Ibuprofeno deve ser evitado como tratamento para coronavírus, diz OMS
Orientação da organização vem após alerta feito pelo Ministro da Saúde da França; estudo recente publicado na 'The Lancet' corrobora a recomendação
Nesta terça-feira 17, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que o ibuprofeno não seja usado para tratar possíveis sintomas de Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus. “Em casos suspeitos, recomendamos paracetamol, e não ibuprofeno”, declarou um dos porta-vozes da organização, Christian Lindmeier. O alerta é direcionado para casos em que a ingestão do medicamento é feita sem orientação médica.
A orientação vem após um alerta feito pelo ministro da Saúde da França, Olivier Véran, em uma publicação no Twitter, no sábado 14. Segundo Véran, o uso de alguns anti-inflamatórios, como ibuprofeno e cortisona, pode piorar a doença causada pelo novo coronavírus.
⚠️ #COVIDー19 | La prise d’anti-inflammatoires (ibuprofène, cortisone, …) pourrait être un facteur d’aggravation de l’infection. En cas de fièvre, prenez du paracétamol.
Si vous êtes déjà sous anti-inflammatoires ou en cas de doute, demandez conseil à votre médecin.— Olivier Véran (@olivierveran) March 14, 2020
“A ingestão de anti-inflamatórios [ibuprofeno, cortisona…] pode ser um fator para agravar a infecção. Em caso de febre, tome paracetamol. Se você já está tomando medicamentos anti-inflamatórios, peça conselhos ao seu médico”, escreveu Véran, médico especializado em neurologia.
A recomendação veio no mesmo dia em que o governo francês informou que “graves efeitos adversos” relacionados ao uso de anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) – a família de medicamentos que inclui o ibuprofeno – “foram identificados entre os pacientes” afetados pela Covid-19. “Repetimos que o tratamento de febre ou dor associada à Covid-19 ou a qualquer outra doença viral respiratória deve ser paracetamol”, dizem as novas diretrizes do Ministério da Saúde da França.
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O alerta foi criticado por especialistas em saúde de outros países, que citaram a falta de evidências científicas sobre a associação entre o ibuprofeno e efeitos adversos do coronavírus. Porém, um estudo publicado recentemente na renomada revista científica The Lancet mostra que medicamentos que ativam a ECA2, um receptor presente naturalmente no corpo humano, podem potencializar a ação do novo coronavírus.
Isso acontece porque o novo coronavírus usa esses receptores ECA2 para invadir as células de suas vítimas, segundo um estudo anterior publicado na revista Science. Logo, a presença de uma maior quantidade desses receptores no organismo levaria a uma potencialização da ação do vírus. Vale ressaltar que o estudo da The Lancet foi apenas observacional e não indica uma relação de causa e consequência.
Diversos estudos anteriores mostraram que o uso de anti-inflamatórios por pessoas com doenças infecciosas pode ser um risco porque eles tendem a diminuir a resposta do sistema imunológico do corpo. Um estudo publicado no BMJ mostrou que pacientes com infecções respiratórias, como tosse, resfriado e dor de garganta que receberam ibuprofeno em vez de paracetamol, tiveram maior probabilidade de sofrer doenças ou complicações graves. “Existem boas evidências científicas para o ibuprofeno agravar a condição ou prolongá-la”, disse o virologista Ian Jones, da Universidade de Reading, no Reino Unido, ao jornal The Guardian.
“Não recomendamos anti-inflamatório por causa dos efeitos colaterais”, disse o infectologista Celso Granato, diretor médico do Grupo Fleury. O paracetamol, por outro lado, seria capaz de reduzir a febre sem atrapalhar a resposta do corpo à infecção. Porém, diversos estudos também associaram o uso de paracetamol a problemas de saúde.
Vale lembrar que a recomendação do Ministério da Saúde de da França específica para o uso de ibuprofeno e outros anti-inflamatórios no tratamento de coronavírus. Quem já faz uso de ibuprofeno e outros medicamentos que aumentem receptores ECA2 não devem, em hipótese alguma, parar de tomar o medicamento por conta própria. Parar um tratamento é tão perigoso quanto a automedicação. Em caso de dúvidas, o ideal é conversar com seu médico.