Novo remédio para Alzheimer começa a ser aplicado no Brasil: saiba como e o preço
Donanemabe foi aprovado pela Anvisa em abril deste ano e é indicado para pacientes em estágio inicial da doença e com indicação médica
O medicamento donanemabe, de nome comercial Kinsula, vai começar a ser oferecido para pacientes com doença de Alzheimer em estágio inicial e com indicação médica a partir do próximo mês em unidades de São Paulo e do Rio de Janeiro do Alta Diagnósticos. O tratamento intravenoso da farmacêutica Eli Lilly foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em abril deste ano.
O laboratório será o primeiro do país a oferecer o tratamento considerado inovador que, em ensaios clínicos, demonstrou capacidade de retardar a progressão da doença, que não tem cura, em 35% em casos menos avançados. A droga é um anticorpo monoclonal que atua no acúmulo de placas das proteínas beta-amiloide e tau, processo que está relacionado ao comprometimento de funções do cérebro que resultam nos sintomas cognitivos e comportamentais da condição.
O tratamento não é indicado para todas as pessoas diagnosticadas com Alzheimer. É direcionado para pessoas que já apresentam comprometimento cognitivo leve ou estágio leve de demência com comprovação de acúmulo da proteína beta-amiloide. Isso é feito por meio de exames invasivos, como análise do líquor, fluido presente na medula espinhal.
Com a indicação e acompanhamento médico, são realizadas infusões mensais por 12 a 18 meses em sessões que duram 30 minutos. Após receber o tratamento, o paciente deve permanecer no laboratório por mais 30 minutos para observação. O procedimento é acompanhado por uma equipe de neurologia. Como o tratamento exige monitoramento recorrente por ressonância magnética, não pode ser aplicado em pacientes com doenças cerebrovasculares prévias.
A rede de medicina diagnóstica Dasa informou a VEJA que o tratamento custa a partir de R$ 8 000, valor que inclui a medicação, neurologista que vai acompanhar o pré e pós-procedimento, além da aplicação e materiais.
“É o primeiro tratamento associado à fisiopatologia da doença e, agora, estamos discutindo não só o tratamento da doença de Alzheimer com maior intensidade no Brasil, mas o diagnóstico correto, precoce e de forma organizada”, explica o neurologista Diogo Haddad, coordenador do Núcleo de Memória do Alta Diagnósticos. “Esse tratamento tem como característica retardar a progressão da doença ou manter o paciente pelo maior tempo possível com função preservada.”
Com a liberação e o início da aplicação do tratamento, a expectativa é de que ele possa ser ofertado em outras unidades da rede.
“O Alzheimer é uma condição que vem preocupando especialistas, principalmente pelo aumento do início precoce. O que antes era considerado restrito a idosos, hoje já aparece em pessoas com menos de 60 anos e, em casos mais raros, até na faixa dos 40. Embora faltem números específicos no Brasil, estima-se que entre 75% e 95% dos casos da doença no país ainda não sejam diagnosticados, especialmente em pacientes mais jovens”, afirmou, em nota, Leonardo Vedolin, vice-presidente da área médica da Dasa.
Tratamento demanda cautela
Como se trata de um tratamento inovador diante de uma doença progressiva e incurável, o cenário ainda é de cautela e desafios. Um deles é apontar os pacientes em estágio inicial, considerando que os exames para detecção não são indicados em larga escala nem são acessíveis.
Outra preocupação são os possíveis eventos adversos, que demonstram considerável gravidade. A própria Eli Lilly, em seu material de divulgação, cita alguns deles. A dor de cabeça é o efeito colateral mais relatado, mas os pacientes que fazem uso do donanemabe podem apresentar anormalidades de imagem relacionadas à amiloide, evento conhecido como ARIA, que pode causar inchaço temporário em regiões do cérebro ou pequenos pontos de sangramento.
“Em eventos raros, podem ocorrer áreas maiores de sangramento no cérebro. A ARIA pode ser grave e eventos com risco à vida podem ocorrer”, afirma. Também pode desencadear reações alérgicas que podem até ser fatais durante ou no intervalo de 30 minutos após o procedimento.
Segundo reportagem publicada no periódico Science, 37% dos participantes apresentaram ARIA, alguns deles assintomáticos, 25% tiveram edemas cerebrais e três participantes morreram por sangramento ou edemas relacionados ao tratamento.
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