Após um período de estabilidade no número de novos diagnósticos de Covid-19 a curva da epidemia no Brasil voltou a subir. Na última semana, foram registradas as maiores médias móveis da série histórica da pandemia no país. Nesta quarta-feira, 29, a média móvel de novos casos atingiu um novo recorde de 46.393, aumento de 28% em comparação com 14 dias atrás. Por outro lado, os óbitos permanecem estáveis. A média móvel registrada nesta quarta-feira, 29, foi de 1.051,9.
O Sudeste concentra a maior quantidade de casos do país em números absolutos e por isso puxa a alta nacional. Mas outras regiões, como Sul e o Centro-Oeste, tiveram os maiores aumentos percentuais nos últimos 14 dias: 36,2% e 64,5%, respectivamente. Das 27 unidades federativas brasileiras, 14 apresentaram aumento na média móvel de casos registrados nesta quarta-feira, 29, em comparação com 14 dias atrás. São eles: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, São Paulo, Rio de Janeiro, Rondônia, Tocantins, Ceará, Bahia, Paraíba e Pernambuco. Destes, nove – CE, BA, RO, GO, RJ, SP, RS, DF e PB – apresentavam estabilidade ou queda na curva no início do mês e, portanto, apresentaram um agravamento do cenário
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Entre as unidades federativas com aumento na média móvel de casos, sete apresentam a mesma tendência na média móvel de óbitos registrados. São eles: Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Rondônia e Tocantins. O levantamento foi produzido por VEJA com a utilização das médias móveis semanais, que comparam a evolução da pandemia em blocos de sete dias.
O aumento da realização de testes para detecção da doença foi causa importante. Antes, com menos exames, muitos pacientes acabam não entrando nas estatísticas. Ainda que a quantidade de testes no Brasil seja bem menor do que o ideal, houve uma evolução grande nesse campo. De acordo com o Ministério da Saúde, desde o início da pandemia, o país ampliou em 869% a capacidade de realização de exames RT-PCR na Rede Nacional de Laboratórios de Saúde Pública.
Mas o grande problema é de cunho comportamental. São eles: descaso com o uso da máscara (pela não utilização ou pelo uso errado, baixa adesão às medidas de distanciamento social, incluindo não respeitar a distância mínima de 2 metros de outra pessoa, falta de conscientização sobre a importância do auto-isolamento após o diagnóstico confirmado ou suspeito e banalização da doença.
“Entramos em um momento muito perigoso porque ao mesmo tempo em que ainda temos que enfrentar a doença, que não está eliminada em nenhum lugar do país, as pessoas baixaram a guarda justamente em um momento que ela tinha que se manter alta. Precisamos nos conscientizar de que estamos nessa situação e pensar no que cada um de nós precisa fazer para não termos que voltar ao isolamento total que prejudica não só a economia, mas também a saúde mental. E a resposta é simples, respeitar o outro. Falta senso coletivo. As pessoas precisam entender que ao usar a máscara de forma correta e manter distância, eu não estou apenas me protegendo, mas também protegendo o outro. É preciso se treinar e entender que é falta de educação colocar a máscara, mas deixar o nariz de fora, ou andar com a máscara pendurada na orelha, por exemplo”, diz o infectologista e epidemiologista Bruno Scarpellini, da PUC do Rio de Janeiro.
Segundo Scarpellini, casos de pessoas que se reuniram com amigos e logo depois apresentaram sintomas, são comuns. “As pessoas estão se encontrando mais e fazem isso sem tomar os cuidados necessários. É comum uma dessas pessoas apresentar sintomas, avisar as demais e quando os outros presentes realizam o teste, tem diagnóstico positivo”, conta o especialista. Nesta quarta-feira, 29, o diretor regional da Europa para a Organização Mundial da Saúde (OMS), Hans Kluge, afirmou que o comportamento de jovens, subestimando o distanciamento pode estar provocando novos picos da doença no continente. “Eles têm uma responsabilidade em relação a si mesmos, a seus pais, avós e comunidades. E agora sabemos como adotar comportamentos bons e saudáveis, então vamos aproveitar esse conhecimento”, alertou Kluge.