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Pouco cabelo e muito charme

Cresce o número de homens que assumem a calvície — e o de mulheres que se interessam por eles. O segredo é demonstrar confiança

Por Vivian Carrer Elias*
21 abr 2013, 12h30

Foi-se o tempo em que ser careca era sinônimo de estar, necessariamente, fora dos padrões de beleza. Hoje, não só os homens parecem estar aceitando a sua calvície – e vivendo muito bem, obrigado, com ela -, mas também cresce o número de galãs que não carregam cabelo algum na cabeça. E, também, o número de mulheres que se interessam por eles.

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A mudança veio quando homens bem sucedidos e poderosos passaram a ser vistos convivendo bem com sua calvície. Para a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e autora do livro O corpo como capital, foi isso que deixou os homens mais seguros para assumir a sua careca.

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“Em toda e qualquer cultura, as pessoas imitam quem tem prestígio e poder. A partir do momento em que os homens veem esportistas, empresários e presidentes que vivem bem com suas carecas, ou que são carecas porque querem, eles entendem que existe outro padrão de beleza masculina que não somente o do homem cabeludo, barbudo e peludo”, diz a antropóloga ao site de VEJA. “O homem se sente mais livre com a sua careca ao ver, por exemplo, que um homem como David Beckham raspou o cabelo e escolheu ficar careca por um tempo. Saber que há pessoas de prestígio que escolheram estar assim alivia o sofrimento de quem não tem opção.”

Confiança – O ex-nadador Fernando Scherer, o Xuxa, dono de duas medalhas de bronze em Jogos Olímpicos (Atlanta-96 e Sidney-2000), é um nome importante na história do esporte brasileiro e um dos homens carecas de prestígio que, segundo Mirian, encorajam os homens a admitirem a calvície. Hoje é um careca bem resolvido, mas nem sempre foi assim.

“As pessoas sempre acharam que eu decidi raspar todo o meu cabelo por causa da natação. A primeira vez em que eu raspei o cabelo foi nas Olimpíadas de 1996, mas antes disso eu já tinha entradas no cabelo, as quais eu achava muito feias. Eu raspei para me ajudar no esporte, mas também para analisar como é que iria ficar esteticamente e ir me acostumando”, diz. “Hoje prefiro muito mais sem cabelo do que com.”

Na opinião de Xuxa, o charme do careca está na autenticidade e na confiança. “Acho que a partir do momento em que o homem é ele mesmo e se aceita daquela forma, ele fica mais charmoso. Eu acho que esse lado de estar mais confiante e da mudança de atitude dos homens em relação à calvície é o que mais chama a atenção das mulheres, e não o fato de ser careca em si.”

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Clube dos Carecas – O engenheiro de Florianópolis Marcus Vinicius Brito da Costa, de 41 anos, um dos fundadores do site Clube dos Carecas, está feliz com a sua aparência, mas também já foi um calvo insatisfeito. Ele começou a perder os fios de cabelo durante a faculdade e, a partir daí, iniciou-se uma saga pelo fim do problema. “Eu reclamava disso o tempo todo, pois era muito jovem, achava feio, as meninas não gostavam. Eu pesquisava os melhores tratamentos para calvície e testava as formas de esconder a careca. Usava boné o tempo todo e até cheguei a fazer um transplante que ficou horrível porque parecia que eu tinha colocado cabelo de boneca na minha cabeça”, diz.

Junto com outros dois amigos calvos, fundou o site sobre o assunto “para ver no que dava”. A página fez sucesso e ajudou Marcus a aceitar a sua careca. “Na verdade, hoje em dia eu só sou um careca assumido por causa do site. Com ele, eu passei a ter orgulho de ter ficado careca.”

Receptividade feminina – Sob o ponto de vista de Marcus, as mulheres, que antes desgostavam de sua careca na faculdade, hoje passaram a achar a sua careca atraente. “Elas acham os carecas charmosos e associam a calvície a esportistas e a homens vaidosos.” De acordo com Mirian Goldenberg, as mulheres deixaram de associar a calvície ao desleixo. “Hoje, elas preferem um homem careca a um barrigudo. O careca pode ser bonito e charmoso, mas a barriga tira a elegância do homem”, diz.

