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Pesquisadores brasileiros descobrem mecanismo de doença autoimune rara

Estudo mostra como acontece uma das mutações genéticas causadoras da poliendocrinopatia autoimune associada à candidíase e distrofia ectodérmica

Por Elton Alisson | Agência FAPESP
Atualizado em 4 jun 2024, 10h47 - Publicado em 8 fev 2023, 11h44

Pesquisadores das faculdades de Medicina (FMRP) e de Odontologia (Forp) da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, e do Centro de Tecnologia da Informação (CTI) Renato Archer, em Campinas, elucidaram o mecanismo molecular de uma das mutações genéticas causadoras da poliendocrinopatia autoimune associada à candidíase e distrofia ectodérmica (Apeced, na sigla em inglês).

Os resultados do estudo, apoiado pela FAPESP, foram descritos na revista Frontiers in Immunology.

“Conseguimos observar como o mecanismo molecular de uma das mutações que desencadeiam a síndrome Apeced atua nas células da glândula do timo. A descoberta pode contribuir para orientar, no futuro, terapias gênicas para pacientes com essa doença rara”, diz à Agência FAPESP Geraldo Aleixo Passos, professor da Forp e da FMRP-USP que coordenou o projeto. O primeiro autor do estudo é Jadson Santos, que realiza doutorado na FMRP-USP sob a orientação de Passos.

A síndrome Apeced se manifesta geralmente na infância, inicialmente com a ocorrência de candidíase, e é causada por mutações no gene AIRE (sigla em inglês de autoimmune regulator), identificado como responsável pela suscetibilidade a doenças autoimunes ao controlar a tolerância imunológica.

A tolerância imunológica permite que o sistema imune seja capaz de distinguir os antígenos próprios do corpo humano dos antígenos de microrganismos patogênicos, impedindo que os componentes próprios sejam atacados pelas células T – glóbulos brancos especializados em coordenar a resposta de defesa contra tumores e agentes infecciosos. Quando a tolerância imunológica é suprimida surgem as doenças autoimunes, explica Passos.

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“O AIRE controla a expressão dos antígenos do corpo na glândula do timo, sinalizando para o sistema imune não reagir contra esses autoantígenos”, afirma.

Uma das principais mutações no gene AIRE apresentadas em pacientes com a síndrome Apeced, chamada G228W, é observada em uma região da proteína codificada por esse gene chamada de domínio SAND.

“Já se sabia que essa mutação está associada à síndrome Apeced, mas ainda não tinham sido elucidados seus mecanismos moleculares, ou seja, como uma proteína AIRE mutante atua no timo”, diz Passos.

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Por meio de ferramentas de bioinformática, os pesquisadores simularam estruturas da proteína codificada pelo gene AIRE sem e com a mutação G228W e analisaram com quais outras proteínas ela interage no núcleo celular para permitir que as células do timo controlem a expressão dos autoantígenos, de modo que não sejam atacados pelo sistema imunológico.

Os resultados das análises indicaram que, em condições normais, sem a mutação G228W, a AIRE se associa temporariamente a uma proteína, chamada SIRT1, desencadeando uma cascata de eventos biomoleculares que permite que as células do timo expressem os genes dos autoantígenos. Já a proteína mutante apresenta um defeito na associação com a proteína SIRT1 que prejudica a transcrição dos genes dos autoantígenos.

A constatação foi corroborada por meio de experimentos feitos na bancada do laboratório com peptídeos contendo resíduos de aminoácidos do domínio SAND da proteína AIRE com e sem a mutação G228W.

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“Observamos que a mutação G228W no domínio SAND influencia negativamente a interação entre as proteínas AIRE e SIRT1. A proteína AIRE com a mutação perde a função de permitir a transcrição dos autoantígenos pelas células do timo”, afirma Passos.

Modelo de estudo

Embora a síndrome Apeced, que é a principal doença causada pela mutação no gene AIRE, seja bastante rara, os pesquisadores avaliam que ela é um bom modelo para avançar na compreensão de como o corpo humano tolera a si próprio.

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“Essa é uma questão fundamental da imunologia porque uma das funções do sistema imune é tolerar os constituintes próprios do corpo, e o gene AIRE é fundamental para esse controle”, afirma Passos.

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