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ONU deixa obesidade fora da lista de doenças crônicas e gera críticas de especialistas

Texto menciona obesidade apenas como fator de risco e não inclui medidas de prevenção como a taxação de ultraprocessados

Por Victória Ribeiro Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 25 set 2025, 16h01 - Publicado em 25 set 2025, 14h45

A nova Declaração Política sobre Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNTs), aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU), deixou especialistas descontentes ao não reconhecer a obesidade como doença crônica. O documento tampouco incluiu políticas de prevenção já defendidas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como a taxação de ultraprocessados e bebidas açucaradas, recomendadas desde 2022 no Acceleration Plan to Stop Obesity.

Embora cite a obesidade diversas vezes, o texto a apresenta apenas como consequência de fatores sociais e ambientais — como a falta de acesso a dietas saudáveis, inatividade física, privação de sono e estresse — e como fator de risco para outras doenças. Em um trecho, a declaração reconhece que o número de adultos com obesidade mais do que dobrou desde 1990 e que 390 milhões de crianças e adolescentes de 5 a 19 anos já vivem com sobrepeso ou obesidade. Mesmo assim, a condição não aparece ao lado de diabetes, hipertensão, doenças cardiovasculares ou câncer, consideradas prioritárias.

“A obesidade simplesmente não foi listada entre as prioridades de doenças crônicas não transmissíveis. Há apenas menções indiretas, tratando-a mais como fator de risco do que como uma condição que, por si só, exige atenção. Não está junto de diabetes, hipertensão ou doenças cardiovasculares, como gostaríamos que estivesse”, afirma o endocrinologista Bruno Halpern, vice-presidente da Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (Abeso), que acompanhou as discussões em Nova York.

Controvérsia histórica

O descontentamento se soma a uma controvérsia histórica sobre a classificação da obesidade. A OMS reconhece a condição como doença desde 1948, e várias sociedades médicas e países reforçaram essa posição nas últimas décadas. Mas a definição vigente — “acúmulo anormal ou excessivo de gordura que apresenta risco à saúde” — é ampla, e o diagnóstico baseia-se principalmente no Índice de Massa Corporal (IMC), uma ferramenta que não foi criada para fins diagnósticos.

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Essa abordagem contribui para um debate polarizado: alguns especialistas defendem que a obesidade é uma doença em si, com consequências diretas sobre órgãos e sistemas, enquanto outros a veem apenas como fator de risco para condições como diabetes tipo 2, hipertensão e doenças cardiovasculares. Há ainda quem defenda que a obesidade é uma condição meramente associada a hábitos de vida, como alimentação, embora já existam uma série de estudos que demonstrem o envolvimento de múltiplos fatores, como genéticos, metabólicos e psicológicos.

Para tentar superar essa lacuna, uma série de especialistas, de diversas regiões do mundo, incluindo o Brasil, uniram esforços para elaborar um documento na revista científica The Lancet — uma das mais renomadas quando se trata de divulgação científica — no qual propõem dividir a obesidade em duas situações: obesidade clínica, que configura doença, e obesidade pré-clínica, considerada fator de risco. Em uma espécie de força-tarefa, os pesquisadores definiram 18 sinais e sintomas objetivos em adultos que permitem diagnosticar a obesidade clínica, indo além do IMC, e destacam efeitos diretos da adiposidade excessiva no sistema respiratório e musculoesquelético, além de limitações para atividades diárias.

Omissão?

Para Halpern, a ausência da obesidade na lista de doenças crônicas não é apenas simbólica, ela oferece consequências práticas. Afinal, se não há um problema, não há solução. “O que defendemos é que os tratamentos para obesidade sejam acessíveis à população. Porém, quando a obesidade não é incluída entre as doenças, isso acaba tirando a responsabilidade dos governos de investir em cuidados abrangentes, que vão muito além de medicamentos”, opina.

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Outro motivo de crítica foi a exclusão de políticas de prevenção, como a taxação de bebidas açucaradas, reconhecida pelo Banco Mundial, Unicef e OMS como medida importante. “Houve lobby para que essa medida ficasse de fora. É ruim, porque a ideia seria usar a taxação para reduzir custos de alimentos saudáveis. Sem isso, o financiamento para políticas eficazes fica comprometido.”

O tamanho do desafio

A obesidade é considerada um dos maiores desafios globais de saúde e equidade na atualidade. Mais de 1 bilhão de pessoas vivem com a condição no mundo, número que deve alcançar quase metade da população até 2035. O impacto econômico, se nada for feito, pode chegar a 3% do PIB mundial até 2030.

No Brasil, os números também preocupam: 68% dos adultos têm sobrepeso e 31% vivem com obesidade, de acordo com o Atlas Mundial da Obesidade 2025. Só em 2021, mais de 60 mil mortes prematuras no país foram atribuídas ao excesso de peso.

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