Creatina para melhorar a memória, o foco e a cognição: o que diz a ciência?
Propagação de benefícios cerebrais do suplemento voltou à tona nas redes sociais. Saiba o que existe de evidência a respeito desse uso

A creatina se tornou o suplemento esportivo da moda. As vendas decolaram no país nos últimos meses e, embora existam indicações consolidadas de seu uso – como o ganho de resistência e força muscular entre quem treina regularmente -, inúmeras outras alegações se espalharam pela internet. A maioria delas sem respaldo científico.
Recentemente, os supostos benefícios da creatina à cognição voltaram à cena com propagações e debates entre influenciadores nas redes sociais. Então vejamos o que os estudos e os especialistas têm a dizer.
A premissa básica de que o suplemento daria um gás ao cérebro vem do fato de que a creatina ajuda as células a reaproveitarem energia. Isso acontece em vários cantos do organismo, sobretudo em células de atividade acelerada, como as musculares. Em tese, os neurônios também se encaixam nesse perfil, mas daí a dizer que a creatina turbina sua função há um buraco enorme.
Segundo Bruno Gualano, professor de educação física da Universidade de São Paulo (USP), a prerrogativa de que a creatina melhora foco, memória e cognição se insere numa espécie de zona cinzenta. Ou seja, existe uma plausibilidade biológica para tanto – a ideia de que a molécula entregaria mais energia às células nervosas -, mas esses efeitos não foram confirmados pela ciência.
Muitos dos defensores dessa tese se baseiam numa revisão da literatura científica, publicada em 2024, que sugere possíveis vantagens ao cérebro. Mas a nutricionista Jéssica Tosatti, pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), pondera que diversos trabalhos, inclusive alguns contemplados por essas análises, pecam por falhas metodológicas, gerando conclusões pretensamente positivas.
“Quando se avalia o conjunto das evidências, não há sustentação para recomendar creatina pelo seu possível efeito cognitivo”, afirma o nutricionista Hamilton Roschel, pesquisador e professor da USP.
Então desconfie das promessas de que o suplemento turbina a memória, o foco, a concentração ou as habilidades cognitivas em geral. O suplemento é voltado à prática esportiva – e, mesmo assim, quem tira proveito é quem já leva um estilo de vida equilibrado e treina regularmente.
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Antídoto contra Alzheimer e depressão?
Bem, se não há comprovação de melhora direta das funções cerebrais, que dirá um impacto terapêutico contra doenças potencialmente graves, a exemplo de Alzheimer e depressão?
Pois circulam nas redes relatos e recomendações desses usos. No entanto, não há a mínima evidência de que a creatina possa prevenir ou controlar transtornos neurológicos e psiquiátricos.
Jamais suspenda o uso de medicamentos prescritos pelo médico para recorrer a essas fórmulas alternativas e ineficazes.