebro

Pesquisa de Oxford mostra que doença causa encolhimento do cérebro e danifica tecidos cerebrais ligados ao olfato e às funções cognitivas

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 mar 2022, 17h54 - Publicado em 17 mar 2022, 17h51
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  • Um estudo da Universidade Oxford descobriu que uma infecção leve pelo SARS-CoV-2, vírus que provoca a Covid-19, pode danificar os tecidos e causar um encolhimento nas áreas do cérebro relacionadas ao olfato. O levantamento usou dados de participantes do Biobank, um banco de dados biomédicos de grande escala e recurso de pesquisa do Reino Unido, para observar alterações no cérebro após 4 ou 5 meses após uma infecção leve. As descobertas foram publicadas na revista Nature.

    Segundo os pesquisadores, essa nova visão sobre os efeitos prejudiciais da Covid-19 contribuirá para a compreensão geral de como a doença se espalha pelo sistema nervoso central. Se esses efeitos persistem a longo prazo, ou são parcialmente revertidos, requerem mais investigação. Outras pesquisas já mostraram que a Covid-19 pode causar anormalidades relacionadas ao cérebro, mas a maioria se concentrou em pacientes hospitalizados com doença grave e se limitou a dados pós-infecção. Os efeitos do SARS-CoV-2 no cérebro em casos mais leves (e mais comuns) eram desconhecidos até agora, e a investigação desses casos pode revelar possíveis mecanismos que contribuem para doenças ou danos cerebrais.

    Os cientistas levantaram as mudanças nos cérebros de 785 participantes do Biobank, com idades entre 51 e 81 anos, que foram submetidos a duas varreduras cerebrais, em média com 38 meses de intervalo, além de testes cognitivos. Um total de 401 participantes testaram positivo para a Covid-19 entre os dois exames, dos quais 15 foram hospitalizados. Os 384 restantes, que não foram infectados, eram semelhantes ao grupo infectado em idade, sexo e muitos fatores de risco, incluindo pressão arterial, obesidade, tabagismo, status socioeconômico e diabetes. “Usando o recurso do Biobank do Reino Unido, estávamos em uma posição única para analisar as mudanças que ocorreram no cérebro após a infecção pelo SARS-CoV-2. Apesar da infecção ser leve, observamos uma maior perda de volume de massa cinzenta e maior dano tecidual de 96% dos participantes infectados, em média, de 4 a 5 meses após a doença”, disse Gwenaëlle Douaud, professora de Oxford e principal autora do estudo.

    O estudo, liderado pelo Wellcome Center for Integrative Neuroimaging, da Universidade Oxford, identificou uma série de efeitos após a infecção, incluindo uma maior redução na espessura da massa cinzenta nas regiões do cérebro associadas ao olfato (o orbitofrontal córtex e giro para-hipocampal). Os participantes que tiveram a doença também apresentaram evidências de maior dano tecidual em regiões conectadas ao córtex olfativo primário, uma área ligada ao olfato, além de uma redução no tamanho total do cérebro. Esses efeitos variaram de 0,2 a 2% de alteração adicional em comparação aos indivíduos que não foram infectados.

    Em média, os infectados pelo SARS-CoV-2 também apresentaram maior declínio cognitivo entre as duas varreduras, associado à atrofia de uma parte específica do cerebelo, estrutura cerebral ligada à cognição. “Os participantes mostraram maior declínio em suas habilidades mentais para realizar tarefas complexas, e essa piora mental estava parcialmente relacionada a essas anormalidades cerebrais. Todos esses efeitos negativos foram mais acentuados em idades mais avançadas. Uma questão-chave para futuros estudos de imagem cerebral é ver se esse dano ao tecido cerebral se resolve a longo prazo”, explicou Gwenaëlle.

    Stephen Smith, autor sênior do estudo, também do Wellcome Center for Integrative Neuroimaging, comentou: “Outro ponto forte deste estudo é que ele investigou as mesmas pessoas em dois momentos diferentes. É importante ressaltar que a primeira varredura dos participantes do Biobank do Reino Unido foi obtida antes de serem infectados com SARS-CoV-2 e a segunda varredura, após a infecção. O fato de termos a varredura pré-infecção nos ajuda a distinguir as alterações cerebrais relacionadas à infecção e as que já existiam em seus cérebros”. Os pesquisadores acreditam que essas descobertas podem ajudar os médicos a entenderem as marcas da disseminação degenerativa da Covid-19, seja por meio de vias relacionadas ao olfato, inflamação ou resposta imune do sistema nervoso ou a falta de entrada sensorial devido à perda do olfato.

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