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Não é só a comida! O que contribui com o aumento da obesidade no Brasil?

Idade, renda e falta de atividade física estão associadas à doença que acomete seis entre dez brasileiros, aponta estudo da FGV

Por Simone Blanes Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 27 abr 2023, 11h36 - Publicado em 27 abr 2023, 11h33
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  • Segundo dados do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), seis a cada dez brasileiros estão com sobrepeso no Brasil. E de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 600 milhões de pessoas são consideradas obesas no mundo. Índices alarmantes da obesidade – doença causada pelo excesso de peso, quando um indivíduo atinge o Índice de Massa Corporal (IMC) igual ou maior que 30 quilos por metro quadrado – provocados especialmente por idade, condições socioeconômicas e falta de atividade física, como identificou um novo estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV), baseado em dados da Pesquisa Nacional em Saúde (PNS) – que apontou uma taxa atual de obesidade no Brasil em 20,1% da população-  e da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF).

    Segundo Marcio Holland, pesquisador da Escola de Economia de São Paulo (FGV EESP) e coordenador do estudo, o estilo de vida e modo de trabalho, bem como o fato de um indivíduo residir em zonas urbanas, aumentam a probabilidade de excesso de peso. E muitas pessoas acreditam que a obesidade está associada principalmente ao consumo de determinados alimentos. O trabalho, porém, indica que não é bem assim. “Ao comparar indivíduos com peso normal e com sobrepeso, não houve diferenças estatisticamente significantes no consumo calórico, com a diferença média sendo de 5 Kcal”, explicou o especialista.

    A pesquisa também fez uma projeção sobre a evolução da obesidade no país: caso a doença permaneça com a mesma taxa de crescimento atual, vai atingir 24,5% da população em 2030. Algumas partes da população estão em maior risco como as de baixa renda, por exemplo, que tem problemas de alta densidade calórica relacionados ao acesso a alimentos mais baratos e pobres em nutrientes. “Dada a complexidade de suas causas, a extensão de seus danos e o status de epidemia mundial, o controle da obesidade não apresenta resposta simples, direta e óbvia”, afirmaram os autores, no relatório final do estudo.

    Obesidade infantil

    Outra questão abordada pela pesquisa alerta para a obesidade infantil, que está associada com a prevalência da doença ao longo de toda vida de uma pessoa. Segundo o trabalho, há indícios de que os hormônios presentes no leite materno contribuem para a saciedade do bebê e essa pode ser uma estratégia para diminuir riscos de doenças crônicas como a obesidade. Assim, a interrupção precoce do aleitamento materno e o modo de vida associado ao sedentarismo, por exemplo, são causas que contribuem para a obesidade infantil.

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    Este risco costuma aumentar conforme o indivíduo vai ficando mais velho, pois crianças e adolescentes possuem índices bem menores de obesidade, atingindo cerca de apenas 6%. Mas uma vez que a obesidade é estabelecida na juventude, fica muito difícil reverter este quadro até a vida adulta. “Quanto mais adulto, maior a probabilidade de ficar obeso. E nosso país possui um envelhecimento da população bastante acelerado”, aponta Holland.

    O levantamento mostra ainda que a obesidade atinge homens e mulheres de formas diferentes, sendo a prevalência maior entre o sexo masculino. “Este é um dado muito interessante visto que a obesidade de uma mulher não costuma ser tão grave quanto o sobrepeso de um homem”, explica o pesquisador. “Isso porque o aumento de peso no público masculino é ligado a região do abdômen e a possibilidade de doenças cardiovasculares, além de afetar os homens mais intensamente em termos de localidade de massa”. Ainda assim, os dados da PNS apontaram a prevalência de 22% de obesidade em mulheres e 18% em homens, enquanto que a taxa de sobrepeso em homem é de 39% e 34% em mulheres.

    Problema de saúde global

    A obesidade também é preocupante porque é associada a outras doenças como a hipertensão, diabetes e colesterol alto, que chega a ser duas vezes maior em pessoas obesas. Os números da PNS indicam 41,5%, 13,4% e 21,7%, para o aumento de possibilidade de obesos desenvolverem cada uma dessas doenças, respectivamente.

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    Sem contar algumas enfermidades respiratórias, como asma ou bronquite, que também são mais frequentes entre as pessoas consideradas obesas (5,9%) e problemas como artrite e problemas na coluna ou nas costas, que acometem respectivamente 11,3% e 24,9% desta parcela da população.

    Por tudo isso, a pesquisa espera apoiar a criação de políticas públicas em saúde, aprofundando os conhecimentos acerca do tema e fazendo um mapeamento sobre as medidas mais efetivas de combate ao excesso de peso no mundo todo. “Não havia, até então, um estudo que reunisse todos esses fatores a fim de identificar quais eram os fatores que tinham mais associação, estatisticamente, com a evolução da obesidade aqui no país”, diz o especialista, chamando a atenção para a importância de aprofundar o tema já que a obesidade, desde a década de 1970, cresceu cerca de três vezes mais no mundo, segundo a OMS. “Estamos utilizando dados da saúde, sob uma perspectiva estatística, para orientar possíveis políticas públicas e entender como atuar melhor, diminuir gastos públicos e os danos na população. Afinal, é melhor gastar com prevenção do que com tratamentos para comorbidades”, finaliza.

     

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