RIO DE JANEIRO* — Uma idosa recebe um pedido para pegar uma caneta que está na mão da médica a poucos centímetros do seu rosto e tateia o ar como se nada enxergasse. Após alguns segundos recebendo a solicitação, finalmente alcança o objeto e se dá conta de quão perto ele estava. O que poderia parecer um exame de visão era, na verdade, um teste para verificação de formas típicas da doença de Alzheimer que podem se manifestar com sintomas diferentes dos clássicos, como perda de memória, irritação e desorientação. O vídeo que mostrou essa cena foi apresentado em uma das sessões do Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções, evento sobre neurociências que reúne mais de 5.000 especialistas até o próximo sábado, 29, na capital fluminense.
As manifestações atípicas do Alzheimer aparecem em 15% dos casos e podem desencadear ainda problemas de linguagem, como dificuldade de compreensão de frases longas ou de falar corretamente algumas palavras, mas são os sintomas que afetam a visão — caso da atrofia cortical posterior — que mais causam confusão.
“Os pacientes vão ao oftalmologista e até podem ter alguma dificuldade para enxergar. Alguns chegam a fazer cirurgia para catarata, mas, depois, percebe-se que o problema não é ocular”, explica a neurologista Elisa Resende, professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Casos precoces
Uma das características dos episódios atípicos do Alzheimer é que eles se manifestam de forma precoce, na faixa abaixo dos 65 anos. Somente depois de um período que vai de dois a três anos é que os sintomas mais conhecidos da doença, que impactam a atividade cognitiva, começam a aparecer. “A biologia da doença é a mesma”, diz Elisa.
Por esse motivo, quando esse tipo de quadro é diagnosticado, o tratamento segue a mesma linha das terapias para o Alzheimer, inclusive no que diz respeito às medicações. E é importante que o diagnóstico seja precoce para que o acompanhamento do paciente tenha início. “Os oftalmologistas precisam ser rápidos para perceber esses sintomas e encaminhar para um neurologista.”
Dessa forma, a prevenção em pacientes mais jovens também deve se basear nos métodos mais conhecidos para evitar a doença. “Isso se faz com mudanças no estilo de vida, redução do consumo de alimentos industrializados, diminuição de açúcar e carboidratos, prática de exercício físico regular, além da estimulação cognitiva com leitura, aprendizado de línguas e as tradicionais palavras-cruzadas.”
Alzheimer e demências
A doença de Alzheimer é o tipo de demência mais comum e corresponde a até 70% dos casos, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), que estima que mais de 55 milhões de pessoas no mundo apresentam alguma forma de demência. Os pacientes apresentam mudanças no humor e no comportamento.
A doença compromete também a independência dos idosos, que passam a necessitar de suporte para a realização de atividades do dia a dia, como locomover-se, ir ao banheiro e alimentar-se. A condição neurodegenerativa é progressiva e fatal. Veja os principais sintomas:
- Falta de memória para acontecimentos recentes;
- Repetição da mesma pergunta várias vezes;
- Dificuldade para acompanhar conversas ou pensamentos complexos;
- Incapacidade de elaborar estratégias para resolver problemas;
- Dificuldade para dirigir automóvel e encontrar caminhos conhecidos;
- Dificuldade para encontrar palavras que exprimam ideias ou sentimentos pessoais;
- Irritabilidade, suspeição injustificada, agressividade, passividade;
- Interpretações erradas de estímulos visuais ou auditivos
- Tendência ao isolamento
Fonte: Ministério da Saúde
* A repórter viajou a convite do Congresso Brain 2024: Cérebro, Comportamento e Emoções