O Ministério da Saúde da República Democrática do Congo declarou nesta terça-feira 24 o fim do surto de ebola. Ao todo, foram registrados 53 casos da doença — 38 confirmados e quinze prováveis —, com 29 mortes. A implantação de uma vacina experimental e de outras medidas adotadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), por autoridades congolesas e por entidades internacionais foram capazes de conter o avanço da doença.
A declaração acontece 42 dias após o último caso detectado, número que representa dois períodos de incubação do vírus. Normalmente, o fim de um surto de ebola é declarado depois que amostras de sangue do último caso confirmado recebem resultado negativo pela segunda vez.
Contenção
Apesar de ter registrado o primeiro caso em abril, o surto de ebola, que começou na região de Bikoro, foi declarado em 8 de maio, quando o país passou a apresentar 21 casos de febre com sinais hemorrágicos e dezessete mortes no local.
Um dia após a declaração, a OMS enviou equipes ao país para auxiliar as organizações de saúde locais. Para conter o surto, a entidade sugeriu a aplicação de uma vacina experimental, que foi autorizada pelo governo congolês. Alguns dias depois, 4.000 doses foram enviadas para Kinshasa, capital do país africano, imunizando cerca de 3.300 pessoas.
Entre as preocupações das autoridades de saúde estava a propagação do vírus através das rotas de transporte fluviais, assim como a chegada do vírus aos países vizinhos. A vacina ajudou a conter o impacto do vírus, mesmo quando chegou à cidade de Mbandaka, que tem uma população de 1,5 milhões de habitantes, além de ligações aéreas e fluviais com a capital congolesa.
A epidemia mais importante da história aconteceu no oeste da África entre 2013 e 2016, com 11.300 mortos em um total de 29.000 casos, em sua grande maioria na Guiné, Libéria e Serra Leoa.
Importância da vacina
De acordo com Peter Salama, epidemiologista médico e vice-diretor-geral de preparação e resposta a emergências da OMS, a vacina fez uma enorme diferença no controle do ebola e pode ser extremamente importante em possíveis surtos futuros. A vacina foi aplicada em profissionais de saúde que lidavam diretamente com os infectados, em pessoas que tiveram contato com pacientes (vivos ou mortos), assim como quem teve contato com indivíduos que se aproximaram dos infectados. O imunizante ainda está em fase de testes para que a empresa fabricante possa verificar seu potencial.
No entanto, mesmo a vacinação oferecia dificuldades: a vacina tinha que ser mantida entre 60 graus e 80 graus negativos em partes remotas de um país úmido com fontes de energia não confiáveis. Apesar disso — e das mortes —, a contenção deste último surto, o nono no Congo desde que o vírus foi detectado perto do Rio Ebola nos anos 1970, foi considerado um sucesso.
Diante dos resultados no controle do surto, acredita-se que as entidades de saúde estejam mais preparadas para enfrentar o problema. “Já podemos dizer que contribuímos para melhorar os sistemas de vigilância e, da próxima vez, teremos protocolos para vacinas e terapias. Outro legado é a capacitação, como o treinamento de vacinadores que agora não só poderão responder internamente, mas também ajudar países vizinhos”, disse Tarik Jašarević, porta-voz da OMS, em e-mail à CNN.
Ebola
O ebola é um vírus da família dos Filoviridae, de estrutura extremamente simples, mas altamente agressivo ao organismo humano. Ele é formado de material genético envolto por uma cápsula de proteína. Como todos os vírus, o ebola é incapaz de se reproduzir sozinho. Ele escraviza o organismo hospedeiro de modo a replicar seu próprio genoma e produzir novos vírus
O provável hospedeiro natural do ebola é o morcego que se alimenta de frutas, comum praticamente em toda a África. A transmissão da doença ocorre pelo contato com fluidos de pessoas infectadas, especialmente sangue, vômito e fezes. A saliva e a lágrima podem conter o ebola, mas ainda não se conhece seu potencial de infecção.
Em 90% dos casos, os primeiros sinais da doença — febre, mal-estar, diarreia, náusea e vômito — aparecem dez dias após a contaminação. Nos estágios mais avançados, o paciente sangra pelos olhos, ouvidos, nariz, boca e reto. Em 50% dos casos o ebola é fatal. A causa da morte está relacionada à falência de múltiplos órgãos ou choque decorrente de infecção severa. Não há cura, é preciso aguardar o vírus sair do organismo. O tratamento inclui reidratação e controle dos sintomas e do metabolismo do doente.