Gaslighting: o abuso por trás de relacionamentos tóxicos e narcisistas
Em novo livro, professora americana explica como a manipulação psicológica corrói a saúde mental de quem convive com um narcisista

Ele é um desses termos em inglês que, sem ter uma correspondência direta em português, passou a ser usado assim mesmo, na forma gringa. Gaslighting.
Trata-se de uma forma de dominação psicológica em que alguém distorce a realidade para que a vítima passe a duvidar de suas próprias percepções, atos, frases e memórias. O que pode acontecer em um relacionamento afetivo ou no ambiente de trabalho.
“O gaslighting é um elemento central do abuso narcisista”, resume a psicóloga americana Ramani Durvasula, que acaba de lançar no país O Problema Não É Você pela editora Sextante.
O livro se debruça sobre quem são, como se comportam e como podemos reconhecer pessoas com personalidade narcisista. São indivíduos que, em maior ou menor grau, têm uma tendência a rebaixar, menosprezar e lesar emocionalmente os outros como uma forma de levantar a própria autoestima. Inúmeras vezes precisam de tanta ajuda psicológica como suas vítimas.
O foco de Durvasula, professora da Universidade Estadual da Califórnia, nos Estados Unidos, é expor o narcisismo instaurado em lares e escritórios e ajudar quem está em sua mira a detectar sinais desses ataques e encontrar caminhos para se libertar deles.
Com frequência, pessoas presas a relacionamentos tóxicos estão sob o alvo de um narcisista. O grande problema é que esse convívio opressor pode ser o gatilho para ansiedade, depressão e estresse pós-traumático. Machuca a mente e faz adoecer.
Por isso, a autora radiografa a personalidade e o relacionamento narcisistas e sugere um plano de ação. Nessa rota, é preciso identificar e se resguardar do fantasma do gaslighting.
Como o gaslighting se manifesta?
“O narcisista nega eventos que aconteceram, comportamentos que teve, experiências que você está vivendo ou mesmo palavras que disse”, escreve a psicóloga americana. “Há situações em que chega a mudar a posição de objetos da casa e depois nega ter feito isso”.
Nesse relacionamento, é corriqueiro que o “manipulador” solte frases como “Isso é coisa da sua cabeça” ou “Pare de se vitimizar”.
Durvasula explica que o comportamento pode ocorrer dentro de relações familiares (inclusive entre pais e filhos) ou na dinâmica de gestor e funcionário. “O narcisista preserva sua narrativa e e versão da realidade, protegendo o próprio ego e prejudicando o outro”, anota a autora.
Quando enredada nesse processo, a vítima vive sob alta tensão e passa a desconfiar de si mesma, sentindo desde desdém até raiva, mas não conseguindo se desvencilhar das amarras tóxicas.
Na obra recém-publicada, a professora ensina a identificar padrões e atitudes que denunciam o gaslighting e outras formas de dominação narcisista.
Vai além: derruba mitos a respeito, descreve os tipos de narcisismo e, o principal, oferece uma bússola para escapar de suas garras. Afinal, nem sempre o problema é você.