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Gêmeas siamesas unidas pela cabeça são separadas após 50 horas de cirurgia

Ao todo, foram três cirurgias ao longo de quatro meses para separar as gêmeas paquistanesas Safa e Marwa Ullah, de 2 anos

Por Redação
Atualizado em 25 mar 2021, 18h17 - Publicado em 17 jul 2019, 17h39
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  • O mundo foi notificado esta semana do sucesso de mais uma cirurgia de separação de gêmeos siameses. Duas meninas paquistanesas, de 2 anos, que estavam unidas pela cabeça, passam agora por tratamento pós-cirúrgico, incluindo fisioterapia, para se adaptarem a nova realidade: uma vida independente. As gêmeas, Safa e Marwa Ullah, passaram por três cirurgias ao longo de quatro meses para que os médicos conseguissem separá-las de forma segura.

    Ao todo, foram mais de 50 horas contabilizadas para a realização dos procedimentos — que foram um completo sucesso, de acordo com o Hospital Great Ormond Street (GOSH, na sigla em inglês), na Inglaterra, onde as crianças foram operadas. A instituição é considerada um das poucas no mundo com capacidade para atender casos desse tipo. 

    Safa e Marwa nasceram em 7 janeiro de 2017 por meio de uma cesariana no hospital Hayatabad, em Peshawar, no Paquistão. Apesar de ter sido avisada da gestação gemelar e da possibilidade de algumas partes dos corpos das meninas estarem unidas, a equipe médica e a família não tinham percebido a complexidade da situação até que elas tivessem nascido.

    O primeiro familiar a visitar as gêmeas e perceber a união pela cabeça foi o avô, Mohammad Sadat Hussain — pois a mãe, Zainab Bibi, ainda se recuperava da cesariana e o pai havia morrido em decorrência de um ataque cardíaco dois meses antes do parto. Hussain disse ter ficado feliz com o nascimento das netas, mas não deixou de se preocupar com a condição médica das crianças. “Fiquei feliz em vê-las, mas fiquei pensando o que iria fazer com elas por terem suas cabeças unidas?”, disse à BBC. 

    Cinco dias depois, Zanaib finalmente conseguiu ver as filhas pessoalmente — ela recebera uma foto das meninas para prepará-la para a situação que encontraria. Sua reação foi como a da maioria das mães. “Elas eram muito bonitas. Tinham cabelos bonitos e pele branca. Eu nem sequer pensei no fato de que elas estavam unidas. Elas foram um presente de Deus”, contou à BBC.

    O caso de Safa e Marwa é raro. Estimativas indicam que gêmeos craniópagos — unidos pela cabeça — são muito raros: um em cada 2,5 milhões de nascimentos. De acordo com especialistas, as taxas de sobrevivência também são baixas: dois em cada cinco nascem mortos ou morrem durante o parto. Além disso, um terço dos que resistem à gestação e ao parto acabam morrendo nas primeiras 24 horas de vida. Não foi o caso das gêmeas paquistanesas — que ainda encontraram um benfeitor disposto a pagar por todas as despesas médicas decorrentes da separação.  

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     A jornada

    As meninas receberam alta do hospital onde nasceram depois de um mês. Ao saber do caso, um hospital militar se ofereceu para realizar a cirurgia, mas alertou sobre a possibilidade de que uma das gêmeas pudesse morrer durante o procedimento. Zainab não estava disposta a arriscar a vida de uma das filhas.

    Quando as gêmeas tinham três meses, a família foi direcionada para Owase Jeelani, neurocirurgião pediátrico do GOSH. Ao analisar o caso, ele se convenceu de que Safa e Marwa poderiam se separadas com segurança. Mas, para isso, a cirurgia deveria acontecer antes do primeiro ano de vida.

    A partir daí, os preparativos para a viagem até a Inglaterra foram iniciados. No entanto, havia outro obstáculo: os custos. O sistema de Saúde do Reino Unido não cobriria as despesas e Jeelani não conseguiu angariar o suficiente para pagar pelo procedimento mesmo depois de meses. Ainda assim, a família foi para Londres em agosto de 2018 — quando as meninas já tinham 19 meses de vida. 

