Há dietas que não sobrevivem a uma temporada na moda. Foi assim com a da lua, cujo princípio era beber somente líquidos durante 24 horas quando o satélite natural da Terra muda de fase, e com várias outras que propunham semelhantes despautérios. Não é o que acontece com a dieta cetogênica, baseada na severa restrição de consumo de carboidratos e no aumento expressivo de ingestão de proteínas e gorduras. Há pelo menos cinco anos, o regime passa ao largo do sobe e desce entre as preferências e, desde o ano passado, permanece na primeira posição da lista das top diets, segundo levantamento da Pollock Communications, agência americana de relações públicas especializada no atendimento a empresas do setor de alimentos. E a previsão, de acordo com a pesquisa realizada com nutricionistas e nutrólogos dos Estados Unidos, é a de que a keto diet reinará absoluta por muitos anos.
O segredo de tamanho sucesso em um universo tão competitivo quanto o das dietas está na rápida perda de peso promovida pela cetogênica. Adele, a cantora inglesa, perdeu 45 quilos em seis meses. Kourtney Kardashian, uma das integrantes da família que hipnotiza seguidores nas redes sociais, mantém seus 45 quilos com a dieta. A modelo Sasha Meneghel, a filha de Xuxa, eliminou 8 quilos. Ao mesmo tempo, o que para os adeptos é uma vitória a ser comemorada — sem pizza, claro — representa na opinião de boa parte dos médicos algo que pode não ser tão bom assim para a saúde. A pitada de controvérsia dá o toque final à receita de popularidade.
A cetogênica surgiu no início do século XX como opção para o tratamento da epilepsia, doença neurológica que leva a movimentos descontrolados e crises convulsivas. A proposta mais conhecida é a do médico americano Russell Wilder, que jogou luz ao termo cetogênico quando desenvolveu esse regime que promove condições metabólicas semelhantes às induzidas pelo jejum prolongado. Nessa condição, sem a energia proveniente da glicose fornecida pelos carboidratos, o corpo utiliza o combustível dos corpos cetônicos, produtos fabricados a partir da transformação da gordura em glicose. A gordura, até então armazenada, vai sendo queimada. Ao determinar a restrição aos carbs, a dieta de sucesso desencadeia mecanismo semelhante. A orientação é ingerir diariamente até 10% do nutriente, cinco vezes a menos do sugerido para uma alimentação balanceada. Como nossa reserva de glicose dura no máximo 36 horas, após esse período o organismo entra em cetose e obtém seu combustível da gordura guardada ou ingerida.
No cardápio da keto, há muita proteína e gorduras saudáveis, como as encontradas em óleos vegetais. O que não pode são doces, pães, alimentos processados. Analisada por esse aspecto, a dieta é saudável. “Os açúcares promovem processos inflamatórios. A dieta elimina esse risco”, diz o médico nutrólogo Pablo Llompart, que indica o regime. Por outro lado, várias pesquisas sugerem que a ausência de carboidratos e o excesso de gordura causam problemas cardiovasculares e hepáticos. “A cetogênica pode ter consequências prejudiciais a longo prazo”, afirma a cardiologista Sara Seidelmann, do Hospital Brigham and Women’s, em Boston, e autora de um estudo sobre os padrões alimentares de mais de 400 000 pessoas no mundo.
Há ao menos um consenso: a perda rápida de peso serve como estímulo para a adesão a um estilo saudável de vida. O difícil é segui-la por muito tempo. Além de cansaço e alterações de humor nos primeiros dias, o cardápio pode enjoar. “É preciso aprender a deixar a comida do dia a dia saborosa. Assim, fica mais fácil fazer a dieta sem entrar em desespero no terceiro dia”, aconselha a chef Dani Faria Lima, que cuida do cardápio do ator Reynaldo Gianecchini, novo adepto da cetogênica. Mais duas orientações: ser acompanhado por um médico e resistir ao cheirinho de pão quentinho no café da manhã. Difícil.
Publicado em VEJA de 8 de setembro de 2021, edição nº 2754