O impacto das atividades culturais na saúde mental, segundo pesquisa Datafolha
Apesar das barreiras para o acesso, população valoriza benefícios dessas atividades

Uma pesquisa encomendada ao Datafolha pelo Fundação Itaú mostrou que, quando se trata do bem-estar e da saúde mental, as atividades culturais são mais citadas do que as de lazer ou socialização, ficando atrás apenas dos esportes.
De acordo com o levantamento, quando questionados sobre quais atividades gostam de fazer para melhorar a saúde mental e o bem-estar, 64% responderam atividades físicas e esportivas e 32,6% responderam atividades culturais. Logo depois vieram as ações de lazer, sociais, saúde física e profissionais, com 22%, 10% 4%, 4% e 4%, respectivamente.
Os motivos parecem estar relacionados às diversas facetas desse tipo de tarefa. “Em relação ao bem-estar, realizar uma atividade cultural apresenta uma gama de benefícios ampla”, disse a VEJA a gerente do Observatório Fundação Itaú, Carla Chiamareli. “Muitas das atividades culturais incluem a necessidade de socialização e também podem ser consideradas atividades de lazer.”
E os efeitos não são desprezíveis. A maioria disse concordar totalmente com as alegações de que participar desse tipo de atividade ajuda a diminuir o estresse (65,7%), melhorar a qualidade de vida (61,7%), diminuir a sensação de tristeza (64,2%), diminuir a sensação de solidão (62,3%), melhorar o relacionamento em casa (60,8%) e melhorar o relacionamento no trabalho (55%).
“Entre os destaques da quinta edição da pesquisa Hábitos Culturais, podemos citar o reconhecimento da importância e dos benefícios atrelados à realização de atividades culturais no país”, afirmou Chiamareli. “Este reconhecimento perpassa as principais áreas exploradas na pesquisa e suas relações com os hábitos culturais, sendo elas: educação, bem-estar e saúde mental.“
Desigualdades no acesso
Os moradores das regiões metropolitanas foram os que mais citaram essas atividades, mas nem todos conseguem realizá-las. Entre os principais impeditivos estão a insegurança (43%), questões financeiras (43%) e distância dos equipamentos culturais (27%).
E os aspectos socioeconômicos pareceram importantes contribuintes dessa desigualdade. Entre a população com ensino superior completo, 66% disseram ir a shows de música, contra apenas 32% dentre aqueles com ensino médio incompleto.
“É fundamental observarmos a arte e a cultura como estratégias para a promoção do bem-estar da população”, disse Chiamareli. “Mas também [precisamos estar atentos] para a importância da promoção de políticas públicas para a cultura que visem democratizar e descentralizar mais o acesso, oferecendo atividades e equipamentos culturais gratuitos e que contemplem as regiões de periferia, que normalmente gastam mais com deslocamento.”
Um outro dado que chamou diz respeito à população negra. De acordo com a pesquisa, além das mulheres (39%) e dos mais jovens (41%), a população preta demonstrou um interesse estatisticamente maior do que os outros grupos étnicos na utilização de atividades culturais como promotoras de bem-estar (39%), com ao menos seis pontos percentuais a mais do que grupos de outras cores.
Para Chiamareli há um importante aspecto histórico subjacente a esse fenômeno. “É bem documentado o quanto a arte e a cultura foram fundamentais como espaços de sociabilidade, afeto e resistência entre as populações negras no país”, disse. “É notável, por exemplo, a importância de referências de artistas negros e negras, que vão desde Abdias do Nascimento à Conceição Evaristo, de Dona Ivone Lara ao grupo Racionais MCs, bem como elementos da cultura, como o samba, o hip-hop, a capoeira ou a literatura.”
A pesquisa contou com a participação de 2.494 pessoas das cinco regiões do país, tem uma margem de erro de dois pontos percentuais e foi realizada entre os dias 6 e 16 de agosto de 2024. Essa é a quinta edição desse levantamento.