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Margot Vries, 100 anos: “Obedeça seu corpo. Ele diz se você está bem”

Ela ensina a receita de longevidade em um novo estudo sobre o assunto no país

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 1 fev 2025, 14h38 - Publicado em 1 fev 2025, 08h00

Era tudo muito, muito diferente em 1924, quando nasci. Minha mãe não podia amamentar e a solução mais apropriada que meu pai encontrou foi me dar leite de cabra, que tomei por bastante tempo, até quando já podia comer. Faziam uma papinha com aveia fina, bem cozida com leite, e era uma refeição mesmo. Fui criada com tudo muito natural. Tinha bastante fruta e quase nunca chocolate. A vida era baseada na moderação. Nunca comer, comer e comer. Sempre mastigando bem, devagar, e, se o corpo achava que era o suficiente, bastava. Meu pai era químico e conheceu minha mãe na Alemanha. Eles se casaram em 1918 e vieram para o Brasil logo depois. Foram 21 dias sofrendo em um navio até chegar a Santos. Meu pai morreu aos 82 anos; minha mãe, aos 87.

Olha, durante a minha vida tive sarampo, coqueluche, escarlatina, rubéola, varíola, hepatite… Dei à luz quatro filhos, e nunca senti enjoo na gravidez. Em 1987, sofri um acidente de carro e quebrei as duas pernas. Também já quebrei a mão e a bacia, e vivo há 67 anos sem a vesícula. E ainda tive covid duas vezes. Digo que a única coisa que não quebrei foi a língua. Não tomo nenhum remédio — e é um sacrifício quando preciso tomar. Não tenho diabetes, pressão alta ou outra doença. Se eu sei que algo não me faz bem, sigo a minha autodisciplina e evito. O meu pai sempre falava: “Obedeça seu corpo. É ele que diz se você está ou não bem de saúde”.

Puxei a linha do meu avô, e cuidei de um restaurante, onde cozinhei até 1998. Fazia feijoada, que era o carro-chefe, e lombo recheado. Servia com arroz, salada, beterraba em conserva, farofa, mas só provava a comida. Tirava toda a gordura e não comia frituras, porque não me fazem bem. Mas eu bebia. Trabalhava em dois fogões com seis bocas e fazia muito calor. O garçom me perguntava se eu queria alguma coisa e eu pedia um copo de caipirinha de pinga boa com menta e gelo. Nada de gim, vodca ou uísque. Fui educada para me respeitar da mesma forma como devemos respeitar os outros, e não vou em conversa de ninguém. Tenho meu estilo de pensamento e meu sistema. E a disciplina, claro. Todas as manhãs, como mamão e tomo café com leite — nada de manteiga, gordura ou geleia. À noite, só comida leve.

Também não guardo mágoas. Tive muitos amigos, e eles sempre estiveram por perto. Aprendi que, se alguém ofende você, não vale responder na hora. Vai dormir uma noite e se, no dia seguinte, continuar com vontade de falar, reaja. O que eu amo muito são os animais, principalmente cachorro, cavalo e coelho. Sou protestante luterana e temos ensinamentos que sigo até hoje. Rezo sempre para que Deus me guie e que eu não saia dos eixos. Perdi a visão por causa do glaucoma e, agora que não enxergo, até acho que tenho mais foco. Antes eu ficava olhando para lá e para cá, porque eu penso o tempo todo. Penso no passado, mas também quero ouvir as notícias e adoro saber as contas que temos de pagar.

Mas o mundo está realmente diferente. Pode falar palavrão? Para mim, essa falta de amor-próprio, respeito e educação entre as pessoas é um horror. Acho que virei peça de museu (risos). Mas agora estão fazendo esse estudo sobre os idosos com mais de 100 anos (referência a uma pesquisa da USP e da operadora de saúde Hapvida NotreDame Intermédica que investiga as características biológicas e genéticas de centenários; Margot, moradora de Mogi das Cruzes (SP), é uma das voluntárias), e a Rose, minha nora, que se dedica a cuidar de mim há 24 anos, me acompanha nesse processo. Vamos ver o que descobrem… Eu nem sabia que muita gente com 100 anos não tinha a memória boa. Para falar a verdade, não sou boa em dar conselhos.

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Margot Vries em depoimento a Paula Felix

Publicado em VEJA de 31 de janeiro de 2025, edição nº 2929

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