Poluição do ar deve diminuir até 20 meses da expectativa de vida infantil
Crianças do sul da Ásia serão seis vezes mais prejudicadas que as dos países desenvolvidos; entre adultos, poluição mata mais que malária e acidentes
A expectativa de vida infantil deve ser encurtada em até 20 meses graças à inalação do ar tóxico na atmosfera. A estimativa foi publicada em um estudo anual da organização não governamental State of Global Air (Soga). No sul da Ásia, a região que deve ser mais prejudicada, as crianças devem ter sua expectativa de vida encurtada em até 30 meses.
Na África Subsaariana o prejuízo deve ser de 24 meses. Os números acima da média são fruto da poluição externa causada pelos carros e pela indústria e do ar “sujo” dentro das residências, com a utilização de combustíveis fósseis para cozinhar e aquecer as casas.
O leste asiático também deve ter danos acima da média, com a vida das crianças encurtada em até 23 meses. Já nos países desenvolvidos, os prejuízos não chegam aos cinco meses.
“A vida de nossas crianças sendo tão abreviada foi um choque para mim”, declarou ao jornal The Guardian, Robert O’Keefe, o vice-presidente do Instituto de Efeitos para Saúde, que produziu o relatório para a Soga. “Não existe uma fórmula mágica, mas os governos deveriam estar tomando mais ações”, criticou.
“Este é mais um elemento que mostra como o ar poluído impacta a saúde dos grupos mais vulneráveis da sociedade, especialmente as crianças”, declarou Alastair Harper, o chefe de campanhas da Unicef do Reino Unido.
“As evidências continuam a mostrar a relação entre a exposição ao ar tóxico e um menor peso dos fetos, um pior desenvolvimento dos pulmões e asma infantil”, detalhou Harper ao Guardian.
Apesar do estudo focar nas ameças às crianças, com pulmões mais suscetíveis a danos para a vida toda, adultos também estão expostos aos riscos do ar poluído. Hoje, nove das 10 mortes atribuídas à poluição do ar são de pessoas acima dos 50 anos.
Os dados da Soga ainda informam que a poluição do ar já é um fator determinante de uma entre dez mortes registradas em 2017, o que torna o problema mais letal que a malária e acidentes de trânsito e comparável ao cigarro.
Evolução chinesa
Apesar dos resultados alarmantes, também existem sinais de que algumas ações governamentais estão funcionando. O’Keefe destacou os níveis de poluição do ar na China, que estão diminuindo nos últimos anos.
Em 2013, a potência asiática deu início a um plano com metas de qualidade de ar e medidas para reduzir sua dependência de carvão, investindo em uma indústria mais limpa. O governo também passou a controlar o número de veículos em algumas cidades e investiu em fontes de energia limpa.
“Eles se mantiveram fieis a esses objetivos. Eles deslocaram autoridades do governo para certos lugares para reforçar essas políticas e a poluição do ar começou a ir para outra direção na China”, afirmou o ambientalista.
Ainda de acordo com o relatório, o sul da Ásia tem os níveis mais altos de PM2.5, uma partícula que pode causar dificuldades respiratórias e problemas cardiovasculares, mas a exposição de nepaleses e indianos a essas partículas é quase o dobro que a chinesa.
Entre os países com os níveis mais baixos da partícula estão os Estados Unidos, a Noruega, o Canadá, a Suécia e a Nova Zelândia. Maldivas, Brunei e Estônia também estão bem colocados no ranking. Em média, a exposição de um país em desenvolvimento ao PM2.5 é cinco vezes maior que nas nações desenvolvidas.
Na versão de 2018 deste relatório, a Soga constatou que pelo menos 90% da população mundial respira ar poluído, atribuíndo o problema à expansão industrial, aumento do tráfego urbano e exposição aos combustíveis fósseis usados para cozinhar.
O’Keefe recomendou em sua entrevista ao Guardian que as nações invistam em veículos elétricos e energia renovável, mas alertou que algumas infraestruturas, como usinas termoelétricas, tem o poder de “prender” a poluição do ar por muitos anos.