Nos Estados Unidos, o câncer colorretal é o terceiro mais diagnosticado em adultos. No Brasil, segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), surgem 44 mil novos casos por ano de câncer de intestino. Números preocupantes que podem ser diminuídos com a detecção precoce, capaz de prevenir mais de 90% das mortes relacionadas com o cancro colorrectal.
O problema é que mais de um terço da população elegível para rastreio não realiza os exames de rastreio, embora existam múltiplos testes disponíveis.
Dois novos testes de triagem para detectar câncer colorretal, porém, parecem bastante promissores por serem não invasivos. Um deles é o BLUE-C, um teste de DNA de fezes multialvo de última geração com sensibilidade de 93,9% para a detecção do cancro, contra 67,3% do teste imunoquímico fecal padrão (FIT). “Também mostra melhores resultados para lesões pré-cancerosas avançadas (43,4% vs 23,3%)”, relatou Thomas Imperiale, médico da Escola de Medicina da Universidade de Indiana, nos Estados Unidos. Segundo publicação no New England Journal of Medicine (NEJM), porém, a especificidade para neoplasia avançada foi de 90,6%, inferior aos 94,8% do FIT.
Resultados do ensaio ECLIPSE, também publicados no NEJM, mostraram que um teste de DNA livre de células (cfDNA) baseado no sangue, também é bastante promissor com uma sensibilidade de 83,1% para câncer colorretal e uma especificidade de 89,6% para neoplasia avançada. Segundo William M. Grady, médico do Fred Hutchinson Cancer Center, em Seattle, ele atende aos critérios de aceitação pré-especificados, conforme estabelecido em outros testes de triagem para câncer colorretal aprovados pela FDA (Food and Drug Administration).
“O teste no sangue servirá de complemento à colonoscopia, podendo apontar indivíduos de maior risco e que poderão ter indicação de fazer esse exame em prazos mais curtos do que os preconizados”, afirma Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do Richet Medicina & Diagnóstico, da Rede D’Or.
Maior adesão
Os autores de ambos os estudos também observaram que, embora o rastreio assintomático reduza a incidência de cancro colorrectal e mortes relacionadas, a adesão ao rastreio do cancro colorrectal é de apenas cerca de 60% – bem abaixo da meta de 80% estabelecida pela National Colorectal Cancer.
Em editorial sobre os dois estudos, John M. Carethers, médico da Universidade da Califórnia, sugeriu que o melhor teste de triagem é aquele realizado pelo próprio paciente. “A maioria dos recomendados, incluindo os dois mais recentes avaliados nos estudos, melhoram a sensibilidade e aproximam-se da especificidade do FIT, ou seja, são tão eficazes quanto”, disse, acrescentando. “Mas a adesão ao rastreio é um fator chave e a facilidade de utilização do teste pode contribuir para isso. A gente espera que eles aumentem a utilização e elevem a percentagem da população submetida ao rastreio, a fim de reduzir as mortes por cancro colorrectal.”
Os estudos
O ensaio do BLUE-C incluiu 20.176 adultos com 40 anos ou mais, que estavam programados para se submeterem à colonoscopia de triagem. A média de idade foi de 63 anos, sendo 53,2% mulheres. O câncer colorretal foi detectado em 98 participantes, dos quais 82 apresentavam doença em estágio I, II ou III. Deste último grupo, a sensibilidade do teste de cfDNA de fezes multialvo de última geração foi de 92,7%.
Já o estudo sobre o ECLIPSE avaliou o teste de sangue de cfDNA em uma população que incluía 7.861 adultos, com idades entre 45 e 84 anos e que apresentavam risco médio de câncer colorretal, submetidos a exames de rotina com colonoscopia.
O teste apresentou uma sensibilidade de 87,5% para cânceres colorretais relevantes (estágios I, II ou III), com uma sensibilidade de 65% para cânceres em estágio I, 100% para cânceres em estágio II e 100% para cânceres em estágio III. O teste também identificou todos os 10 cânceres colorretais em estágio IV.
Entre 1.116 participantes com lesões pré-cancerosas avançadas, o teste de sangue de cfDNA foi positivo para 147, com uma sensibilidade de 13,2%. “Vale lembrar, porém, que a colonoscopia não só detecta essas lesões com alta sensibilidade, mas também permite a sua remoção imediata”, disse Dennis Lo, do Instituto de Ciências da Saúde Li Ka Shing, da Universidade de Hong Kong. “A não invasividade do ensaio de cfDNA no plasma, no entanto, é uma característica que parece provavelmente resultar em maior aceitação do que a colonoscopia: mais trabalhos são necessários para determinar se isso é verdade e se a relação custo-benefício justificaria a sua implementação”, finalizou.