O etíope Tedros Adhanom Ghebreyesus foi eleito, na terça-feira, novo diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS). Essa é a primeira vez que um africano estará à frente da agência de saúde da Organização das Nações Unidas (ONU). Ghebreyesus recebeu 133 votos dos 185 estados membro e substituirá a chinesa Margaret Chan, que está há 11 anos à frente da agência e concluirá seu mandato no dia 30 de junho.
Ghebreyesus concorreu contra o inglês David Nabarro e a paquistanesa Sania Nishtar. A seu favor, estavam o fato de que, desde 1948, jamais um africano liderou a agência e ele se apresentou como uma pessoa que transformou a saúde de seu país, enquanto foi ministro dessa pasta entre 2005 e 2012.
No entanto, sua candidatura foi alvo de polêmica. Seu país é um dos regimes autoritários do continente africano e Adhanom foi seu chanceler de 2012 a 2016. Entidades como a Human Rights Watch o recriminam por fazer parte do núcleo duro do regime autoritário do país, acusado de violações de direitos humanos e repressão pela própria ONU. Um grupo de 20 entidades escreveu para a OMS pedindo que seu nome não fosse considerado. Sua campanha ainda contou com acusações de que ele tentou abafar três epidemias de cólera, enquanto foi ministro da Saúde.
O Brasil foi um dos países que apoiou a Ghebreyesus. Segundo o ministro da Saúde, Ricardo Barros, a opção pelo africano foi baseada em sua visão para a OMS. Eu conversei com todos os candidatos. Eu achei que ele era a pessoa que estava mais alinhada com a visão que temos de como a OMS deve atuar”, disse o ministro.
Outro ponto que interessa ao Brasil é o de manter a influência na África e, para isso, precisa também mostrar solidariedade com candidatos para postos internacionais. “Ele é uma pessoa que nos interessa, por nossa relação com a África.”m afirmou Barros.
Despedida
Em seu discurso de despedida, na segunda-feira, Margaret Chan, atual diretora da OMS, fez um mea culpa diante das falhas da entidade ao responder às epidemias mundiais. “O mundo teve menos sorte com o zika”, disse. Sobre o ebola, ela não deixou dúvidas de que reconhece seus erros. “Ele pegou todos de surpresa, inclusive a OMS”, admitiu.
“A OMS foi lenta em reconhecer que o vírus poderia se comportar de forma muito diferente de surtos anteriores”, disse. “Isso ocorreu sob minha administração e sou responsável”, insistiu.
Mas ela defendeu que sua administração fez as correções necessárias e que as doenças foram controladas. Sua meta: evitar que isso se repetisse. “A historia julgará se o mundo estará melhor preparado para lidar com novas emergências”, disse. Segundo Chan, o “mundo está melhor preparado, mas ainda não de forma suficiente” para lidar com novas epidemias.
(Com Estadão Conteúdo)