O melhor dos mundos: manter o corpo forte, musculoso, sem muito esforço, longe da academia. O pior dos mundos: é ideia que soa utópica, mero sonho de uma noite de verão, impraticável. Foi sempre assim até que, na semana passada, pesquisadores da Universidade de Michigan revelaram os resultados de um pioneiro estudo.Eles descobriram que uma proteína chamada sestrina pode levar aos principais efeitos do exercício, como ganho muscular, queima de gordura e aumento da capacidade pulmonar, sem a necessidade de atividade física. A sestrina é gerada naturalmente pelos músculos quando eles são exigidos.Os cientistas acreditam ser viável induzir a produção da substância — e, então, adeus suor. “É possível que, no futuro, algum suplemento ou medicamento à base de sestrina consiga emular a ginástica”, diz Jun Hee Lee, do Departamento de Fisiologia Molecular e Integrativa do Centro Geriátrico da Universidade de Michigan.Trata-se de uma fascinante avenida de possibilidades, especialmente para idosos com perda de massa muscular causada pelo envelhecimento. Ressalve-se que a importância da atividade física para o bem-estar já foi descoberta há muito tempo e é inesgotável terreno de apostas científicas. Direto ao ponto: praticar exercícios regularmente é a mais decisiva intervenção para prevenir e controlar doenças crônicas. No entanto, dado o cotidiano que nos empurra para o sedentarismo, essa é uma postura quase quimérica, que muitos procuram pôr em prática mas nem todos conseguem realmente realizar.Por isso o anúncio da forma esbelta sem canseira, de uma cápsula destinada a moldar os músculos, provocou tanta estupefação. De qualquer maneira, é cedo para celebrar. A pesquisa americana foi realizada com cobaias de laboratório. Há otimismo, mas distante ainda da certeza de efeito em humanos. Mesmo que, de fato, a sestrina leve aos objetivos desejados, do ponto de vista muscular, além de acelerar a capacidade aeróbica e promover a queima de gordura, faltará algo essencial, insubstituível e que de modo algum pode ser subtraído: a movimentação do corpo.“Um suplemento não tem o poder de mexer nos fatores humanos e emocionais proporcionados pelos exercícios”, diz o educador físico Gustavo Cardozo, diretor técnico do Espaço Stella Torreão, no Rio de Janeiro. “Os reais benefícios e sobretudo a sensação de realização, percebida a olho nu, só podem ser obtidos com o treinamento no mundo das coisas reais.” Esse é um raciocínio que cai como uma ducha de água fria, mas não pode ser sonegado. Não existe, definitivamente, uma pílula mágica. O mais provável, intuem especialistas ouvidos por VEJA, é que possa haver uma associação entre o treino e a sestrina.Não é a primeira — nem será a última — tentativa de encontrar uma solução para perder peso e ter um corpo saudável pendurado no ócio. Um medicamento desenvolvido pelo Instituto Salk de Estudos Biológicos, na Califórnia, está há mais de dez anos em testes. Batizado de 516, ele teria a capacidade de fazer o corpo quebrar gordura em vez de carboidratos ao alterar os sinais que seus genes enviam para os músculos. Na Universidade de Southampton, na Inglaterra, pesquisadores analisam uma substância chamada composto 14, afeita a fazer as células queimar gordura ao simular a falta de energia. Essa estratégia foi capaz de reduzir os níveis de glicose no sangue e derreter 5% do peso corporal de camundongos obesos e sedentários. Outra maneira de tentar melhorar a forma física sem dificuldade é utilizar aparelhos de choque que definem os músculos, vendidos à vontade em programas de televisão.No entanto, continua a valer o mantra um tanto batido, mas insuperável: no pain, no gain, na expressão original, em inglês. Sem dor, sem ganhos. A regra é esta: no mínimo, 150 minutos semanais de caminhadas rápidas e dois treinos de exercícios de força por semana. Que venha a era da sestrina. Publicado em VEJA de 22 de janeiro de 2020, edição nº 2670