Lentes para luz azul não reduzem cansaço causado pelas telas, diz estudo
Acessório ficou em alta, mas carece de comprovação, segundo trabalho conduzido pela Universidade de Melbourne, na Austrália
Com o mundo ligado nas telas, a luz azul transitou do meio acadêmico ao senso comum. Ela é conhecida por ser emitida pelas telas dos dispositivos móveis e considerada importante por influenciar a regulação do ciclo vigília-sono. Em excesso, supostamente teria a capacidade de provocar danos na visão.
Por isso, quem é usuário de óculos já deve ter ouvido falar sobre as lentes com filtro de luz azul. O produto é amplamente comercializado com promessas de proteger os olhos, melhorar o sono e reduzir a fadiga decorrente do excesso do uso de telas.
Entretanto… “Nossa revisão não apóia o uso de lentes com filtro de luz azul se você for um adulto saudável com o objetivo de reduzir a fadiga ocular com o uso do computador”, disse Laura Downie, autora sênior da mais nova revisão sobre o assunto e professora na Universidade de Melbourne, na Austrália.
Seu trabalho avaliou 17 estudos, de seis países, em que foram comparados participantes fazendo uso dos óculos com a lente especial e outros, de itens com lentes comuns. Após analisar os dados disponíveis, os responsáveis concluíram que não foram encontradas evidências que endossassem os supostos benefícios na redução da fadiga ou melhora do sono.
Apesar de ser uma novidade, o trabalho de Downie confirma o que os profissionais da visão têm dito há algum tempo sobre os óculos populares. No ano passado, a Academia Americana de Oftalmologia afirmou que a luz azul não causa fadiga ocular, não danifica as retinas nem conduz a doenças como a degeneração macular.
Para isso, a sociedade médica citou que estudos sobre luz azul mostrando danos às células foram realizados em células de uma placa e em animais. Os experimentos não “imitaram as condições naturais de exposição à luz azul para olhos humanos vivos e não usaram luz azul de telas de computador”, disse a academia em um artigo.
A principal explicação para a fadiga que sentimos ao passar o dia em frente às telas se deve ao fato de piscarmos pouco, o que deixa os olhos mais ressecados. A Associação Americana de Oftalmologia cita, por exemplo, que normalmente um indivíduo pisca 15 vezes por minuto, mas que essa taxa pode cair pela metade ao utilizar dispositivos com tela.
Já o pesquisador e também autor da revisão australiana Sumeer Singh afirma que “a quantidade de luz azul que nossos olhos recebem de fontes artificiais, como telas de computador, é cerca de um milésimo do que recebemos da luz natural do dia”. E sublinha que que as lentes apenas “filtram cerca de 10 a 25% da luz azul”.