O DDT – conhecido como o primeiro pesticida da era moderna – pode ser capaz de atravessar a placenta e aumentar os riscos de um bebê desenvolver Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), sugere estudo publicado no American Journal of Psychiatry. A substância, usada durante a Segunda Guerra Mundial para controlar o tifo e a malária na Europa e no Pacífico Sul, já é conhecida por causar tremores, convulsões, náusea e câncer, especialmente em casos de exposição a altas concentrações. Agora, a nova pesquisa estabelece uma ligação concreta entre o DDT e o autismo.
Segundo os pesquisadores, quanto mais alto for o nível de pesticida no sangue das grávidas, maior é a probabilidade de seu filho apresentar o transtorno, que atinge cerca de 150.000 pessoas por ano no Brasil. A equipe explicou ainda que esse aumento é uma combinação da exposição pré-natal à toxina do DDT e fatores genéticos e ambientais.
A pesquisa
Estudos realizados anteriormente ligaram o DDT e os bifenilos policlorados (PCBs) ao câncer e sugeriram que esses produtos químicos podem afetar o desenvolvimento do cérebro e a cognição no início da infância. Entretanto, a maioria dessas pesquisas levou em conta apenas a exposição com base na proximidade dos participantes a um local contaminado; não mediu diretamente os níveis das substâncias no sangue das mulheres grávidas no período de gestação.
Adotando esta nova estratégia de investigação, a equipe da Universidade de Columbia, nos Estados Unidos, recorreu a um banco de dados biológicos na Finlândia, que coletou e armazenou, desde 1983, amostras de soro do sangue de mulheres grávidas. As amostras pertenciam a mais de um milhão de mulheres que deram à luz entre 1987 e 2005. Os registros de saúde das crianças que nasceram com autismo também foram utilizados. Outros dados coletados pertenciam a 778 mulheres cujos filhos não haviam sido diagnosticados com o transtorno de forma a considerar uma combinação cuidadosa de local e data de nascimento, sexo e residência para fins de comparação.
Perigo do inseticida
A equipe se baseou no subproduto de DDT e PCBs – produzidos depois que o corpo processa esses químicos – para chegar aos resultados. No caso do subproduto do PCBs não foram encontrados evidências de correlação com o autismo. No entanto, os pesquisadores descobriram que as mães com altas concentrações de diclorodifenildicloroetileno (DDE) – subproduto do DDT – no sangue tinham 32% mais risco de ter um filho que poderia desenvolver autismo. Eles revelaram ainda que a probabilidade de uma criança autista apresentar deficiência intelectual também foi maior (duas vezes mais) em mães com níveis elevados de DDT.
O estudo chegou a esta conclusão depois de encontrar aproximadamente 1.300 crianças diagnosticadas com autismo dentre os filhos cujas mães participaram do estudo; 778 pares de mães e filhos foram comparados à mesma quantidade de crianças (e mães) sem o diagnóstico. “Nas mulheres grávidas, as substâncias químicas são repassadas para o feto em desenvolvimento. Juntamente com fatores genéticos e ambientais, nossas descobertas sugerem que a exposição pré-natal à toxina do DDT pode ser um gatilho para o autismo”, explicou Alan S. Brown, principal autor do estudo, ao Daily Mail Online.
Embora a análise tenha se mostrado significativa, Brown alerta que a associação não é uma confirmação de causa.
DDT
Segundo o Medical News Today, o DDT foi sintetizado pela primeira vez em 1874 para combater uma ampla gama de vetores de doenças, tendo sido utilizado durante a Segunda Guerra Mundial para controlar o tifo e a malária na Europa e no Pacífico Sul. Por ser um inseticida muito eficaz, o DDT quase conseguiu erradicar o tifo em algumas partes da Europa. Nos Estados Unidos, ele era amplamente utilizado em residências particulares e empresas agrícolas. Apesar da eficácia, na década de 1970, essa substância foi banida em muitos países devido a preocupações de segurança.
No entanto, o DDT ainda é usado na África para controlar as populações de mosquitos. Como o químico permanece no solo e na água por décadas, ele pode se acumular em plantas e na carne de animais consumidos pelas pessoas. Por isso, foi possível encontrar concentrações altas de DDT no sangue de algumas mães que participaram da pesquisa. “O estudo é realmente incrível. Isso apenas confirma que a proibição de utilizar esse produto foi uma boa ideia”, disse Tracey Woodruff, pesquisadora da Universidade da Califórnia (UCLA), ao Scientific American.
Brown explica que os químicos não podem ser removidos do meio ambiente, portanto, a melhor forma de limitar a exposição é optando por uma alimentação com mais frutas e verduras orgânicas e evitar residir perto de locais com concentrações de resíduos tóxicos.
Autismo
Os pesquisadores disseram que ainda não está claro como o DDT está associado ao risco de autismo, mas uma das hipóteses está relacionada ao fato de que a presença do DDT pode provocar parto prematuro e baixo peso ao nascer, fatores de risco para o transtorno.
A outra explicação é referente ao DDT se ligar a proteínas do corpo conhecidas como receptores androgênicos, que permitem às células responderem à testosterona e a outros hormônios. Estudos anteriores realizados em camundongos mostraram que algumas substâncias químicas que se ligam a receptores androgênicos podem atrapalhar o desenvolvimento do cérebro do feto, particularmente em meninos, gênero cinco vezes mais propenso ao diagnóstico de Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).
O autismo é um transtorno de desenvolvimento grave que prejudica a capacidade de se comunicar. Ele também é caracterizado por padrões de comportamentos repetitivos e dificuldade na interação social. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 70 milhões de pessoas convivem com o autismo ao redor do mundo; 2 milhões somente no Brasil.