Um estudo conduzido por médicos do Hospital da Mulher Prof. Dr. José Aristodemo Pinotti (Caism) da Unicamp demonstrou que o teste de DNA-HPV, recém-incorporado ao Sistema Único de Saúde (SUS), pode transformar a prevenção do câncer de colo do útero no Brasil. A pesquisa, realizada na cidade de Indaiatuba, no interior de São Paulo, revelou que essa nova tecnologia, quando integrada a um programa de monitoramento, pode identificar lesões pré-cancerosas e cânceres até dez anos antes do exame de papanicolau, método tradicional de rastreio. Os resultados foram publicados na revista científica Scientific Reports.
O teste de DNA-HPV detecta a presença de tipos de HPV de alto risco que podem causar câncer, como o HPV-16 e HPV-18. Ele é mais preciso que o papanicolau, pois identifica o vírus que pode levar ao câncer antes mesmo de surgirem alterações celulares visíveis. Na pesquisa, 20.551 mulheres foram examinadas ao longo de cinco anos, e a taxa de cobertura do teste foi de 58,7%, chegando a 77,8% quando se desconsideram os meses mais críticos da pandemia de covid-19.
Resultados promissores
Os dados da pesquisa mostraram que o teste de DNA-HPV foi quatro vezes mais eficaz na detecção de lesões pré-cancerosas comparado ao papanicolau. No estudo, 258 lesões precursoras de alto grau e 29 casos de câncer foram detectados. Além disso, 83% dos cânceres identificados estavam no estágio inicial (Estágio I), quando as chances de cura são muito maiores e o tratamento é mais simples.
O teste de DNA-HPV também mostrou maior eficiência ao detectar câncer em mulheres mais jovens. A idade média das pacientes diagnosticadas com câncer foi de 41,4 anos, em comparação aos 52 anos observados no método tradicional. Isso significa que, com o novo teste, o diagnóstico foi antecipado em até dez anos.
Impacto na saúde pública
Além dos benefícios em termos de saúde, o estudo sugere que o uso do teste de DNA-HPV pode ser mais econômico para o sistema público de saúde a longo prazo. Embora o custo inicial do exame seja maior que o do papanicolau, a detecção precoce do câncer reduz a necessidade de tratamentos mais caros e agressivos, como quimioterapia e radioterapia, que são usados em casos mais avançados da doença.
Em março de 2024, a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) aprovou o uso do teste de HPV no SUS. O exame deve estar disponível em todo o país nos próximos meses, começando pelas regiões com melhor infraestrutura.
Com a implementação nacional do teste, os pesquisadores estimam que o número de mortes por câncer de colo do útero, atualmente em cerca de 468 por mês, pode ser reduzido drasticamente. O estudo de Indaiatuba também está sendo replicado em outras regiões, como Recife, para avaliar a eficácia em populações maiores.