No começo, parecia um simples resfriado. Antes de viajar para o Rio para apresentar o Jornal Nacional, no sábado 7 de março, eu já tentava me prevenir contra uma gripe que costumo ter em períodos com variação de temperatura, o que vem acontecendo no Piauí. Mas não tive grandes problemas por lá. Quando retornei, contudo, senti que o resfriado estava mesmo chegando. Espirrava muito. Fiquei assim toda a semana. Na sexta-feira 13, eu me dirigi ao hospital e passei por exames de raio X e de sangue, mas nada grave foi constatado. Fui liberado após fazer inalação. No sábado, festa de aniversário de 1 ano do meu filho, eu me sentia bem. Na madrugada de domingo, o quadro mudou. Tive febre e voltei ao pronto-socorro. Saí de casa bem, eu mesmo dirigi o carro. Os primeiros exames apontaram uma pneumonia grave e fui informado de que ficaria internado. Passei por mais exames, inclusive o de Covid-19, mas estava confiante de que não seria isso. Após dois dias de internação, a febre ficou mais frequente, eu tossia muito e tinha dificuldade para respirar. O desespero bateu quando precisei me levantar da cama para ir ao banheiro. Senti um cansaço como se tivesse corrido por horas. A madrugada foi horrível. Na manhã seguinte, o médico disse que eu iria para a UTI. Tinha medo de ser intubado, mas da forma que estava era inevitável. Foi a pior sensação da minha vida: entrar na UTI consciente, sabendo que iria “apagar”. Meu receio era não voltar. Acordei na hora em que estavam colocando o tubo, tentei sair, mas logo apaguei novamente. No mesmo dia, minha família e os médicos receberam o resultado positivo para Covid-19. Dos doze dias internado, fiquei oito na UTI, seis deles intubado. Mas Deus cuidou de mim o tempo todo! Meu tratamento foi à base de orações, uma forte corrente de fé; e, no hospital, os médicos combatiam a doença usando a combinação dos medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina. Passei seis dias “dormindo”, enquanto minha família, amigos e pessoas que acompanham meu trabalho sofriam. Quando melhorei e o tubo foi retirado, acordei pensando que havia estado apenas uma noite ali. Só então soube que tinha contraído a Covid-19. Fiquei chocado.
Permaneci na UTI com uma equipe de anjos que cuidaram muito bem de mim. Ainda bastante fraco, um dia pedi ao enfermeiro para tomar banho sozinho. Ele explicou que eu não tinha condições, mas insisti. Quando saí do banheiro, eu me sentei por um tempo na poltrona. Todos ficaram surpresos. “É outro homem”, diziam. Foi a hora da virada. Só após o oitavo dia na UTI vi minha esposa. Já me sentia vivo de novo. Quando pude assistir à TV, percebi a repercussão em todo o Brasil. Tomei um susto ao ver William Bonner e Renata Vasconcellos falando do meu estado de saúde. Fui melhorando, mas faltava o principal: o novo teste da Covid-19. No 12º dia, ele chegou: negativo! Não poderia ter recebido notícia melhor. No mesmo dia tive alta médica e voltei para casa com uma saudade enorme da família. Nas semanas seguintes, por videochamada, tive os cuidados de um otorrino e fiz exercícios com uma fonoaudióloga, além de contar com a ajuda de uma fisioterapeuta e um infectologista. Essa doença é muito séria. Quando atinge alguém de forma grave, pode matar. Enfrentei dias difíceis, mas logo entendi que se tratava de uma missão: conscientizar as pessoas que não tem essa de grupo de risco, todos correm risco. Mesmo jovem e sem problema de saúde, fui infectado e precisei de UTI. Se não tivesse um leito disponível com respirador mecânico, não sobreviveria. Por isso defendo o isolamento social até que tudo seja controlado. Quem pode deve ficar em casa. Isso tudo vai passar, vamos vencer, mas até lá não dá para baixar a guarda. A experiência me fez repensar a vida, valorizar cada detalhe. Graças a Deus, renasci para viver minha nova história.
Depoimento dado a Eduardo F. Filho
Publicado em VEJA de 29 de abril de 2020, edição nº 2684