    O rumo da situação mudou pouco depois. Durante um almoço com uma amiga advogada, Jeelani contou a história das meninas. A amiga entrou em contato com alguém e entregou o telefone para o médico explicar tudo a quem estava do outro lado da linha. O interlocutor era Murtaza Lakhani, um rico empresário paquistanês que se disponibilizou a pagar por tudo. 

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    Os procedimentos

    Para garantir a segurança e sucesso da cirurgia de separação, a equipe médica, composta de 100 profissionais de diversas áreas, usaram o que de melhor a tecnologia tinha a oferecer para criar uma réplica exata da anatomia das gêmeas, a fim de visualizar os crânios e o posicionamento dos cérebros e vasos sanguíneos. Foi nessa réplica que eles treinaram o procedimento.

    A primeira cirurgia aconteceu em 15 de outubro de 2018 e durou quinze horas. O objetivo era separar as artérias que as meninas compartilhavam. O segundo procedimento foi realizado um mês depois. A meta era dividir as veias compartilhadas. Mas havia enormes riscos.

    Durante a cirurgia, os médicos enfrentaram sangramentos, formação de coágulos, queda de pressão sanguínea. A operação acabou vinte horas depois. Os contratempos enfrentados na mesa de cirurgia deixaram consequências: Safa sofreu um acidente vascular cerebral (AVC) — um dos tantos riscos relacionados a esse tipo de intervenção. Agora, a menina apresenta fraqueza na perna e no braço esquerdos. “Para mim, o grande momento será quando ela andar e usar o braço esquerdo adequadamente, porque sei que lhe dei essa fraqueza e, para mim, é algo difícil”, disse Jeelani à BBC.

    A última intervenção precisou ser adiantada em quatro semanas. O coração de Marwa apresentava problemas, pois estava trabalhando por ela e pela irmã. Semanas antes da cirurgia final, os médicos já vinham se preparando para lidar com um grande desafio: após a separação, seria necessário pele para cobrir as duas cabeças. Para isso, eles inseriram bolsas de plástico sob a testa de cada gêmea e na parte de trás do crânio compartilhado. O motivo: permitir uma expansão de pele extra que seria usada para cobrir o topo das cabeças. 

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    Durante a última cirurgia, foram feitos os cortes finais para separá-las permanentemente. Uma vez separadas, cada uma foi para uma sala de cirurgia própria, onde tiveram a cabeça adequadamente moldada pele equipe médica. Todo o procedimento levou dezessete horas. 

    O futuro

    Safa e Marwa receberam alta no começo de julho, mas permanecem em Londres, pois necessitam de fisioterapia diária para ajudá-las a realizar tarefas básicas, como rolar, sentar e manter a cabeça erguida. Apesar de todas as dificuldades enfrentadas, o futuro parece ser promissor. E isso só foi possível graças à generosidade de alguns e a determinação de muitos. “Estamos em dívida com o hospital e com a equipe e gostaríamos de agradecê-los por tudo o que fizeram. Estamos extremamente animados com o futuro”, comentou Zainab.

    A equipe médica do Hospital Great Ormond Street anunciou agora que pretende criar uma instituição de caridade — a Gemini Unwined (Gêmeos desenrolados, em tradução livre) — cuja função é arrecadar fundos para a realização de pesquisas médicas e científicas, além de estudar tratamento de condições que possam exigir cirurgias complexas, incluindo separação de gêmeos siameses. 

    Esse não é o primeiro caso de gêmeos craniópagos solucionado pelo hospital britânico. Antes de Safa e Marwa, a equipe já havia separado outros dois pares de gêmeos. No ano passado, um caso parecido também foi realizado no interior do Estado de São Paulo, quando as gêmeas siamesas Maria Ysabelle e Maria Isadora foram separadas após cinco operações.

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