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Promessa contra o mau hálito: uma terapia à base de luz e corante de urucum

Trabalho brasileiro utiliza tratamento com LED azul e corante da planta nacional para combater halitose em crianças

Por Ricardo Muniz/ Agência Fapesp
Atualizado em 24 out 2024, 06h50 - Publicado em 24 out 2024, 06h45

Agência FAPESP – Estudo publicado na revista PLOS ONE demonstrou que a terapia fotodinâmica antimicrobiana utilizando corante de urucum e LED azul é uma opção viável e eficaz para o tratamento de mau hálito em crianças respiradoras bucais.

Quando o indivíduo respira pela boca, explicam os autores, a saliva pode evaporar com mais facilidade, reduzindo seu efeito antibacteriano e suas propriedades de limpeza, o que pode levar a um aumento significativo da halitose. O grupo de pesquisa selecionou 52 crianças de 6 a 12 anos respiradoras bucais com diagnóstico de halitose confirmado com um medidor portátil de baixo custo encontrado em lojas on-line (possibilitando que o protocolo de diagnóstico seja realizado facilmente por cirurgiões-dentistas em seus consultórios). Halitose é o termo que define qualquer odor ou mau cheiro proveniente da cavidade bucal, de origem local ou sistêmica.

O artigo descrevendo os resultados é resultado de pesquisa realizada por Laura Hermida Cardoso, aluna do Programa de Doutorado Interinstitucional (Dinter) promovido pela Universidade Nove de Julho e a Universidade Católica do Uruguai, em parceria com pesquisadores da Universidade Metropolitana de Santos.

A terapia fotodinâmica antimicrobiana (aPDT, na sigla em inglês) é um tratamento no qual é utilizado um agente fotossensibilizador que, na presença de luz, produz radicais livres de oxigênio, provocando a morte das bactérias. Embora o estudo tenha sido feito apenas com crianças, o método pode ser aplicado para o tratamento da halitose em indivíduos de todas as idades.

“Na pesquisa, o fotossensibilizador utilizado foi o urucum, que é vermelho, combinado com LED azul do aparelho fotopolimerizador que os dentistas já possuem em seus consultórios, o que facilita a adoção do protocolo”, diz a odontopediatra Sandra Kalil Bussadori, pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Medicina Biofotônica e Ciências da Reabilitação da Universidade Nove de Julho e coautora do artigo.

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Bussadori, que também é professora da Universidade Metropolitana de Santos e presidente da Associação Brasileira de Odontopediatria, conta que durante atendimentos percebeu que várias crianças e adolescentes apresentavam halitose. “Diante disso, começamos a estudar mais a fundo essa condição com o objetivo de desenvolver protocolos de tratamentos simples e eficazes”, afirma.

As pesquisas foram apoiadas pela FAPESP por meio de dois projetos (19/14229-6 e 22/16828-7).

Tratamento acessível

Segundo Bussadori, quando se fala em terapia fotodinâmica a primeira opção que vem à mente no meio acadêmico é o fotossensibilizador azul de metileno associado ao laser vermelho. “Mas por que não termos uma opção com um custo mais acessível para os profissionais de saúde? Foi aí que tive o insight para desenvolver um fotossensibilizador que pudesse ser utilizado com o aparelho LED fotopolimerizador que todos os dentistas já têm em seu consultório. Se o aparelho apresenta um LED azul, teríamos de desenvolver um corante vermelho e foi aí que pensei no urucum [Bixa orellana].”

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Após várias formulações, pesquisas in vitro e clínicas, Bussadori conseguiu desenvolver o Spray de Urucum, cuja patente foi deferida em 2020. O urucum (ou urucu) é o fruto do urucuzeiro ou urucueiro, que se torna vermelho quando maduro.

As 52 crianças que atenderam os critérios de inclusão da pesquisa foram instruídas por meio de palestra sobre como realizar a escovação com creme dental fluoretado e usar o fio dental três vezes ao dia após as refeições durante 30 dias. Essas crianças foram divididas em dois grupos. No primeiro foi aplicada terapia fotodinâmica antimicrobiana no terço médio do dorso da língua e, no segundo, foi utilizado raspador de língua.

Na sessão de aPDT, o fotossensibilizante de urucum foi misturado na concentração de 20% em forma de spray, aplicado em quantidade suficiente para cobrir o terço médio do dorso da língua (cinco borrifadas) e deixado por dois minutos para incubação. Seis pontos foram irradiados com distância de 1 centímetro (cm) entre os pontos, considerando a propagação da luz e a eficácia da aPDT. A luz foi irradiada para garantir uma área de feixe de 2 cm de diâmetro por ponto. O tempo de exposição foi de 20 segundos por ponto.

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Dados em relação à halitose e à saburra lingual foram obtidos antes e logo após o tratamento, bem como sete e 30 dias depois, analisados e comparados. A saburra lingual, de coloração branca ou amarelada, é composta principalmente por bactérias, metabólitos e restos alimentares que se acumulam geralmente na região posterior do dorso da língua. Vários estudos mostram uma correlação entre saburra lingual e concentração de compostos sulfurados voláteis produzidos pelas bactérias, levando ao mau hálito. Porém, na pesquisa coordenada por Bussadori não foi encontrada uma relação direta entre a presença de saburra na língua e o mau hálito nas crianças respiradoras bucais. “A principal causa do mau hálito nessas crianças parece ser o ressecamento da boca causado pela respiração bucal”, explica.

Nos dois grupos houve melhora significativa do mau hálito, mas o grupo que recebeu aPDT apresentou resultados ainda melhores.

A halitose é considerada um importante fator social, pois causa constrangimentos e interfere nas relações interpessoais. Além de gerar preocupações relacionadas à saúde física, pode, portanto, provocar alterações psicológicas, conduzindo a uma barreira social.

O artigo Assessment of photodynamic therapy with annatto and led for the treatment of halitosis in mouth-breathing children: Randomized controlled clinical trial pode ser lido em: https://journals.plos.org/plosone/article?id=10.1371/journal.pone.0307957.

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