Remédio que reduz em 63% coceira por doença crônica é nova opção de tratamento no Brasil
Imunobiológico indicado para urticária crônica espontânea controlou a doença em 31% dos pacientes; droga é indicada para pessoas a partir de 12 anos

Doença que afeta mais de 1 milhão de pessoas no Brasil, principalmente mulheres de 30 a 50 anos, a urticária crônica espontânea (UCE) poderá ser tratada com um imunobiológico recém-aprovado no Brasil após dez anos sem novas terapias para tratar o problema. Trata-se do dupilumabe, de nome comercial Dupixent, da farmacêutica Sanofi, que é capaz de reduzir em até 63% a coceira que afeta os pacientes e também demonstrou capacidade de controlar a condição em 31% dos voluntários que participaram de um estudo de fase 3.
A UCE é uma doença inflamatória de causa autoimune que atinge a pele e causa manchas avermelhadas (urticas), inchaço súbito e deformante nas pálpebras, lábios e extremidades (angioedema) e coceira, de acordo com Luis Felipe Ensina, alergista e imunologista e Coordenador do Centro de Referência e Excelência em Urticária da Universidade Federal de São Paulo.
As lesões podem ser doloridas e os sintomas superam seis semanas de duração. O novo tratamento é indicado para adolescentes com mais de 12 anos e adultos que não responderam a tratamentos convencionais, como o uso de anti-histamínicos de segunda geração (os anti-histamínicos H1).
“Entre os benefícios dessa medicação em relação às existentes, ele tem a vantagem de não depender de determinados biomarcadores e pode ser benéfico para quem tem outras doenças associadas que também respondem a ele, como dermatite atópica e asma”, diz o especialista.
Estudos apontam que o tratamento atual consegue controlar a doença em menos da metade dos pacientes, apenas 39%, de modo que os demais continuam sofrendo com os impactos da coceira constante.
“O imunobiológico tem um mecanismo de ação diferente dos demais, agindo diretamente na causa da inflamação tipo 2, presente em muitos casos da doença, mas, até então, sem uma terapia personalizada disponível”, explica Daniela Carlini, líder médica de imunologia da Sanofi Brasil.
Tratamento demonstrou segurança
No ensaio clínico de fase 3, segundo a farmacêutica, o dupilumabe demostrou o mesmo grau de segurança constatado nos testes para outras indicações já aprovadas em mais de 60 países, como dermatite atópica, asma e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), esofagite eosinofílica e rinossinusite crônica com pólipos nasais.
“Ele mostrou ser muito seguros para pacientes com urticária com praticamente nenhum evento adverso diferente dos observados com os tratados com placebo. Em outras doenças imunoalérgicas, ele é muito seguro”, afirma Ensina.
Em relação à eficácia com o anticorpo monoclonal humano para urticária crônica espontânea, os desfechos positivos foram constatados em testes que duraram 24 semanas. Para UCE, o medicamento já é indicado nos Estados Unidos, Japão e Emirados Árabes Unidos.
A Sanofi pretende solicitar incorporação do medicamento tanto na rede privada quanto no Sistema Único de Saúde (SUS). “O dupilumabe já está incorporado no SUS para o tratamento de dermatite atópica em crianças a partir dos 6 meses até 12 anos de idade incompletos, e para o tratamento de asma grave para todos os pacientes a partir dos 6 anos de idade. Já no rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), ambas as indicações estão incorporadas para todas as faixas etárias. Continuaremos trabalhando em conjunto com as entidades públicas e privadas para que a nova indicação de urticária crônica espontânea”, afirma Daniela.