Remédio contra obesidade é aprovado para risco cardiovascular nos EUA
Wegovy, ainda não disponível no Brasil, foi liberado pela FDA para evitar ataques cardíacos e acidente vascular cerebral em adultos
Indicada para o tratamento da obesidade, a semaglutida 2,4 mg, de nome comercial Wegovy, recebeu aprovação nos Estados Unidos para reduzir o risco de complicações e morte por doenças cardiovasculares, como ataque cardíaco e acidente vascular cerebral (AVC), em adultos que vivem com sobrepeso ou obesidade. A aprovação da Food and Drug Administration (FDA), agência regulatória americana, considerou estudo que apontou que o medicamento da farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk é capaz de diminuir em 20% o risco de eventos cardiovasculares graves por um período de até cinco anos.
Em nota publicada na última sexta-feira, 8, John Sharretts, diretor da Divisão de Diabetes, Distúrbios Lipídicos e Obesidade no Centro de Avaliação e Pesquisa de Medicamentos da FDA, afirmou que o fármaco é o “primeiro medicamento para perda de peso a ser aprovado também para ajudar a prevenir eventos cardiovasculares potencialmente fatais”. A agência recomenda que o tratamento inclua uma dieta de baixa caloria e aumento da prática de atividades físicas.
“Esta população de pacientes apresenta maior risco de morte cardiovascular, ataque cardíaco e acidente vascular cerebral. Fornecer uma opção de tratamento que comprovadamente reduz esse risco cardiovascular é um grande avanço para a saúde pública”, completou.
Segundo a FDA, entre os voluntários que receberam o medicamento, a redução do risco de eventos cardiovasculares foi de 6,5%. No grupo placebo, foi de 8%.
“Os dados demonstraram que Wegovy tem o potencial de prolongar vidas, abordando algumas das principais causas de mortes evitáveis, reduzindo os riscos de eventos cardiovasculares”, disse, em comunicado, Martin Holst Lange, vice-presidente executivo e chefe de Desenvolvimento da farmacêutica dinamarquesa.
A semaglutida faz parte de uma classe de medicamentos que estão entre as apostas dos cientistas como potente arma contra a obesidade: as substâncias que atuam nos receptores de hormônios produzidos pelos intestinos, como o GLP-1, ligado à regulação do apetite e redutor do ritmo de esvaziamento do estômago, aumentando, assim, a duração da sensação de saciedade. Entre os efeitos colaterais, estão: alterações gastrointestinais, como náuseas, diarreia, vômitos, constipação e dores abdominais.
Estudos com Wegovy
O estudo que embasou a aprovação, chamado Select, foi divulgado em agosto do ano passado e teve início em 2018 com 17,6 mil pacientes com mais de 45 anos e sobrepeso ou obesidade, além de doença cardiovascular estabelecida, mas sem diagnóstico de diabetes tipo 2.
Os pesquisadores compararam a aplicação subcutânea semanal de semaglutida 2,4 mg com placebo em uma análise realizada em 41 países em mais de 800 centros de investigação. No Brasil, 600 voluntários participaram do ensaio. A ideia era avaliar se a droga teria efeito protetor contra eventos cardiovasculares adversos graves (MACEs, na sigla em inglês).
No mesmo mês, a Novo Nordisk divulgou outro ensaio apontando que a droga reduziu sintomas de insuficiência cardíaca em pacientes que, além da doença, vivem com obesidade. As injeções semanais aplicadas ao longo de um ano melhoraram quadros de fadiga, limitações físicas, tolerância ao exercício e inchaço nas extremidades do corpo.
Wegovy no Brasil
No Brasil, o medicamento foi aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) apenas para pessoas com sobrepeso (e comorbidades) e obesidade em janeiro do ano passado. No entanto, com a alta demanda e para evitar o risco de desabastecimento, a farmacêutica ainda não informou quando ele estará disponível no país.
Segundo a empresa dinamarquesa, testes apontaram que o medicamento foi capaz de reduzir o peso corporal em até 17% em 68 semanas. Ainda de acordo com a empresa, o tratamento – feito com injeções semanais – ajudou na redução de 20% do peso corporal de uma em cada três pessoas e 83,5% dos pacientes apresentaram queda no peso igual ou superior a 5%.
Semaglutida para outras doenças
A semaglutida também está sendo investigada em estudos para o tratamento de outras condições, como Doença de Alzheimer, controle do alcoolismo e redução da gordura no fígado.
Neste mês, o estudo Flow apontou que a semaglutida 1 mg (Ozempic) é capaz de reduzir em 24% o risco de doenças renais em pacientes com diabetes tipo 2. Segundo a empresa, a doença renal crônica está presente em 40% dos pacientes que vivem com diabetes, por isso, solicitou expansão da bula do Ozempic nos Estados Unidos e na União Europeia.
Ensaios têm demonstrado resultados animadores para problemas metabólicos causados por tratamentos antirretrovirais indicados para pessoas que vivem com o HIV. Um artigo publicado nesta segunda-feira, 11, na revista científica Nature mostrou resultados para perda de peso e diminuição da esteatose hepática (gordura no fígado). De acordo com o ensaio clínico de fase 2, realizado nos Estados Unidos e no Brasil, houve redução de gordura no fígado em 31% dos voluntários, dos quais 29% apresentaram resolução do quadro, atingindo níveis adequados para a saúde.