No ano passado, um grupo de pesquisadores anunciou a criação de um gel contraceptivo para uso exclusivo dos homens. Desde então, a equipe passou a recrutar casais para testar a qualidade e eficiência do produto. Entre os 449 casais que participam do estudo estão os escoceses James Owers, de 29 anos, e Diana Bardsley, de 27 anos.
O gel, de uso diário, vem sendo utilizado por James desde fevereiro, associado a outro método contraceptivo. Há uma semana, no entanto, ele foi orientado a usar apenas o novo método como forma de contracepção – para que seja possível verificar na prática sua eficácia.
Em entrevista a um programa de rádio da BBC, James falou sobre a sua experiência com o produto. “Eu espremo um pouco do gel de uma embalagem que parece com uma pasta de dente. Tem a consistência de álcool em gel. Eu esfrego o gel no meu ombro e na área peitoral. Seca em três a quatro segundos. Depois, eu faço isso no outro ombro. Em seguida, me visto e dou início ao meu dia normalmente”, revelou.
A escolha do formato de administração do medicamento está associada ao tipo de composto utilizado na formulação. Segundo os pesquisadores, os hormônios utilizados na produção – progesterona e testosterona – duram mais tempo e funcionam melhor quando a dose é aplicada através da pele. Isso acontece porque, quando em pílula oral, a testosterona apresenta baixa taxa de permanência no corpo e a progesterona sequer é absorvida pelo organismo.
No formato em gel, elas demonstram melhores resultados. “Juntos, os dois hormônios ajudam a desligar a parte do cérebro que ordena que os testículos produzam esperma. Mas, como há testosterona no gel, não há remoção de nenhum dos traços masculinos. E também não vai prejudicar a libido. Além disso, a progesterona não traz nenhum tipo de efeito feminino”, explicou John Reynold-Wright, coordenador do estudo, à BBC.
A experiência
Segundo James, os efeitos colaterais negativos foram mínimos. “Não senti nenhuma mudança no humor. Eu fiquei com algumas pequenas manchas nas costas, mas já estão saindo. E ganhei cerca de um quilo – mas provavelmente foi por causa da cerveja, sendo bem honesto”, contou. Ele contou também que desde que começou a utilizar o gel, notou uma mudança na libido. “Um dos efeitos colaterais é um aumento no desejo sexual”.
Ele ainda revelou que participar do estudo traz benefícios que vão além da medicina. “O mais positivo para mim é que eu estou podendo participar de uma mudança no discurso sobre a contracepção. Os meus amigos e colegas no trabalho vem me perguntar sobre isso, perguntando quando vai estar disponível e várias outras coisas”, disse. Para James, a ideia da disponibilidade de um contraceptivo masculino – seja o que ele está ajudando a testar ou outros que possam surgir – inspiram otimismo.
No entanto, a equipe responsável pelo estudo alerta que pode levar alguns anos até que o gel seja comercializado. “Esse teste está observando centenas de homem de perto para garantir que [o método] seja seguro, efetivo e bem tolerado [pelo corpo]. Depois disso, nós vamos fazer um teste muito maior. Então, nós estamos certamente falando de mais de 10 anos”, explicou Cheryl Fitzgerald, da Universidade de Manchester, na Inglaterra, à BBC.
Uma folga para as mulheres
A presença de um anticoncepcional masculino pode significar uma mudança na vida das mulheres. A parceira de James, por exemplo, já está conhecendo uma nova realidade. “Uma das coisas mais fantásticas para mim é que eu tomei anticoncepcional desde os 16 anos. E isso (o gel contraceptivo masculino) me permitiu fazer uma pausa por um ano”, contou. Segundo ela, proporcionar maior direito de escolha para os homens ajuda a retirar o fardo da contracepção, que está geralmente em cima das mulheres.
Por enquanto, o gel contraceptivo masculino é apenas uma possibilidade para o futuro, mas vem se mostrando promissora. Os pesquisadores esperam que a taxa de proteção fiquem entre 97% e 99% – similar as taxas da pílula anticoncepcional feminina.
Eles ainda explicaram que, se utilizado adequadamente, seguindo as aplicações diárias, a chance de falha é mínima. No caso de o homem esquecer de utilizar por um dia, em teoria, não haveria consequências. O problema estaria em interromper o uso por mais de três dias. Para a especialista, as taxas de falha do gel são menores do que a dos preservativos (12% a 13%) e das pílulas hormonais (7%).