Em uma revisão recente, publicada na revista científica Cell, pesquisadores aprofundaram as pesquisas sobre o impacto dos fatores de risco na evolução do câncer e seus mecanismos subjacentes.
Nela, os cientistas atestaram, por exemplo, que o câncer pode surgir por motivos intrínsecos ou não intrínsecos, ou seja, dentro ou fora do organismo, sendo alguns deles modificáveis. Também verificaram coisas importantes como as deformidades do ácido desoxirribonucleico (DNA) serem adquiridas durante os estágios iniciais e a existência de moléculas biológicas que, se reconhecidas, podem conter o crescimento excessivo das células tumorais, e assim, reduzir a morbidade e a mortalidade associadas ao câncer.
Os pesquisadores também ressaltaram a importância de melhorar a compreensão médica da doença pelos caminhos da carcinogênese – processo de formação do tumor – para ajudar na identificação de indivíduos de alto risco e revelar prováveis alvos moleculares para a prevenção da doença.
O estudo elucida ainda fatores externos como os poluentes do ar e a fumaça (incluindo fumo passivo) como principais causadores de tumores no pulmão, brônquio e traqueia; o tabagismo associado aos cânceres em órgãos respiratórios e desenvolvimento de tumores no fígado, rim, sistema urinário, trato gastrointestinal e leucemia mielóide aguda; a obesidade, a má nutrição e a ingestão excessiva de álcool como motivos de cânceres gástricos; e a radiação ultravioleta como a grande vilã contra a pele, sendo o maior fator de risco para a formação de melanoma cutâneo.
A ação de vírus e bactérias para a formação de tumores também aparece no estudo. O papilomavírus humano (HPV), por exemplo, é citado não só como agente causador do câncer de cólo de útero, mas também como um fator que pode aumentar o risco de tumores cervicais e maxilofaciais. As infecções por Helicobacter pylori aparecem como agentes promotoras de câncer gástrico, assim como o vírus Epstein-Barr (EBV) que pode originar linfomas, tumores nasofaríngeos e gástricos; e as infecções por hepatite B e C, que potencializam os cânceres hepáticos.
Abordagens para prevenir o câncer
De acordo com a revisão, esses mecanismos de formação e promoção do tumor podem ser direcionados para prevenir o câncer já que as estratégias de precaução dependem de intervenções e da relação risco-benefício para a aplicação em indivíduos de alto risco.
A cessação do tabagismo, por exemplo, pode interromper a assimilação de alterações genômicas e diminuir a inflamação do tecido e a proliferação celular, permitindo assim a recolonização gradual do tecido por células com baixa carga mutacional.
Mudanças no estilo de vida, como melhorias na dieta, especialmente para indivíduos obesos, podem reduzir o risco de câncer de endométrio, colorretal e de mama, assim como algumas terapias anti -interleucina-1 (IL-1) – um importante agente do grupo das citocinas que media a resposta imune contra invasão bacteriana, inflamação, infecções e lesões teciduais – podem ajudar na prevenção do câncer de pulmão, reduzindo a inflamação associada ao tumor.
De acordo com a revisão, as vacinas e remédios também são alternativas eficazes para precaver certos tipos de câncer. Tanto os imunizantes contra o HPV quanto os que previnem a hepatite B, por exemplo, promovem uma vigilância imunológica importante contra a eliminação de células mutantes. Já as vacinas de mucina-1 e receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) previnem a evasão imune pelas células tumorais. Antibióticos usados para controlar infecções por H. pylori podem ajudar a prevenir o câncer gástrico, assim como anti-inflamatórios como a aspirina podem auxilixar na prevenção contra o câncer de esôfago e colorretal em indivíduos suscetíveis.