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Os principais estudos científicos que derrubaram a cloroquina

Evidências comprovaram que o medicamento, defendido pelo presidente Jair Bolsonaro, não é eficaz na prevenção nem no tratamento da Covid-19

Por Giulia Vidale Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 Maio 2021, 16h57 - Publicado em 27 Maio 2021, 18h20

Desde os primórdios da pandemia de coronavírus no Brasil o uso da cloroquina ou de seu derivado, a hidroxicloroquina, em pacientes com Covid-19 é um dos grandes alvos de discórdia entre o presidente Jair Bolsonaro e a ciência, incluindo até mesmo alguns de seus ministros da Saúde, como Henrique Mandetta e Nelson Teich. Ao longo de 2020, Bolsonaro e sua equipe insistiram no uso do medicamento como solução para a pandemia no país. Agora, essa insistência infundada é esmiuçada na CPI da Covid, instaurada no Senado.

Na quarta-feira, 26, o YouTube removeu 12 vídeos do canal do presidente Jair Bolsonaro por violação da regra que proíbe a recomendação de medicamentos sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Nos vídeos, Bolsonaro defendia o uso da cloroquina e ivermectina contra a doença. Desde a atualização da política da plataforma, em abril, o presidente teve 17 vídeos derrubados por ferir essa norma.

LEIA TAMBÉM: “Medicamentos estão sendo usados irracionalmente”, alerta farmacêutico

No início de 2020, de fato a cloroquina e a hidroxicloroquina foram consideradas tratamentos potenciais contra a doença. A possibilidade surgiu quando estudos realizados em laboratório mostraram um efeito antiviral do medicamento contra do novo coronavírus. Em seguida, um teste clínico realizado na França, ainda no início da pandemia, mostrou que a cloroquina “curou” pacientes internados com Covid-19. Entretanto, posteriormente descobriu-se que este estudo, assim como outros que apontaram benefícios do medicamento, tem graves falhas metodológicas.

Desde então, evidências de vários estudos conduzidos adequadamente, incluindo análises randomizadas controladas duplo-cego, consideradas “padrão-ouro” no mundo das pesquisas clínicas, concluíram que a hidroxicloroquina tem pouco ou nenhum na prevenção ou no tratamento da doença. Para esclarecer de vez o que diz a ciência sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina contra a Covid-19, VEJA reuniu os resultados dos principais estudos feitos até hoje sobre este assunto.

Estudo Solidarity (OMS)

Resultados preliminares do estudo Solidarity, liderado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), com 954 pacientes de 405 hospitais em 30 países, mostraram que a hidroxicloroquina mostrou pouca ou nenhuma redução na mortalidade de pacientes hospitalizados com Covid-19 hospitalizados quando comparados ao tratamento padrão. Diante desta conclusão, o estudo foi finalizado pela OMS.

Estudo Recovery (Reino Unido)

Um estudo feito no Reino Unido com 4.716 pessoas hospitalizadas com Covid-19, das quais 1.561 pessoas receberam hidroxicloroquina como parte do tratamento e as outras 3.155 pessoas receberam o tratamento padrão, sem o medicamento, concluiu que a hidroxicloroquina não reduziu a mortalidade. Seu uso também se correlacionou com maior tempo de internação hospitalar e maior probabilidade de uso de ventilador mecânico. Em suma: “não é um tratamento eficaz”.

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Revisão da Cochrane

Uma revisão feita pela Cochrane, rede global independente especializada na revisão de evidências científicas com o objetivo de ajudar a tomada de decisão na área da saúde, concluiu que a hidroxicloroquina não reduz as mortes por Covid-19 e provavelmente não reduz o número de pessoas que necessitam de ventilação mecânica. Os pesquisadores também concluíram que o medicamento causou mais efeitos indesejados do que o placebo, porém não pareceu aumentar o número de efeitos adversos graves. Por fim, eles não recomendam a realização de novos estudos para avaliar o uso da hidroxicloroquina para o tratamento da Covid-19.

Os resultados foram baseados em 12 estudos que testaram cloroquina ou hidroxicloroquina para tratar a Covid-19 em 8.569 adultos, e dois estudos testaram a hidroxicloroquina para prevenir a doença em 3.346 adultos que haviam sido expostos ao vírus mas não tinham sintomas de infecção. Os estudos foram realizados na China, Brasil, Egito, Irã, Taiwan, América do Norte e Europa; um deles estudo foi realizado em todo o mundo.

Prevenção

Alguns estudos avaliaram a eficácia da hidroxicloroquina na prevenção da Covid-19. Um deles, o primeiro estudo randomizado a analisar o efeito profilático da hidroxicloroquina, concluiu que o uso diário do medicamento não reduz o risco de infecção pelo novo coronavírus. Feito pela Escola de Medicina Perelman da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, o trabalho, publicado na revista científica JAMA Internal Medicine analisou 125 profissionais de saúde que atuam na linha de frente de combate ao coronavírus.

Outro estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Minnesota, nos Estados Unidos, chegou à mesma conclusão após avaliar 821 pessoas dos Estados Unidos e do Canadá que tiveram exposição de risco alto ou moderado a pacientes infectados.

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O que dizem as autoridades de saúde

Na terça-feira, 25, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) reafirmou que a cloroquina (vale também para a hidroxicloroquina) tem sua ineficácia comprovada para o tratamento da Covid-19 em ensaios clínicos randomizados, duplo-cegos. O posicionamento oficial da OMS sobre esses medicamentos ressalta que a organização não recomenda a hidroxicloroquina para prevenir nem para tratamento da Covid-19.

A recomendação contra o uso para prevenção é baseada em seis estudos com mais de 6.000 participantes e que contraindica o tratamento, em 30 estudos com mais de 10.000 pacientes.

“Tomar hidroxicloroquina para prevenir Covid-19 pode aumentar o risco de diarreia, náusea, dor abdominal, sonolência e dor de cabeça. Mais informações podem ser encontradas aqui. No entanto, a hidroxicloroquina e a cloroquina são seguras para uso em pacientes com doenças autoimunes ou malária.”, finaliza a entidade.

Confira o avanço da vacinação no Brasil:

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