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Novo boletim aponta impactos do racismo para população negra no Brasil

Ministério da Saúde retoma análise após oito anos como ferramenta para reduzir desigualdades raciais; notificação de doença falciforme vira compulsória

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 23 out 2023, 19h49

Após uma lacuna de oito anos, o governo federal retomou a análise dos indicadores de saúde pelo critério raça-cor e apresentou, nesta segunda-feira, 23, a segunda edição do Boletim Epidemiológico Saúde da População Negra, que apontou os impactos negativos do racismo para esse grupo: mais de 60% dos casos de HIV, tuberculose e sífilis ocorrem nessa população. Na divulgação, que faz parte de um conjunto de estratégias para reduzir as desigualdades raciais, foi feito o anúncio de que a doença falciforme passa a ser condição de notificação compulsória.

“Onde há racismo não é possível haver saúde. Essa iniquidade social dificulta o acesso à saúde e influencia a qualidade do serviço buscado e no desfecho da saúde”afirma, no documento, a ministra da Saúde Nísia Trindade.

No recorte de uma década, de 2011 a 2021, o ministério detectou que houve aumento nos casos de HIV registrados em gestantes negras, que passou de 62,4% para 67,7% – nas grávidas de 15 a 29 anos, o índice atingiu 69,6% -. Na análise da população negra e parda em geral, foi constatado um aumento dos diagnósticos positivos para o vírus, com salto de 50,3% para 62,3%.

Em relação à tuberculose, o cenário foi semelhante. No período de 2010 a 2022, cerca de 60% os casos de tuberculose estavam concentrados nesse grupo. No ano passado, quando foi registrado recorde de notificações no país, das 78 mil pessoas diagnosticadas, 49.381 eram pardas e pretas, o que corresponde a 63,3% dos episódios. O Brasil planeja zerar o número de casos da doença até 2035.

Para sífilis adquirida, transmitida por sexo desprotegido ou transfusão de sangue, as pessoas negras são as mais infectadas, principalmente na faixa etária até os 14 anos (64,6%).

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“Essa pauta deve ser uma perspectiva e não um tema isolado, para que todas as ações do Ministério da Saúde, do Mais Médicos ao Complexo Econômico-Industrial da Saúde, a dimensão étnico-racial seja, de fato, vista como determinante social da saúde”, declarou Nísia durante o evento.

Doença falciforme

O boletim também traz, pela primeira vez, uma panorama sobre a doença falciforme, condição genética que afeta principalmente a população preta e parda. São estimados 60 mil a 100 mil casos no país. Na ocasião, foi anunciado que as notificações sobre a doença vão ser compulsórias e que a determinação será publicada no Diário Oficial da União (DOU) ainda nesta semana.

Detectada pelo teste do pezinho, a doença registrou incidência de um caso a cada 2,5 mil nascidos vivos entre 2014 e 2020. A mortalidade por doença falciforme foi de 0,22 a cada 100 mil habitantes, especialmente na população de 20 a 29 anos.

Também chamada de anemia falciforme, ela se caracteriza por uma mutação no gene que produz a hemoglobina, resultando em glóbulos vermelhos do sangue (hemácias) em formato de foice ou meia lua, quando deveriam ser redondos. Pessoas com esse quadro podem ter anemia, crises de dor, má circulação e complicações renais.

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