Primeiro caso e surto: os superfungos que preocupam hospitais brasileiros
Caso de microrganismo resistente foi confirmado no Brasil e, em hospital de São Paulo, Candida auris foi detectada em 15 pacientes; entenda

A presença de superfungos em ambientes hospitalares é sempre um sinal de alerta em função do alto potencial de transmissão, da resistência de alguns microrganismos aos tratamentos e do risco de levar a infecções fatais, por isso, há uma preocupação global. No Brasil, foi confirmada a primeira detecção do fungo altamente transmissível e resistente Trichophyton indotineae, um caso importado registrado em Piracicaba, no interior de São Paulo, mas que demonstra a importância da vigilância para patógenos dessa natureza. Na capital paulista, um surto do perigoso Candida auris foi detectado no Hospital do Servidor Público Estadual, afetando 15 pacientes que não evoluíram para quadros infecciosos.
O episódio no hospital de São Paulo ocorreu em janeiro deste ano, porém, só veio à tona na semana passada após reportagem do jornal Folha de S. Paulo, informação que foi confirmada por VEJA. O primeiro caso foi em um paciente de 73 anos que morreu por complicações cirúrgicas, segundo o Hospital do Servidor Público Estadual.
A partir da detecção, foram adotadas medidas de segurança, como colocar os pacientes em leitos individuais, e a higienização foi intensificada.
Coletas diárias foram realizadas e o hospital constatou a presença do superfungo em outros 14 pacientes que não apresentaram nenhum tipo de doença ou complicação relacionada com a Candida auris durante a internação, segundo a unidade. Os resultados dos testes foram compartilhados com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

“De acordo com o preconizado pelos órgãos de vigilância, a unidade segue realizando coletas mensais por seis meses para análise do cenário. Semanalmente, o HSPE se reúne com a Anvisa para relatar as ações e os resultados das coletas, reforçando as normas de controle de infecção em todo o hospital”, informou, em nota.
Primeiro caso de superfungo resistente
O caso inédito de Trichophyton indotineae não levou a novas infecções nem surtos hospitalares, mas foi publicado na edição de fevereiro do periódico Anais Brasileiros de Dermatologia por se tratar de um fungo que causa infecções contagiosas na pele e é resistente ao potente antifúngico terbinafina, de modo que se configura como um problema de saúde global.
O paciente relatado é um brasileiro de 40 anos morador de Londres que apresentou lesões nos membros inferiores e nádegas em janeiro do ano passado após viagens pela Europa no segundo semestre de 2023. O tratamento foi realizado em um hospital de Piracicaba e ao menos quatro ciclos de intervenções medicamentosas foram realizados até o grupo perder o contato com o paciente, que retornou para a Inglaterra.
“As caracterizações fenotípicas e genotípicas foram essenciais para o diagnóstico adequado e escolha terapêutica, mas a resistência à terbinafina complica as opções de tratamento e destaca a necessidade de melhor vigilância, estratégias de prevenção e abordagens terapêuticas alternativas”, escreveram os pesquisadores, ligados ao Laboratório de Virologia do Instituto de Medicina Tropical da Universidade de São Paulo (USP) e à Clínica Dermatológica do Hospital da Santa Casa de São Paulo.
O superfungo Candida auris
O primeiro caso de Candida auris foi detectado no Japão em 2009 e se espalhou por todos os continentes. No Brasil, a primeira infecção pelo fungo foi notificada em dezembro de 2020 na Bahia. O caso ocorreu com um homem então com 59 anos que estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI ). Em São Paulo, o primeiro caso foi registrado em junho de 2023.
A Candida auris difere dos demais tipos de Candida por ter alta transmissibilidade não só de pessoa para pessoa, mas do ambiente para humanos. Dessa forma, a pessoa pode se infectar após contato com itens hospitalares, como aparelhos de pressão, termômetros, estetoscópios, respiradores e aparelhos de hemodiálise.
Outra característica é a alta resistência a antifúngicos, o que atrapalha o tratamento de pessoas infectadas. Há ainda a dificuldade para diagnosticá-la pelos métodos disponíveis em laboratórios e o fato de ela poder colonizar as pessoas sem causar sintomas, facilitando a disseminação.