Dengue: quando e por que a doença se torna grave e potencialmente letal
Primeira morte pela infecção no Rio de Janeiro neste ano acende alerta para seriedade do quadro, sobretudo em idosos, crianças e gestantes

O Rio de Janeiro registrou sua primeira morte por dengue em 2025. Com quase mil casos confirmados na capital e outro óbito sob investigação, o cenário preocupa ainda mais após 2024, ano que marcou o maior número de infecções da última década.
Nacionalmente, o Brasil já contabiliza 101 mil casos prováveis de dengue em 2025, com 15 mortes confirmadas e 116 em análise, segundo o Painel de Monitoramento de Arboviroses do Ministério da Saúde.
A evolução para um quadro grave de dengue está associada a diversos fatores, com a resposta inflamatória do organismo desempenhando um papel central.
Quando o vírus da dengue infecta o corpo, ele desencadeia uma inflamação sistêmica, ativando as células que revestem internamente os vasos sanguíneos. Isso aumenta a permeabilidade e a fragilidade desses vasos, permitindo o extravasamento de líquidos que deveriam permanecer no sangue para outros espaços do corpo. Esse processo pode levar ao choque circulatório, além de aumentar o risco de hemorragias, já que as plaquetas — essenciais para a coagulação — são consumidas ou ‘sequestradas’ no processo inflamatório.
A gravidade da resposta inflamatória é ainda maior em pessoas que já tiveram dengue anteriormente. Nesses casos, o organismo possui uma memória imunológica do primeiro contato com o vírus, que faz com que a resposta inflamatória comece de maneira muito mais intensa e acelerada, amplificando os danos aos vasos sanguíneos e aumentando o risco de complicações graves, como sangramentos e choque.
Por outro lado, quem contrai dengue pela primeira vez geralmente desenvolve uma resposta inflamatória mais gradual, o que reduz, mas não elimina, a possibilidade de evolução para a forma grave da doença.
Em casos graves, sintomas como dor abdominal intensa, vômitos persistentes, sangramentos de mucosas, letargia e sinais de choque, como pressão baixa, indicam a necessidade de intervenção médica imediata. O diagnóstico precoce e a hidratação adequada são cruciais para interromper essa progressão.
Alguns grupos apresentam maior probabilidade de desenvolver formas graves da dengue, como pessoas com episódios anteriores da doença e os extremos de idade — crianças abaixo de 2 anos e idosos acima de 65 anos — são particularmente vulneráveis.
Gestantes e pessoas com comorbidades, especialmente aquelas com condições que afetam a coagulação do sangue, como o uso de anticoagulantes, também estão em risco aumentado, pois essas condições ampliam as chances de hemorragias.
A detecção precoce é essencial para o manejo eficaz da dengue. Testes rápidos, que fornecem resultados em cerca de 15 minutos, estão disponíveis e podem confirmar a infecção já nos primeiros dias de sintomas.
Com o diagnóstico em mãos, os pacientes recebem orientações específicas, como a hidratação proporcional ao peso corporal, e ficam alertas para os sinais de alarme que exigem atendimento hospitalar.
A hidratação é o pilar do tratamento da dengue, especialmente nos estágios iniciais. Em casos graves, pode ser necessário administrar líquidos por via intravenosa para prevenir complicações mais sérias, como o choque e as hemorragias. A negligência nesse aspecto pode ser decisiva para a piora do quadro.
Com o aumento expressivo dos casos, é essencial que a população esteja bem informada sobre os sintomas iniciais e os sinais de alarme. O diagnóstico rápido, aliado ao cuidado imediato, é a melhor defesa contra a progressão para a forma grave da doença.
* Carolina dos Santos Lázari é médica infectologista e patologista clínica e membro da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML)