Método inovador reduz risco de impotência após cirurgia de câncer de próstata
Cerca de 38% tiveram disfunção erétil severa, frente a 56% dentre os pacientes que passaram pelo procedimento convencional

A disfunção erétil e a incontinência urinária são dois dos efeitos colaterais mais comuns em pacientes submetidos a prostatectomia, cirurgia que remove a próstata em função do câncer. Agora, esse risco pode diminuir consideravelmente. Em um artigo publicado esta semana, pesquisadores descrevem um método capaz de acelerar a reabilitação da continência e dobrar o número de pacientes que conseguem recuperar a função erétil.
Os resultados foram apresentados no Congresso Europeu de Urologia, em Madrid, publicados na The Lancet Oncology e descrevem um ensaio clínico que avalia o efeito do método conhecido como NeuroSAFE na impotência e na disfunção erétil. “É um procedimento complexo que exige expertise, mas não é caro, especialmente considerando os benefícios que oferece aos pacientes, e, mais importante, não compromete o controle do câncer”, afirma Greg Shaw, líder do estudo, na University College London, em comunicado.
Os dados são animadores. Após avaliar o caso de 344 homens submetidos a operação, os pesquisadores constataram que enquanto na cirurgia robótica convencional apenas 23% dos indivíduos não tiveram um grande impacto na função erétil, com o método NeuroSAFE esse número sobe para 39%. Já no caso das disfunções severas, a taxa cai de 56% na intervenção padrão para 38% na técnica proposta.
Não houve diferença no número de pacientes que recuperam a continência urinária, mas os autores afirmam que com o método descrito, a reabilitação dessa função ocorreu mais rapidamente.
“A cirurgia robótica foi a última grande conquista na técnica cirúrgica”, disse a VEJA Carlo Passerotti, urologista e cirurgião do Centro Especializado em Urologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, que estava presente no congresso. “Agora, esse avanço é para tentar melhorar a potência e o controle oncológico.”
O que é a NeuroSAFE?
O método NeuroSAFE não é exatamente novo. Ele foi desenvolvido há mais de uma década no Centro de Câncer de Próstata da Martini-Klinik, em Hamburgo, na Alemanha. “Utilizamos o NeuroSAFE na maioria dos 2.500 pacientes com câncer de próstata que tratamos anualmente, e é ótimo ver a técnica sendo avaliada em um ensaio clínico randomizado pela primeira vez”, disse Derya Tilki, professora da instituição, em comunicado.
A diferença entre esse método e o tradicional é que ele oferece uma ferramenta em tempo real para avaliar se o cirurgião pode ou não preservar os nervos da próstata. De maneira simplificada, os nervos que controlam o fluxo de sangue para o pênis ficam na parte mais externa da próstata. Convencionalmente, os cirurgiões fazem análises de imagem durante os exames pré-operatórios para avaliar se essa parte da glândula foi afetada pelo tumor, avaliando, assim, se ela precisa ser retirada.
Já no método NeuroSAFE, o tecido tumoral é avaliado por um patologista assim que ele é retirado, enquanto o paciente ainda está na mesa de cirurgia. Caso o profissional constate que o tumor todo já foi removido, os nervos são preservados. Por outro lado, se as evidências indicarem que a parte externa da próstata também tem células cancerígenas, o cirurgião é informado que essa parte precisa ser removida, comprometendo os tecidos envolvidos na ereção.
“Esse não é um avanço na técnica cirúrgica, mas é algo que você pode fazer em casos específicos para aumentar a chance de preservação, especialmente quando o paciente estiver muito preocupado com a perda de potência”, diz Passerotti.