Os dizeres de que beber só um pouquinho durante a gravidez não faz mal ou que a cerveja escura aumenta a produção do leite materno ainda permeiam a sociedade de forma livre, mas são afirmações completamente equivocadas e que podem trazer diversas consequências para o feto e o recém-nascido. O dia 9 de setembro é reservado no calendário mundial para alertar sobre a sequela mais grave: a Síndrome Alcoólica Fetal (SAF).
Bebês que vivem com essa síndrome têm alterações importantes, como de microcefalia (cabeça e crânio pequenos), algumas dismorfias faciais típicas do transtorno são olhos pequenos, lábio superior fino, face plana e fissuras palpebrais curtas.
Em regra, a criança pode apresentar baixo peso ao nascer devido à restrição de crescimento intrauterino, comprometimento do sistema nervoso central com distúrbios de aprendizagem, de memória e da atenção, e dificuldades socioemocionais e comportamentais.
Alguns dos problemas mais frequentes que são verificados são dificuldade na linguagem e, principalmente, no aprendizado de matemática, além do transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH). Na adolescência também pode haver aumento de abuso de drogas.
Subnotificação
Atualmente, a Síndrome Alcoólica Fetal é a principal causa de deficiência intelectual no mundo ocidental. Pesquisas científicas coordenadas na Europa e nos Estados Unidos mostram um caso de SAF para cada 1 mil nascidos vivos. No Brasil, não há dados consolidados sobre a condição, apenas poucos números de universos específicos.
Entretanto, segundo o Ministério da Saúde, estima-se que 15% das gestantes brasileiras consomem bebidas alcoólicas e, além disso, cada vez mais mulheres em idade fértil bebem com frequência elevada. Logo, há uma subnotificação aterradora. “Atendemos uma grande quantidade de gestantes consumidoras de álcool. Inclusive, frequentemente encontramos sinais de sua ação nos recém-nascidos acometidos por essa droga durante a sua vida intrauterina.”, relata Maria dos Anjos Mesquita, neonatologista do Hospital Maternidade Vila Nova Cachoeirinha, na capital paulista.
“A subnotificação ocorre porque a maioria dos médicos não está apta a diagnosticar a SAF por desconhecimento”, afirma Helenilce de Paula Fiod, pediatra e diretora do Serviço de Neonatologia do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo. Isso ocorre devido aos sintomas serem facilmente confundidos. Por exemplo, a microcefalia ligado a outras doenças, como zika vírus ou toxoplasmose – e somente com o histórico da mãe e os exames de sangue ela pode ser diferenciada.
Prevenção
Até o momento, não se conhecem níveis seguros de consumo de álcool durante a gravidez que garantam o nascimento de uma criança isenta dos efeitos maléficos do álcool.
O que os estudos já mostraram é que o álcool é uma substância teratogênica, capaz de produzir danos irreversíveis no embrião e no feto durante a gestação. Não importa o teor alcoólico da bebida, se proveniente de destilados ou fermentados, como cerveja ou vinho.
O álcool entra na corrente sanguínea da gestante, atravessa a placenta e alcança o feto pelo cordão umbilical. Como seu fígado ainda não está preparado para metabolizar essa substância, o bebê fica exposto por mais tempo à mesma quantidade de álcool que circula no organismo da mãe.
Daí, o risco maior de partos prematuros, abortos espontâneos e morte fetal na história de vida dessas mulheres. “É importante lembrar que o cérebro do feto se desenvolve durante toda a gestação e pode ser afetado em qualquer momento. Por isso, durante os nove meses de gestação, não há dose segura!”, diz Helenilce.
Tanto ela quanto Maria dos Anjos fazem parte do Núcleo de Estudos SAF da Sociedade de Pediatria de São Paulo, que tem por objetivo educar a população em idade fértil sobre os efeitos do álcool ingerido na gestação.
Aliado ao Núcleo, o Centro de Informações sobre Saúde e Álcool (CISA), referência nacional no assunto, está à frente da campanha de conscientização. Segundo o CISA, um estudo feito na periferia de São Paulo apontou que, a cada 1 mil nascidos, 38 bebês sofriam de algum transtorno relacionado à ingestão de álcool, por parte da mãe, na gravidez.
No entanto, esse número pode ser muito maior, já que, segundo a entidade, nem 1% das crianças afetadas são diagnosticadas.