Em geral, a lipoaspiração é considerada um procedimento seguro. Mas, como toda cirurgia, ela pode trazer riscos. Um novo artigo, publicado no periódico científico BMJ Case Reports, trouxe à tona uma complicação rara que quase custou a vida de uma mulher de 45 anos, na Inglaterra: a embolia gordurosa, caracterizada pela ruptura de células de gordura do tecido adiposo, que atingem o sistema circulatório e bloqueiam o fluxo de sangue e oxigênio.
A cirurgia
No artigo, eles relatam que a mulher sofria de obesidade e tinha um acúmulo anormal de gordura, chamado lipoedema, nas pernas e nos joelhos – regiões que receberam o procedimento a fim de ajudá-la no processo de perda de peso, uma vez que o excesso de gordura dificultava sua mobilização.
A cirurgia ocorreu sem complicações e os médicos conseguiram remover cerca de 10 litros de gordura, mas, depois de 36 horas ela começou a se sentir sonolenta, confusa e com dificuldade para respirar.
Diagnóstico difícil
Sua frequência cardíaca aumentou e o nível de oxigênio diminuiu drasticamente, o que ajudou a determinar o diagnóstico clínico da embolia. Além disso, a paciente possuía alguns fatores de risco associados à condição, como o índice de massa corporal (IMC) elevado e o grande volume de gordura retirado de uma só vez.
A embolia gordurosa pode levar à insuficiência cardíaca, alteração no sistema nervoso ou se tornar ainda mais grave – levando à síndrome da embolia gordurosa – que causa hemorragias, edemas e lesões mais profundas nos órgãos afetados, até mesmo falência múltipla. Nesse caso, petéquias, pequenos pontos avermelhados pelo corpo, podem ser um dos sinais da doença.
Segundo os médicos, a condição é difícil de diagnosticar por não existirem sintomas iniciais, o que representa um desafio ao detectá-la ainda em vida. Os primeiros sinais da embolia gordurosa podem surgir depois de horas ou dias após o trauma ou quando o paciente já está em estado crítico, com lesões que podem se tornar irreversíveis.
Recuperação
Apesar do susto, a paciente conseguiu se recuperar. Depois de duas semanas, ela recebeu alta e, após dois meses continuava a progredir bem. Caso a equipe médica não tivesse detectado e reagido rapidamente ao problema, a embolia poderia ter levado a óbito. No entanto, os médicos ressaltaram que não existem tratamentos específicos para a condição, apenas cuidados de suporte até que o organismo se recupere por conta própria.
Caso raro
Embora a condição seja mais frequente após fraturas, ela já foi relatada em dois outros casos de lipoaspiração. De acordo com o artigo, pessoas obesas são mais propensas a complicações durante a cirurgia, assim como aquelas que têm uma maior tendência para a retenção de líquidos ou cujo procedimento teve longa duração.
Para os especialistas, é preciso discutir amplamente com o cirurgião sobre os prós e os contras que envolvem a lipoaspiração nesses casos.