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Por que as cédulas e moedas ‘sumiram’ na pandemia

Fechadas em casa, longe do caixa eletrônico, as pessoas cada vez mais recorrem a pagamentos digitais e com cartão

Por Jana Sampaio Atualizado em 4 jun 2024, 14h46 - Publicado em 30 abr 2020, 19h00

Um dos muitos efeitos colaterais da orientação para ninguém sair de casa atualmente é o semiabandono de um costume antiquíssimo: o de pagar em dinheiro vivo, ou seja, em notas e moedas. Primeiro, porque o sistema de compras on-line para entrega em casa, utilizado por dez entre dez quarentenados, privilegia o pagamento via cartão ou outro meio eletrônico. Depois, porque o clima não está favorável para ir (tradução: pôr o pé na rua) até o caixa eletrônico (tradução: gente em volta, teclas e telas sem proteção) e retirar um punhado de reais. E, por fim, porque, como todo mundo aprende desde criança, dinheiro é sujo e cheio de germes. Antes do surto da Covid-19, as transações em espécie eram feitas por 70% da população nas trocas diárias, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva. Ainda não há dados sobre a mudança de hábito nos últimos dois meses, mas especialistas preveem um aumento considerável de adesão aos meios eletrônicos. “Dinheiro em cédula e moeda vai ser, cada vez mais, coisa do passado”, antecipa Maílson da Nóbrega, ex-ministro da Fazenda e colunista de VEJA.

A questão da falta de higiene do dinheiro vivo ganhou dimensão quando um funcionário da Organização Mundial da Saúde admitiu que seu uso deveria ser substituído por cartões e métodos sem contato físico sempre que possível. As pesquisas, de fato, mostram que o novo coronavírus pode sobreviver até 24 horas no papel-moeda. “Quanto mais o dinheiro passa de mão em mão, maior a tendência de que fixe microrganismos em sua superfície”, alerta o epidemiologista Eliseu Waldman, da Universidade de São Paulo. A OMS, no entanto, provavelmente levando em conta que notas e moedas ainda são o principal meio circulante no mundo, amenizou depois a fala e declarou que lavar bem as mãos é o sufi­cien­te para evitar contaminação após contato com dinheiro. Mesmo assim, países e organizações estão tomando medidas de proteção.

Berço da doença, a China está desinfetando as notas provenientes de hospitais e mercados com luz ultravioleta e altas temperaturas. Nos Estados Unidos, os dólares repatriados da Ásia permanecem recolhidos por duas semanas antes de voltar a circular. A Hungria foi o primeiro país euro­peu a quarentenar toda a moeda circulante, em lotes alternados. No Brasil, uma campanha organizada pela Agência de Notícias das Favelas estimula o uso do celular — segundo seu levantamento, 43% dos pagamentos nesses locais são em espécie. “Nossa campanha foca as favelas, mas todo mundo que quiser reduzir o risco de contaminação poderá e deverá eliminar o papel-moeda”, aconselha André Fernandes, fundador da ANF.

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APROXIMAÇÃO - Caixinha para artista de rua através do celular, na Austrália: quem tem QR code não precisa de chapéu (Socialise Photo/.)

Em 2019, muito antes de o novo coronavírus infernizar o planeta, as vendas no comércio eletrônico, nas plataformas digitais e em aplicativos no Brasil, alcançaram a marca de 323,5 bilhões de reais. A expectativa da Associação Brasileira das Empresas de Cartões (Abecs) é que as compras digitais aumentem 60% com a quarentena. O método considerado mais seguro é o de simples aproximação do smartphone ou cartão, sem a necessidade de digitar a senha. A quitação por leitura de código — o QR code — já representa quase 50% do total de transações na China e vem sendo usada até por artistas de rua mundo afora, que trocam o chapéu pelo quadrado em preto e branco bem à mostra. O Banco Central brasileiro planeja lançar em novembro o PIX, sistema eletrônico de transações instantâneas. “A digitalização da economia é uma forma de reduzir custos com a produção e distribuição de papel-moeda”, diz Carlos Eduardo Brandt, chefe adjunto do Departamento de Estrutura do Mercado Financeiro do BC.

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Além da economia, a transposição para pagamentos em cartão e meios eletrônicos aumenta a arrecadação de impostos, já que todas as transações deixam “pista”, e reduz o volume de furtos, roubos ou perda de dinheiro. Em contrapartida, cresce o risco de ataques cibernéticos: golpes e fraudes digitais subiram 700% no mundo entre março e abril, segundo um levantamento da consultoria Oliver Wyman. Mesmo assim, o uso intensivo de cartões e, por tabela, das compras pela internet é caminho sem volta. “A pandemia serviu para ressaltar a comodidade e a segurança do dinheiro eletrônico e do próprio comércio on-line. As lojas que estiverem conectadas vão se sair melhor na retomada das atividades”, diz o economista José Jardim, da Saint Paul Escola de Negócios. No mundo pós-Covid-19, ir às compras será dar três passos até o smartphone ou o laptop.

Publicado em VEJA de 6 de maio de 2020, edição nº 2685

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