O número de casos de sarampo disparou globalmente no último ano. De acordo com um relatório publicado recentemente Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês), entre 2016 e 2017, subiu mais de 30% no mundo.
De acordo com o relatório, diversas regiões ao redor do planeta registraram surtos da doença devido a problemas na cobertura vacinal, causada especialmente pela circulação de informações falsas, as famosas fake news, que provocam desconfiança a respeito da eficácia do imunizante. O documento relatou 173.000 casos de sarampo no mundo, com 110.000 mortes registradas em 2017. Os maiores aumentos da doença foram registrados nas Américas, na região do Mediterrâneo Oriental e na Europa.
O Brasil é um dos países em que houve aumento nos números do sarampo: foram 10.163 casos desde o início de 2018. Segundo boletim recente do Ministério da Saúde, três estados informaram mortes por causa da doença: Roraima (4) e Amazonas (6) – estados onde há dois surtos em andamento – e Pará (2). Os surtos ocorridos no país estão associados à importação do genótipo do vírus (D8) da Venezuela, país vizinho com um alto número de casos desde o ano passado.
Cobertura vacinal
Segundo a OMS, a cobertura vacinal da primeira dose aumentou globalmente de 72% para 85% entre 2000 e 2017. Para a segunda dose, a taxa foi mais significativa: em 2000, eram 15%; em 2017, 67%. Apesar do crescimento, o número ainda está longe da meta de 95% necessária para a prevenção de surtos. A campanha de vacinação no Brasil, que aconteceu em agosto, alcançou a meta (95,3% para sarampo e 95,4% para a pólio), após inúmeras prorrogações do prazo final.
Os novos dados revelam que desde 2006, apenas a região do Pacífico Ocidental, que inclui Austrália e Japão, conseguiu alcançar e sustentar 95% ou mais de cobertura da primeira dose da vacina contra o sarampo. Essa mesma região também foi a única a relatar diminuição nos casos da doença entre 2016 e 2017. Apesar de ter estagnado em todo o mundo por quase uma década, a vacinação contra o sarampo conseguiu prevenir cerca de 21,1 milhões de mortes entre 2000 e 2017.
“É necessário aumentar a cobertura da vacina e identificar populações com crianças que não tenham sido imunizadas ou que não tenham recebido a segunda dose. Se isso não for feito, corremos o risco de perder décadas de progresso na proteção de crianças e comunidades contra uma doença devastadora que pode ser facilmente evitada”, alertou Soumya Swaminathan, vice-diretor geral da OMS, em comunicado.
Restabelecimento da doença
Um dos motivos para a baixa adesão à vacina e o registro de novos surtos está associada às fake news sobre o imunizante. “A condescendência sobre a necessidade da vacina, a propagação de informações errôneas sobre o imunizante na Europa, o colapso do sistema de saúde da Venezuela e a baixa cobertura vacinal na África são fatores que, juntos, podem trazer de volta o sarampo e destruir décadas de progresso”, comentou Seth Berkley, CEO da Gavi, a Aliança da Vacina, à CNN.
De acordo com o relatório, no ano passado, a região da Europa declarou que o vírus do sarampo voltou a se estabelecer na Rússia e na Alemanha. Já na Itália, onde a população tem fortes opiniões anti-vacina, o sarampo se tornou uma preocupação de saúde pública. Em outros 37 países europeus ainda não foram registrados casos da doença. A disseminação de informações falsas e a desconfiança sobre a eficácia da vacina também tem se tornado um problema para a imunização na América Latina.
Em entrevista ao The Independent, Ann Lindstrand, que trabalha para a OMS, disse que a vacina é segura e deve ser oferecida para os grupos de risco.
Sarampo
O sarampo é uma doença infectocontagiosa grave, altamente transmissível. O contágio acontece através de secreções respiratórias. O período de incubação do vírus varia de oito a doze dias e a transmissão inicia-se antes do aparecimento da doença, perdurando até o quarto dia após o aparecimento das erupções.
Os sintomas incluem indisposição inicial, com duração de três a cinco dias, febre alta, mal-estar, coriza, conjuntivite, tosse e falta de apetite. Nesse período, manchas brancas características da doença podem ser observadas na face interna das bochechas. As manchas vermelhas na pele iniciam-se atrás da orelha e se espalham para a face, pescoço, membros superiores, tronco e membros inferiores. A febre persiste com o aparecimento do exantema (manchas).
As complicações mais comuns são: otite média aguda, pneumonia bacteriana, laringite e laringotraqueite. Em casos mais raros há manifestações neurológicas, doenças cardíacas, miocardite, pericardite e panencefalite esclerosante subaguda (complicação rara que acomete o sistema nervoso central após sete anos da doença).
O tratamento é sintomático e podem ser utilizados antitérmicos, hidratação oral, terapia nutricional com incentivo ao aleitamento materno e higiene adequada dos olhos, pele e vias aéreas superiores. A vacina é a forma mais eficaz de prevenção.
Poliomielite
Outra doença que preocupa a OMS é a poliomielite. De acordo com a entidade, a disseminação da doença ainda precisa ser considerada uma emergência de saúde pública. Isso porque, apesar dos avanços significativos para erradicar a doença, esse progresso ainda é frágil.
Dados da entidade indicam que houve 27 casos da poliomielite selvagem em 2018 – todos no Paquistão e no Afeganistão, países onde a doença é endêmica. “Estamos tão perto da eliminação da pólio, mas temos que usar todas as nossas ferramentas internacionais para atingir esse fim”, disse Helen Rees, chefe do Comitê Internacional de Emergência da OMS, disse a Reuters.
A poliomielite, também chamada de pólio ou paralisia infantil, é uma doença infectocontagiosa, provocada pelo poliovírus, um vírus que vive no intestino. Apesar de ser uma doença mais frequente em crianças menores de 4 anos, também pode ocorrer em adultos. A maior parte das infecções apresenta poucos sintomas, que costumam ser parecidos com os da gripe, com febre e dor de garganta, ou sintomas de infecções gastrintestinais, como náusea, vômito, constipação, dor abdominal e, raramente, diarreia.
No entanto, cerca de 1% dos infectados pelo vírus pode desenvolver a forma paralítica da doença, em que há risco de sequelas permanentes, insuficiência respiratória e, em alguns casos, leva à morte. Em geral, a paralisia se manifesta em apenas um dos membros inferiores, apresentando perda da força muscular e dos reflexos, com manutenção da sensibilidade no membro atingido.