Realizar testes em massa é fundamental para entender a dimensão da disseminação do novo coronavírus no país e iniciar, de forma segura, o relaxamento do distanciamento social. Para ajudar a colocar essa estratégia em prática, além dos testes RT-PCR, que são realizados desde o início da pandemia, começam a ser feitos exames rápidos e testes sorológicos. Mas, afinal, como funcionam esses testes? Eles são confiáveis?
O teste RT-PCR é considerado o padrão-ouro no diagnóstico de infecção pelo novo coronavírus. Ele é baseado em biologia molecular e funciona procurando fragmento do vírus no corpo. Por isso, ele identifica o novo coronavírus no início da infecção, ou seja, no período em que ainda está agindo no organismo. A análise é feita a partir de uma amostra de secreções colhidas da mucosa do fundo do nariz ou da garganta com uso de uma haste flexível, o famoso swab. Essa técnica é considerada o padrão-outro devido à sua alta especificidade e sensibilidade. Isso significa que ela dificilmente apresenta falsos negativos.
Já os testes sorológicos e maioria dos testes rápidos identificam a resposta do corpo à infecção pelo novo coronavírus. Ou seja, eles procuram anticorpos produzidos pelo organismo e são indicados para uma fase mais tardia da infecção – pelo menos dez dias após o início dos sintomas. No entanto, há dúvidas sobre o quanto o resultado destes testes é confiável.
Nos Estados Unidos, uma pesquisa de mais de 50 cientistas decidiu verificar se 14 testes de anticorpos contra o coronavírus aprovados no país realmente fornecem resultados precisos, de acordo com informações do The New York Times. A pesquisa, publicada na sexta-feira 24, mostrou que dos 14 testes, apenas três apresentaram resultados confiáveis.
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Entre esses, apenas um dos testes nunca apresentou o chamado falso positivo, que significa sinalizar erroneamente a presença de anticorpos em pessoas que não os possuíam. Os outros dois não apresentaram resultados falso-positivos em 99% das vezes. Essa métrica é particularmente importante, pois pode colocar pessoas vulneráveis em risco. Se as pessoas fizerem um desses testes e receberam um resultado falso-positivo, elas acreditarão que estão imunes ao vírus e podem abandonar o distanciamento social e outras medidas de proteção, e dessa forma colocar-se em risco e também outras pessoas.
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Clique e Assine“Você n��o quer que ninguém volte ao trabalho com um falso positivo – essa é a última coisa que você quer fazer”, disse Florian Krammer, pesquisador da Escola de Medicina Icahn em Monte Sinai, nos Estados Unidos, ao The New York Times.
Já no caso do falso negativo – não identificar a presença de anticorpos quando a pessoa os possuí -, os três testes apresentaram uma precisão de, no máximo, 90%. Os testes apresentaram maior probabilidade de diagnóstico errado ao procurar um anticorpo transitório, chamado IgM, que surge logo após a infecção. Já na procura pelo IgG, um anticorpo que surge mais tarde e sinalizar imunidade em longo prazo, os resultados foram mais confiáveis.O melhor desempenho foi obtido quando os dois tipos de anticorpos foram avaliados juntos.
Vale ressaltar que o resultado positivo de um teste rápido ou sorológico não significa que uma pessoa está protegida contra reinfecção. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), “atualmente não há evidências de que as pessoas que se recuperaram do Covid-19 e possuam anticorpos estejam protegidas contra uma segunda infecção”, conclui.
Vale ressaltar que, como a maioria dos estudos realizados e publicados sobre coronavírus, esse ainda não foi revisado por pares e está sujeito a possíveis falhas. Entretanto, o microbiologista Scott Hensley, da Universidade da Pensilvânia, acredita que o estudo foi bem elaborado e os resultados vem em boa hora, prementes, dada a proliferação de testes de anticorpos e a pressão para usá-los para suspender as medidas de distanciamento social. “Acho que esse é exatamente o tipo de estudo que precisamos agora”, disse ao The New York Times.
De acordo com a Anvisa, entre 18 de março e 16 de abril,foram recebidas 157 solicitações de registro de testes para detecção de doenças como a Covid-19, das quais 39 foram aprovadas. Destes, 21 são testes rápidos.