O governo do Paraná assinou, nesta quarta-feira, 12, um memorando de entendimento com o governo russo para dar início às tratativas relativas à realização da última etapa de testes clínicos da vacina russa no Brasil e possível transferência de tecnologia para produção do imunizante no país. O acordo não garante nada, por isso, ainda não houve nenhum investimento financeiro por parte do governo do Paraná nem do Brasil, mas dá os primeiros passos rumo à oficialização da parceria.
O documento foi assinado durante reunião que contou com a participação do governador Ratinho Júnior e de representantes do governo do Paraná, do Ministério da Saúde, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações e da embaixada da Rússia. Uma força-tarefa será criada para inciar as tratativas técnicas do projeto que está em formatação, incluindo a elaboração de um protocolo de pesquisa e o intercâmbio de informações entre os países. A previsão é de que até segunda-feira, 17, seja publicado um decreto instituindo o grupo.
A pesquisa e demais etapas do acordo ficam a cargo do Instituto de Tecnologia do Paraná (TecPar). Segundo Jorge Callado, diretor-presidente do Tecpar, ainda não houve submissão de pedido de autorização para a realização dos estudos no país porque o acordo ainda está em uma fase “muito inicial”. Antes de desenhar um protocolo de pesquisa, o instituto precisa ter acesso à documentação que comprova a realização dos estudos fase 1 e 2 e de fase 3, que teria início esta semana, de acordo com o governo russo.
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“Não tivemos informações sobre a segurança [da vacina] porque a força-tarefa que está sendo formatada terá a incumbência, juntamente com o grupo de pesquisadores da Rússia, de fazer o intercâmbio dessas informações”, disse Callado durante coletiva de imprensa on-line realizada após a assinatura do acordo.
A expectativa é que em até 40 dias o protocolo seja submetido aos órgãos regulatórios, o que inclui a Anvisa e a Conep, e os testes sejam iniciados. “É importante o Brasil estar inserido nesse contexto. Quanto mais alternativa tivermos de imunização, melhor para o Brasil, para a América Latina e para o mundo como um todo”, disse Callado.
Em relação às dúvidas sobre a segurança da vacina, Callado reforçou que toda a documentação será avaliada pela Tecpar, pela Anvisa e pela Conep. “Se existem incertezas, as análises nos dirão, os órgãos reguladores do país confirmarão. Não podemos nos pautar apenas por comentários ou citações. […] Nós não vamos queimar etapas. As etapas devem ser estabelecidas. Não vamos fazer aceleração de tempo. A variável tempo é importante e deve ser respeitada.”, reforçou o diretor-presidente.
Caso os resultados sejam promissores, o intuito é firmar um acordo com transferência de tecnologia para que a TecPar possa fabricar o produto a partir do segundo semestre de 2021. A planta de produção da vacina deve custar cerca de 80 milhões, pagos com o apoio de investidores internacionais e do governo federal.
Aprovação da vacina levanta dúvidas
A vacina Sputnik V foi aprovada na Rússia na terça-feira, 11, apenas dois meses após o início dos testes clínicos em humanos, o que, segundo especialistas, é um tempo muito curto para a realização de todas as etapas de estudo exigidas para confirmar a segurança e eficácia da vacina antes de seu uso em larga escala. De fato, o governo russo admite ter realizado apenas as fases 1 e 2 de testes, que teriam apresentado resultados promissores. No entanto, esses resultados nunca foram divulgados nem publicados em revistas científicas. A expectativa é que a fase 3 seja realizada simultaneamente ao início da produção em massa da vacina na Rússia e de sua aplicação em grupos específicos da população. A campanha de vacinação russa contra a Covid-19 está prevista para começar em outubro.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que não tem acesso aos dados da pesquisa para avaliar a eficácia e segurança da vacina e que a Rússia não precisa do aval da OMS para fazer o registro. Na lista da organização, o imunizante russo ainda está classificado na fase 1 de testes clínicos em humanos. Segundo a entidade, uma vacina só deve ser aprovada depois de passar pelas três etapas de teste.