Uma das doenças mais prevalentes em nossa população, a hipertensão é um dos principais fatores de risco por trás de infarto e derrame, as maiores causas de morte no Brasil. Silencioso, o problema marcado por uma espécie de “aperto” nas artérias não está sob o devido controle em cerca de 70% dos indivíduos com pressão alta no país.
É para reverter esse número e a ameaça que ele representa que a Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH) lançou, durante seu congresso em São Paulo, o projeto Aliança Onda: Menos Pressão, Mais Ação! A meta é ampliar a conscientização sobre a condição crônica e engajar a população em seu diagnóstico e tratamento adequado.
Por que é um perigo
A hipertensão entra em cena quando a pressão arterial atinge ou ultrapassa o valor de 140 por 90 milímetros de mercúrio, sendo que o ideal é que, em geral, permaneça na casa dos 120 por 80 – o famoso “12 por 8”. Com o envelhecimento populacional e o avanço de fenômenos como a obesidade, o número de hipertensos dobrou entre 1990 e 2019, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS).
Calcula-se que existam hoje mais de 1,3 bilhão de pessoas com o problema, nem sempre diagnosticado pela ausência de sintomas. Não raro, a primeira manifestação clínica da hipertensão é um ataque cardíaco ou um acidente vascular cerebral (AVC). Além de comprometer as artérias do coração e do cérebro, a doença abre caminho a danos nos vasos que irrigam os rins, os olhos e os membros inferiores.
O cenário é de alarme no país porque, pelas estimativas dos especialistas, apenas 30% dos pacientes estão com a pressão sob controle. “Isso acontece por não seguirem o tratamento indicado da forma correta, não tomarem medicamentos ou mudarem seus hábitos”, declarou o cardiologista Luiz Bortolotto, membro da diretoria da SBH e presidente do congresso da especialidade.
O controle da hipertensão é feito com ajustes no estilo de vida – o que engloba, entre outras coisas, prática regular de atividade física e adesão a uma dieta mais saudável -, bem como monitoramento da pressão e uso diário de remédios prescritos pelo médico. “Por ser uma doença silenciosa, o problema que é o paciente não enxerga o resultado do tratamento de forma clara, podendo interrompê-lo por conta própria, um grande erro”, observa Bortolotto, que também é professor da USP.
O que propõe a iniciativa
A OMS defende mobilizar as nações para que ao menos 50% dos hipertensos estejam com a pressão dentro das metas até 2050 – o que evitaria a morte de 76 milhões de pessoas, de acordo com as contas da entidade. O objetivo do projeto Aliança Onda, da SBH, é mais ousado: chegar aos 70%.
Seus idealizadores ressaltam que a missão tem impactos drásticos na saúde pública, não só em termos de qualidade de vida para os pacientes, mas também na esfera das despesas do SUS e de organismos privados.
O desafio começa pelo diagnóstico. Alguns estudos sugerem que metade das pessoas com hipertensão sequer teve a condição detectada por um médico. A aferição da pressão em consultório é uma medida anual que, desde a infância, deve ser realizada a fim de se flagrar a ameaça quanto antes.
A Aliança Onda defende, além disso, mudanças de hábito comprovadamente eficazes no controle dos níveis de pressão. O pacote inclui:
- Seguir uma alimentação equilibrada, com baixa ingestão de sal
- Prática regular de exercícios (ao menos 150 minutos por semana)
- Controle do peso (manter o índice de massa corporal, o IMC, abaixo de 25)
- Não fumar e moderar na bebida alcoólica
Para alcançar o ambicioso propósito até 2030, o projeto da SBH contará com parcerias públicas e privadas e incentivará o uso de recursos tecnológicos capazes de engajar os pacientes no monitoramento e na adesão ao tratamento – caso de ferramentas digitais como aplicativos de celular e smartwatches que ajudam a checar a situação e a lembrar de tomar os remédios, por exemplo.