Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Estudo encerra polarização: bem-estar pressupõe cuidar do corpo e da alma

Um robusto trabalho da Universidade de Bath, na Inglaterra, revela que costurar os dois aspectos — cabeça e organismo — é o que nos faz viver mais e melhor

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 09h24 - Publicado em 21 jan 2024, 08h00

Foi sempre uma coisa ou outra, sem concessões — a alma ou o corpo. Durante muito mais tempo do que se deveria, a relevância para o ser humano de se movimentar um pouquinho que seja foi relegada ao fundo das prioridades. O bom mesmo era pensar, cuidar da cabeça, estar psicologicamente bem. Mas então, em meados do século XX, estudos mostraram que o exercício físico é fundamental. Nos anos 1940, um revolucionário trabalho de um médico inglês com cobradores de ônibus demonstrou que a ocorrência cada vez maior de problemas cardíacos estava ligada muito mais ao sedentarismo do que à idade ou ao estresse crônico. E então o mundo percebeu que não poderia ficar parado — e dá-lhe abandonar os fundamentais cuidados com a cuca.

Mas como a roda não para de girar, em eterno vaivém, por mais de uma vez foram dadas ordens contrárias, isso ou aquilo. De um lado, os fervorosos defensores do chamado mindfulness, a técnica para acalmar os pensamentos e trabalhar a atenção plena. Do outro, os amantes dos exercícios físicos e toda a prazerosa cascata hormonal que eles desencadeiam. Aqui e ali algumas vozes apontaram o caminho do bom senso, mas o tempo tratou de calá-las. Thomas Jefferson (1743-1826), o terceiro presidente dos Estados Unidos, um pensador de escol, intuiu que havia algo errado e disse uma frase que seria celebrada: “Não menos de duas horas por dia devem ser devotadas ao exercício, e levando o clima em pouca consideração. Se o corpo for fraco, a mente não será forte”.

A polarização incessável virou mau hábito, um labirinto sem saída, de portas fechadas e donos da verdade. Seria preciso algum freio de arrumação, o necessário equilíbrio para pôr as duas frentes na balança, sem privilégios, em igualdade de condições. Parece, enfim, ter chegado a hora. Um robusto trabalho da Universidade de Bath, na Inglaterra, revela que costurar os dois aspectos — a cabeça e o organismo — é o que nos faz viver mais e melhor. Soa simples, quase banal, talvez seja, mas eis aí uma conclusão que merece ser celebrada. Os estudiosos mergulharam em mais de 7 500 referências científicas sobre o tema. Buscaram os prós e contras de cada vertente e do combo extraíram um enredo — uma postura ajuda a outra, simples assim. “Ficar mais atento, com a mente alerta, ajuda a treinar as forças psicológicas que precisamos para praticar exercícios corporais”, disse a VEJA Masha Remskar, cientista comportamental de Bath, uma das responsáveis pelo pioneiro levantamento. “O mindfulness e o fitness se complementam incrivelmente bem, multiplicando os benefícios para a saúde mental.”

arte corpo e mente

Os dados existentes comprovam as respostas de cada linha, isoladamente. A movimentação física é alimento para o ânimo, o bem-estar fundamental para tocar a vida. O zelo mental é atalho para a satisfação no dia a dia.

Continua após a publicidade

A junção das duas pontas — e adeus polarização — tem extraordinário poder multiplicador. É o que revela a mineração da vasta pesquisa agora divulgada e que muitos especialistas recomendam com veemência. Ter a mente calma ajuda a manter o ritmo nas academias e ruas. Ter o corpo forte é apoio para bons pensamentos, e eis o ciclo positivo estabelecido com pompa. “Uma das formas de não deixar a mente à deriva é manter o corpo em movimento”, resume Marcelo Demarzo, coordenador do Centro Mente Aberta, da Unifesp, que atua com mindfulness.

Tudo resolvido? Não. As evidências ajudam a abrir avenidas e a demolir os lugares-comuns. Os xiitas da ginástica e os fanáticos pela reflexão vão naturalmente perder espaço, mas as dificuldades do cotidiano da vida moderna oferecem obstáculos, muitos intransponíveis. Como, por exemplo, ter força para abandonar o smartphone e as redes sociais? Como associar o personal trainer com o terapeuta de consultório, com tempo curto e dinheiro escasso? Não por acaso, nas crises econômicas — ou em momentos de espanto da civilização, como na pandemia de Covid-19 — as duas práticas costumam ser abandonadas, por supérfluas, e vive-se ao Deus dará. Mas cabe estar sempre atento ao conselho fundamental: é vital cuidar de tudo. “A saúde mental deficiente é um dos problemas mais comuns e onerosos de nosso tempo”, diz Masha Remskar, da Universidade de Bath. “Zelar simultaneamente pelo que vai na mente e o que o organismo pede é crucial para as estratégias dos serviços públicos de saúde.” Um estudo da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais mostrou que, no Brasil, os transtornos mentais levam à perda de 4,7% do PIB todos os anos, com menor produtividade e redução de postos de trabalho.

Vale, portanto, como resolução para o ano que mal começou, a vigilância permanente. Os aplicativos recentemente lançados para acalmar têm utilidade. Uma caminhada em volta do quarteirão, idem. O fundamental é saber que não são excludentes. É o que intuía, com delicadeza, o compositor Walter Franco (1945-2019) em uma de suas canções, de 1978: “Tudo é uma questão de manter / a mente quieta / a espinha ereta / e o coração tranquilo”. Boa ideia.

Publicado em VEJA de 19 de janeiro de 2024, edição nº 2876

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.