Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

Novo rosto, nova existência: os avanços espetaculares dos transplantes de face

Eles se consolidam como um meio de devolver identidade e bem-estar a vítimas de graves acidentes e tumores

Por Paula Felix Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 nov 2024, 16h48 - Publicado em 8 nov 2024, 06h00

Há quase duas décadas, o mundo foi apresentado à nova fisionomia da francesa Isabelle Dinoire (1967-2016). Até então desconhecida, ela ganhou as manchetes depois de ser atacada pelo próprio labrador, que desfigurou boa parte de seu rosto, e ter se tornado a primeira pessoa na história a ser submetida a um transplante facial. Trata-se de uma das operações mais complexas na medicina — e, não à toa, realizada em pouquíssimos centros mundo afora, nenhum deles no Brasil. O procedimento de Isabelle foi um salto ousado, inaugurando um método que, com aperfeiçoamentos e tecnologias de ponta, tem devolvido qualidade de vida, autonomia e sorrisos a quem estaria condenado a conviver com deformidades limitantes. Desde 2005, quando a francesa passou pela mesa cirúrgica, ao menos cinquenta transplantes foram feitos em onze países para reconstruir rostos comprometidos por acidentes e tumores. E, agora, acaba de ser publicado o primeiro estudo com um balanço das experiências. Sua conclusão: a proposta é segura e efetiva à reabilitação dos pacientes, traumatizados física e psicologicamente por danos a seu cartão de visita.

A cirurgia de Isabelle, que recebeu o nariz, a boca e o queixo de um doador morto, abriu as portas para um campo que envolve um nível elevado de refinamento técnico a fim de interligar ossos, músculos e uma trama de vasos sanguíneos. O procedimento facial demanda um suporte intenso já no pré-operatório: a equipe concebe as intervenções em modelos computadorizados prévios, e o paciente precisa receber todo o suporte emocional de alguém que ganhará o rosto de outra pessoa. Mesmo com todas as adaptações anatômicas e cuidados para evitar a rejeição dos tecidos, a cautela é gigantesca, porque, ao contrário de um órgão interno, a face poderá ser vista e tocada a todo momento.

RECOMEÇO -Pioneiros: o americano Aaron James recebeu parte do rosto e um olho; a francesa Isabelle Dinoire foi a primeira paciente da história
RECOMEÇO -Pioneiros: o americano Aaron James recebeu parte do rosto e um olho; a francesa Isabelle Dinoire foi a primeira paciente da história (Haley Ricciardi/NYU Langone Health; Denis Charlet/AFP)

Para os médicos, o desafio é assegurar que todos os passos seguirão o roteiro milimetricamente planejado. “Nosso trabalho ocorre em espaços pequenos, com muitos nervos delicados e vasos que precisam ser reconectados para garantir o máximo de funcionalidade possível”, disse a VEJA Adam Taylor, professor de anatomia da Universidade de Lancaster, na Inglaterra. Com o avanço das técnicas e dos recursos, os resultados têm superado expectativas inclusive em termos estéticos — num processo que vai deixando para trás o início de recuperação chocante dos primeiros operados. Prova visível disso é o americano Aaron James, de 46 anos. Sobrevivente de um acidente com cabos de alta tensão, ele não só recebeu parte do rosto, como entrou para a história pelo pioneiro procedimento de transplante total de globo ocular. Mesmo sem poder enxergar, o olho não sofreu encolhimento, mantendo pressão e fluxo sanguíneo.

Explorar novas possibilidades é viável graças à integração de tecnologias como o planejamento 3D e estudos para o uso da inteligência artificial, que aprimora a triagem de compatibilidade entre doadores e receptores. E, se havia receio de que esses pacientes teriam seus dias abreviados por limitações, um estudo publicado no periódico Jama Surgery aponta que a sobrevida em cinco anos chega a 85% e, em dez, a 74%. “A taxa de sobrevivência sugere que essa é uma opção reconstrutiva de longo prazo”, afirmou Pauliina Homsy, cirurgiã e pesquisadora da Universidade de Helsinque, na Finlândia. Contudo, a expansão do método encara grandes obstáculos.

Continua após a publicidade

arte transplante rosto

Ainda há escassez de profissionais especializados pelo planeta e a cirurgia, que pode demorar 24 horas, precisa de equipes que superam 100 pessoas. Os custos estimados de um único transplante beiram 350 000 dólares — e somam-se a esse valor 20 000 dólares anuais de medicamentos para evitar rejeição. No Brasil, ainda faltam regulamentação e locais aptos aos transplantes em si, mas ganham terreno os procedimentos de reconstrução da face que se valem de próteses cada vez mais realistas. “Temos profissionais altamente capacitados, mas é necessário evoluir nos aspectos éticos e lidar com os altos custos”, diz Cleyton Souza, coordenador de cirurgia plástica e microcirurgia reconstrutiva do Hospital de Amor, em Barretos (SP). São desafios que a medicina espera superar para devolver a algumas pessoas a felicidade que apenas um rosto é capaz de traduzir.

Publicado em VEJA de 8 de novembro de 2024, edição nº 2918

Publicidade

Imagem do bloco

4 Colunas 2 Conteúdo para assinantes

Vejinhas Conteúdo para assinantes

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.