A auxiliar administrativa Luciane Sirotenco, de 22 anos, é um exemplo de mulheres que preferem os carecas – a maioria de seus relacionamentos foi com homens calvos. “Eu acho que os carecas se diferenciam por ter um estilo próprio. Ser careca é ser moderno, é sinônimo de uma personalidade forte e ousada, e é exatamente por isso que os carecas se tornam atraentes para mim: pela ousadia e pela atitude. E atitude é tudo que a gente a procura em um homem, né?”, diz. “Acho que os carecas de verdade são aqueles que realmente admitem a calvície e que criam todo um estilo em cima de algo que é natural.”

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“Ser careca virou sinônimo de estilo”

Marcos França

ator, dono do blog É dos carecas que elas gostam mais e autor da peça homônima, em cartaz no Rio de Janeiro

“Eu comecei a reunir umas histórias referentes aos carecas no que, na verdade, foi uma brincadeira para mim: fazer um blog para contar como foi esse processo de ir perdendo pelos. Foi muito sem pretensão e, de repente, quando vi, as pessoas estavam curtindo muito, rindo muito, achando engraçado. E a partir disso a gente fez uma comédia falando sobre essa ditadura da beleza: Por que as pessoas têm que ser enquadradas em um padrão? Têm que ter cabelo, têm que ser altas, têm que ser fortes…

“Muitas mulheres comentam no blog falando que nunca tiveram problema nenhum com carecas, dizendo que acham os carecas bonitos e charmosos. Os comentários são sempre muito positivos. Ser careca hoje em dia virou sinônimo de estilo. Tem muito galã de cinema que é careca: o Bruce Willis, o Vin Diesel; os atletas da moda, o Anderson Silva… São todos carecas, então virou um estilo mesmo, um jeito de ser.

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“Existia aquela coisa do preconceito antigamente. As pessoas tinham um olhar preconceituoso: o careca era mais velho, era mais feio. Mas hoje não. Acho que agora as pessoas raspam a cabeça por questão de estilo, até entre gente que não é careca. E isso está ligado também à liberdade que as pessoas têm com seus corpos hoje em dia: elas se tatuam, elas colocam piercings, existe essa liberdade. E a partir disso, vem essa história: por que eu não posso pintar meu cabelo de azul ou verde, e por que eu não posso simplesmente raspar e ficar sem?

“Sou completamente calvo. Não, não sou nem calvo, sou careca mesmo. Comecei a perder cabelo com 18, 19 anos de idade. Isso nunca é confortável para nenhum adolescente. Mas nunca foi um problema mesmo para mim. Na nossa peça, inclusive, tem um dos carecas [são quatro] que é desesperado para ter cabelo, ele é inconformado com o fato de não ter cabelos. E eu nunca fui assim. E por isso que eu fiz o blog: para mim é uma questão tão boba…

“Eu sou ator, e sempre tive muitos trabalhos por conta de ser careca. Acho que o careca passa uma imagem de credibilidade, sabe? Eu fazia muitos comerciais por essa questão. A minha imagem como careca transmitia uma maior credibilidade. É aquela coisa: se você vai a um médico e encontra um carequinha de óculos, ele passa credibilidade, mas se você olha um médico de rastafári, você vai ter dúvida. As pessoas ainda têm muito disso, ainda existe muito desse preconceito com a imagem. E o careca sempre teve essa coisa ligada a um cara mais velho, sábio, inteligente. A gente brinca na peça que todos os filósofos são carecas, Platão, Aristóteles, os grandes líderes espirituais também, como Gandhi, o Buda… Mas essa passagem de ter cabelo para não ter cabelo foi muito tranquila para mim.

“E não adianta ficar passando isso ou aquilo, colocando implante… É melhor você se assumir com o brilho que Deus lhe deu. Remédio para calvície é muito falho, além de que os que estão no mercado causam muitos efeitos adversos, inclusive na libido. Existem remédios que atacam diretamente na libido do homem, causando impotência e tudo o mais. E a gente fala que poxa, se o careca é muitas vezes ligado a essa coisa da testosterona e tudo o mais, por que tentar diminuir isso?”

*(Com reportagem de Mariana Janjacomo)

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