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Por que os macacos não são vacinados contra a febre amarela?

Os primatas têm um papel fundamental no ciclo da doença, então não seria mais efetivo imunizá-los também contra o vírus? Especialistas respondem

Por Da Redação
Atualizado em 11 dez 2017, 16h07 - Publicado em 11 dez 2017, 15h47
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  • A morte de macacos por febre amarela próxima a áreas urbanas sempre é alvo de alertas das autoridades de saúde e vista com preocupação pela população. Mas por que isso acontece? Os primatas têm uma relação direta com o ciclo da doença.  Embora eles não sejam transmissores, são hospedeiros. Na prática, isso significa que só haverá contágio se um animal infectado for picado por um mosquito e, na sequência, este picar uma pessoa. Logo, em vez de vacinar apenas a população, não seria mais efetivo imunizar também os macacos contra o vírus?

    Segundo o virologista Edison Luiz Durigon, professor do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da Universidade de São Paulo (USP), em entrevista à BBC, “de imediato, vacinar a população que vive nos arredores dos parques com suspeita da doença é certamente a atitude mais adequada e eficiente, mas, a longo prazo, medidas como o controle de reservatórios e hospedeiros têm de ser prioritárias.”

    Não há vacina para primatas no Brasil

    Segundo o Ministério da Saúde, em entrevista à BBC, ainda não existe uma vacina para febre amarela licenciada para uso em animais no Brasil. E, caso haja essa possibilidade no futuro, será necessário realizar diversos estudos epidemiológicos e para validação da vacina, como eficácia como medida de saúde pública e custo-efetividade.

    Porém, Durigon afirma que já existem estudos no país para avaliar a eficiência da vacina em macacos.”Poderíamos facilmente ajustar a dose para cada uma das espécies que ocorrem em áreas verdes da cidade”.

    O Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Primatas Brasileiros (CPB), locado no Ministério do Meio Ambiente, afirmou à BBC que um grupo de pesquisa envolvendo o Instituto de Tecnologia em Imunobiológicos (Bio-Manguinhos) daria início a testes de vacinas em primatas. No entanto, a assessoria do Bio-Manguinhos, limitou-se a informar que a Fiocruz, à qual pertence o instituto, “não está realizando vacinação de primatas contra a febre amarela”.

    Para o virologista, a falta de investimentos em uma vacina para primatas seria fruto principalmente da falta de entrosamento entre áreas que já estudam esses animais. “O difícil é fazer os diferentes órgãos governamentais conversarem e tomarem atitudes em conjunto”.

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    Captura dos animais

    Para a bióloga Juliana Summa, diretora da Divisão de Fauna Silvestre da Secretaria Municipal do Verde e do Meio Ambiente de São Paulo, o ponto mais crítico da proposta é a captura dos primatas. “É uma tarefa muito difícil porque precisamos colocar armadilhas e prever que os animais cairão nelas; dependendo da espécie, ele cai uma vez e não cai mais.”

    As chamadas vacinas de iscas, usadas nos Estados Unidos para proteger os guaxinins da raiva, seriam uma boa forma de superar essa dificuldade. “As iscas talvez fossem mais eficientes, mas não sei se seria possível desenvolvê-las para febre amarela”, afirma a bióloga.

    Quantidade de animais

    Estimar a quantidade de animais que precisam ser imunizados é outra grande dificuldade para a imunização. Com base em um levantamento bibliográfico, o professor Eduardo Massad estima que aproximadamente 40.000 a 50.000 animais podem ser hospedeiros da febre amarela em São Paulo.

    No entanto, para Juliana, a situação é um pouco mais complicada. “Não conseguimos estimar o número de saguis, por exemplo, porque temos populações (animais) que vão de quatro a cinco membros até outras com 20 a 30.A gente teria de correr a cidade inteira para fazer a contagem desses animais.”

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    O fato de pessoas que criam macacos estarem soltando os animais sem planejamento, com medo injustificado do contágio representa mais um empecilho para a estimativa da quantidade exata de animais.

    Imunidade de rebanho

    Mas, para Massad, não seria preciso vacinar todos os macacos, apenas metade, considerando que a imunidade de rebanho -resistência de um grupo ou população à introdução e disseminação de um agente infeccioso – para esse vírus seja em torno de 50%. “Não precisa ser um número exato, mas, se chegar perto da imunidade de rebanho, corta-se a circulação do vírus”, explica Massad.

    Ele reconhece que a imunização de 20 mil macacos seria trabalhosa e custosa. “Mas, comparada aos 2,9 milhões de doses da vacina contra a febre amarela previstas para serem aplicadas na população de São Paulo, me parece que a estratégia se justifica em termos de custo-benefício”, opina.

    Atualmente, o Ministério da Saúde recomenda a vacinação em humanos para 21 unidades da federação. A mais recente é o Espírito Santo.

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    Ciclo silvestre x ciclo urbano

    Vivem nas copas de árvores paulistanas saguis, bugios, sauás e macacos-prego. Os bugios têm papel de sentinela, pois, se infectado com o vírus, a espécie sempre manifesta os sintomas. Por isso sua morte alerta as autoridades sobre uma possível circulação do vírus no local. Já os saguis podem hospedar o vírus sem apresentar sinal de infecção.

    Em São Paulo, o início do alerta começou com a morte de três primatas – um bugio e dois saguis – identificados com a infecção em áreas verdes da capital paulista.

    A grande preocupação das autoridades de saúde é em relação à possibilidade de retorno do ciclo urbano (homem-Aedes aegypti-homem) que não acontece no Brasil desde 1942. Atualmente, o que circula no país é o ciclo silvestre, na qual o vírus circula entre macacos e cujo vetores são os mosquitos Sabethes e Haemagogus. Porém, se uma pessoa não vacinada foi picada por um mosquito infectado e ao ir para a cidade for picada por um mosquito como o Aedes, poderá deflagar o ciclo urbano.

    Sintomas

    Os sintomas da doença nos macacos são muito semelhantes aos vistos em humanos: febre alta, prostração, icterícia (tecidos e secreções amarelados), anorexia, danos no fígado e nos rins, além de hemorragia bucal e intestinal. As possíveis complicações desse cenários são coma, mudanças metabólicas irreversíveis e óbito.

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