Opas apresenta conjunto de medidas para reduzir as taxas de suicídio nas Américas
Desde o ano 2000, houve um aumento de 17% nos óbitos dessa natureza na região, a única no mundo a registrar crescimento dos casos

A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) lança nesta quinta-feira, 11, uma iniciativa para conter a tendência de ascensão de episódios de suicídio* nas Américas. Desde o ano 2000, houve um aumento de 17% nos óbitos dessa natureza na região, a única no mundo a registrar crescimento dos casos. A proposta é de ofertar aos países informações e orientações sobre intervenções baseadas em evidências para impedir novas perdas.
A entidade observou que o índice é puxado pelas taxas em crescimento na América do Norte, mas há preocupação com ocorrências em países do Caribe e do Cone Sul, como Argentina, Chile, Uruguai e Brasil. O relatório da Opas, com dados de 2021, informa que mais de 100.000 pessoas morreram por suicídio nas Américas.
“Cada suicídio é uma tragédia profunda que impacta indivíduos, famílias e comunidades”, disse, em nota, Jarbas Barbosa, diretor da Opas. “Esta iniciativa busca transformar a liderança, a governança e as ações de prevenção ao suicídio para reduzir essas perdas.”
Segundo levantamento da entidade, os casos de suicídio se concentram principalmente entre adultos com mais de 50 anos. Entre os homens, 71% dos casos ocorrem nessa faixa etária. Na população feminina, o índice é de 65%.
“Enquanto os homens enfrentam taxas mais altas (14,7 por 100.000 habitantes, em comparação com 4 por 100.000), a taxa entre as mulheres aumentou mais acentuadamente (23% desde 2000, em comparação com 14,4% entre os homens). As tentativas de suicídio também foram quase cinco vezes mais frequentes entre as mulheres”, diz a Opas.
O suicídio e suas tentativas são um processo multifatorial, por isso, tão importante o acompanhamento por especialistas para o tratamento adequado e a identificação de gatilhos. Diante da complexidade desses fatores e para trazer um olhar atento para eles, a Opas apresentou alguns que estão relacionados a casos registrados na região.
“Entre os homens, o suicídio está intimamente ligado ao uso de álcool e drogas, bem como ao desemprego e à moradia em áreas com altas taxas de homicídio. Para as mulheres, a desigualdade educacional e o desemprego são os fatores associados mais fortes.”
Como evitar o suicídio?
Para dar suporte aos países das Américas, a Opas vai utilizar como base as orientações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como restrição ao acesso aos meios de suicídio, desenvolvimento de habilidades socioemocionais em adolescentes, identificação e tratamento precoces de pessoas em risco e medidas de promoção da cobertura responsável da mídia.
A iniciativa vai abordar desafios regionais para que a elaboração de estratégias seja mais personalizado e efetivo. Gargalos já observados são o acesso limitado a serviços de saúde mental e necessidade de integração entre diferentes setores para atuar diante do problema. O combate ao estigma também será priorizado. As medidas prioritárias determinadas pela Opas são:
- Fortalecimento dos planos nacionais – apoiar os países na elaboração ou atualização de estratégias nacionais de prevenção ao suicídio e planos de ação adaptados às necessidades das populações em risco
- Ampliação do acesso a cuidados de saúde mental de qualidade – treinar profissionais de saúde e comunidades para identificar e dar suporte a indivíduos em risco e responder de forma eficaz, ao mesmo tempo em que fornece recursos para famílias afetadas por suicídio ou automutilação
- Conscientização e redução do estigma – colaborar com profissionais de mídia em reportagens responsáveis e implementar campanhas para quebrar o silêncio em torno da saúde mental
Cinco passos contra o suicídio
As estratégias para prevenção do suicídio têm sido alvo não só de iniciativas, mas de estudos científicos. Um deles foi fruto do doutorado em Psicologia Clínica, no Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), do psicólogo Élison Santos, que apresentou cinco passos para evitar esses episódios. O artigo foi publicado no periódico Journal Contemporary Psychotherapy e divulgado pelo Jornal da USP.
“Cada etapa foi elaborada para guiar os clínicos por um processo compassivo, estruturado e empiricamente fundamentado, que auxilia os pacientes a redescobrirem seu senso de significado e propósito, fomentando, assim, uma renovada vontade de viver”, diz trecho do resumo.
Os cinco passos são: recepção diferenciada; conexão dos indivíduos com seus valores fundamentais e responsabilidades; expansão das perspectivas e possibilidades; encorajamento da ambivalência da vida e auxiliar na redescoberta do propósito.
*Caso esteja passando por sofrimento intenso ou tenha algum pensamento sobre tirar sua própria vida, busque ajuda especializada imediatamente. Há também canais de atendimento sigilosos e gratuitos, que podem ser consultados 24 horas por dia, como o Centro de Valorização da Vida (CVV), disponível no site https://www.cvv.org.br e pelo telefone 188.