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Técnica usada em bovinos tem sucesso em análise de fertilidade masculina

Pesquisadores brasileiros observaram simultaneamente diferentes características de espermatozoides humanos e atestaram seu potencial

Por Julia Moióli, da Agência Fapesp
Atualizado em 4 jun 2024, 10h43 - Publicado em 8 Maio 2023, 11h21
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  • A técnica de citometria de fluxo, já adotada por especialistas em reprodução animal, pode ser usada para analisar também espermatozoides humanos e prever o potencial de fertilidade masculina com mais exatidão do que os métodos tradicionais. A conclusão é de um estudo publicado na revista Reproductive Toxicology.

    No campus de Botucatu da Universidade Estadual Paulista (Unesp), pesquisadores testaram com sucesso a citometria de fluxo para a realização de análises funcionais do espermatozoide. Segundo os autores, esse tipo de análise com células humanas é inédito na literatura científica.

    Com auxílio de um aparelho de detecção óptico-eletrônico equipado com lasers que excitam proteínas específicas chamadas fluoróforos e filtros que detectam essa emissão de fluorescência em diferentes cores que podem avaliar diferentes características das células ligadas à fertilidade, foi possível observar pontos como: integridade e estabilidade da membrana plasmática do espermatozoide, fundamental para sua sobrevivência no ambiente genital feminino e ligação com as células reprodutivas da mulher; status do acrossomo, estrutura presente no espermatozoide que auxilia sua penetração no ovócito (como é chamado o gameta feminino antes da fecundação) durante o processo de fertilização; potencial mitocondrial, que gera a energia usada para o batimento do flagelo ao passar pelo sistema genital feminino; e produção de ânion superóxido na matriz mitocondrial, que, apesar de ser um composto oxidante fundamental para o processo de capacitação e ligação do espermatozoide ao óvulo, em excesso é prejudicial – tudo com apenas uma amostra.

    Em queda contínua nas últimas décadas, a contagem de espermatozoides vem influenciando o declínio no número de nascimentos. A avaliação clínica dessas células é essencial tanto para identificar casos de infertilidade quanto para trabalhar com biotécnicas de reprodução, como fertilização in vitro e ISCI (injeção intracitoplasmática de espermatozoides), método de fecundação em que o gameta masculino selecionado é injetado diretamente no ovócito maduro com uma agulha fina.

    Essa avaliação é habitualmente feita por técnicas de microscopia, mas há um obstáculo: a impossibilidade de testar vários atributos simultaneamente em uma única célula, o que prejudica sua precisão analítica. No mais recente manual (2021) para exame e processamento do sêmen humano da Organização Mundial da Saúde (OMS), a avaliação convencional do espermatozoide realizada em laboratórios clínicos (espermograma) foi classificada como incapaz de predizer com precisão o potencial fértil de um homem e, dessa forma, muitos casos permanecem como idiopáticos (sem causa definida).

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    “No microscópio, conseguimos contar um número pequeno de células – em torno de 100 ou 200 por amostra –, enquanto em um citômetro de fluxo isso sobe para no mínimo 20 mil células”, diz Josiane de Lima Rosa, que divide com a pesquisadora Camila de Paula Freitas Dell’Aqua a primeira autoria do estudo, conduzido com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

    “Isso nos permite observar mais de uma parte do espermatozoide ao mesmo tempo, garantindo uma precisão muito maior ao exame e o encaminhamento para tratamentos mais específicos e assertivos.”

    Segundo Camila, os resultados desse estudo, somados à experiência prévia na medicina veterinária em centrais que trabalham com sêmen bovino, apresentam uma nova possibilidade de aplicação da citometria de fluxo também em laboratórios de reprodução humana.

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    Para possibilitar que o protocolo de análise desenvolvido seja usado mais amplamente, os pesquisadores utilizaram no estudo dois tipos de citômetros – um mais robusto, com três lasers (vermelho, azul e violeta), e um mais simples, com dois lasers.

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    Além de viabilizar o uso de uma técnica mais eficaz de análise de fertilidade, a ideia dos pesquisadores é que o trabalho estimule a aproximação e a troca de informações entre profissionais de medicina e de veterinária, possibilitando o desenvolvimento de novos procedimentos.

    “Por exigir menor rigor bioético na obtenção de amostras, a veterinária tem mais facilidade para realizar novos testes e buscar alternativas em outras ferramentas e isso pode ser passado translacionalmente para a medicina humana”, acredita Fabiana Ferreira de Souza, professora do Departamento de Cirurgia Veterinária e Reprodução Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da Unesp. “A união entre as duas áreas é essencial para obtermos avanços.”

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